Por Lucia Helena Camargo | Enquanto tramitam no Congresso projetos de lei que visam banir sacolas plásticas, diversos municípios já impõem algum tipo de restrição a seu uso. Entre as capitais, apenas Boa Vista e Porto Velho não contam com leis sobre o assunto. A cidade de São Paulo regulamenta a questão desde 2011, e em 2023 foi vetada a distribuição de sacolas plásticas que não sejam recicláveis ou compostáveis no município. Estabelecimentos que cobram pelas sacolas estão proibidos de estampar nelas qualquer logotipo.
O tema é caro ao setor supermercadista, o maior distribuidor das sacolinhas para os consumidores. “Um dos problemas causados pelas sacolas plásticas era que contribuíam para o agravamento das enchentes, já que entupiam bueiros, ao serem usadas como sacos de lixo e jogadas nas ruas. As sacolas traziam a marca dos supermercados, causando uma repercussão muito negativa”, lembra Carlos Correa, diretor geral da Associação Paulista de Supermercados (Apas), entidade que, há 15 anos, foi chamada a discutir a questão com a prefeitura paulistana. “Naquele momento foi preciso trazer à mesa de discussão os representantes do varejo, porque ficou evidente que era excessivo o número de sacolas distribuídas”, diz Correa.
Regras para a distribuição de sacolas plásticas em supermercados tornaram-se mais rígidas, mas embalagens continuam disponíveis. “A questão é polêmica, mas as sacolas são necessárias no dia a dia dos supermercados, então proibir totalmente não tem sentido. Assim, orientamos os associados a oferecer sacolas compostáveis; e o consumidor a usar, sempre que possível, as retornáveis”, diz o executivo da Apas.
Esse movimento tem gerado novos negócios. Fundada em 2021, a ERT Bioplásticos, que, entre outros produtos compostáveis, fabrica plásticos para a fabricação de sacolinhas, produziu 800 toneladas em 2022, cresceu 32% no ano passado e e já vendeu 1,6 mil tonelada (alta de 39%) em 2024. “Nosso bioplástico é 100% compostável e vira adubo em 180 dias”, afirma Gabriela Gugelmin, diretora de estratégia e sustentabilidade da ERT.
Na busca pelo incentivo ao abandono do plástico, vale até fazer promoções. A rede Confiança Supermercados, com 15 lojas no interior de São Paulo, decidiu sortear, no final do ano passado, um carro híbrido entre os clientes que substituem as sacolas plásticas por retornáveis. Segundo Eder Vieira, diretor de marketing da empresa, de setembro de 2023 a maio deste ano, quase 5 milhões de sacolinhas plásticas deixaram de ser utilizadas na rede, queda de 6% na comparação com o mesmo período de um ano antes. A rede vai repetir a ação neste ano. “Também aumentamos a oferta de caixas de papelão nas lojas. Queremos proporcionar oportunidades de mudança de hábitos”, diz Vieira.
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) informou que apoia regulamentações que incentivem o uso de sacolas reutilizáveis, “pois reconhece a necessidade de reduzir o uso do plástico em geral”. A entidade mantém orientações a varejistas e consumidores com base em cartilhas preparadas pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, que estima que o brasileiro consuma 41 milhões de sacolas plásticas por dia, cerca de 15 bilhões por ano.
Pesquisa Maxiquim para a Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief) indica que a produção do setor cresceu 4,3% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2023. Foram produzidas 516 mil toneladas no período, sendo 7% de sacolas e sacos.
Fonte: Valor Econômico