A sustentabilidade ganhou mais espaço durante a 43ª edição da São Paulo Fashion Week – SPFW, que se encerra nesta sexta-feira (17).
O Projeto Estufa, apresentado pela C&A, reuniu diferentes personalidades do setor para discutir inovação, tecnologia e processos de futuro.
A programação inclui encontros e desfiles de marcas como Vale da Seda, que informa a pegada de carbono que a peça pode gerar durante toda a sua vida útil e outras informações em um QR Code presente na etiqueta de suas peças.
Um dos temas foi a sustentabilidade da segunda indústria mais poluente do mundo –atrás apenas da petrolífera–, em palestra apresentada por Jeffrey Hogue, diretor global de Sustentabilidade da C&A, presente em 23 países, na quarta-feira (15).
Hogue apresentou iniciativas que trabalham para diminuir o impacto socioambiental negativo e anunciou o lançamento da Fashion for Good em 30 de março. A ação é uma parceria com a C&A Foundation “para apoiar a inovação na indústria”, afirmou o executivo em entrevista exclusiva à Folha.
Para o diretor da C&A, outro ponto importante é o incentivo de uma economia circular –que reduz a produção de resíduos aumentando a durabilidade do produto e devolvendo-o para a cadeia produtiva– numa indústria que fabrica, anualmente, 100 bilhões de peças de roupa.
Folha – A sustentabilidade na moda está hoje em qual estágio?
Jeffrey Hogue – Há muitos desafios ligados à fabricação de roupas, tanto no aspecto social como ambiental. Eles estão relacionados às matérias-primas utilizadas na produção nas fábricas, aos produtos químicos no tingimento dos tecidos, às condições de trabalho e ao fato de que muitas roupas não retornam à cadeia produtiva.
Sustentabilidade também está ligada ao consumo. Como repensar isso numa indústria que produz 100 bilhões de peças todos os anos?
Precisamos caminhar para uma economia mais circular, onde o design das roupas é pensado para um uso mais amplo desde sua produção.
Essa é uma abordagem mais holística para a sustentabilidade, ao invés de apenas dizer ‘parem de comprar, parem de consumir’. Com certeza podemos consumir menos, mas acho que uma solução mais holística é criar uma economia circular.
O que a C&A está fazendo para construir essa economia circular?
Estamos nos associando com essa nova iniciativa chamada Fashion for Good, desenvolvida pela C&A Foundation para apoiar a inovação na indústria. A parceria vai determinar como vamos pegar essas tecnologias e aplicar na nossa cadeia de fornecedores.
A C&A já utiliza algodões sustentáveis em suas coleções. Em que estágio está a produção desse tipo de algodão no Brasil?
A produção de algodão orgânico atualmente no Brasil existe. É pequena e é comprada por outras empresas. Com a C&A Foundation, estamos vendo como podemos acelerar e aumentar o fornecimento de algodão orgânico no Brasil.
De acordo com os dados que você apresentou, uma empresa com o porte da C&A produz entre 500 milhões e 1 bilhão das 100 bilhões de peças produzidas por ano. Como expandir a sustentabilidade?
Existem algumas formas. Primeiramente, promover realmente as iniciativas que criam convergência. Para esse tipo de assunto, é preciso que as marcas se unam.
Em segundo lugar, ao tornar populares esses produtos, os consumidores se tornarão mais conscientes e, como resultado, talvez a indústria se torne mais consciente.
Um grande desafio que vejo é, se o Brasil é o maior produtor de algodão BCI [algodões sustentáveis certificados pela ONG Better Cotton Initiative], como podemos aumentar a compra desse algodão por parte das outras empresas nacionais ou internacionais.
Na produção do algodão BCI, todas as partes da cadeia precisam ser certificadas pela ONG. Tivemos que auxiliar nossos fornecedores para que eles fizessem parte desse sistema. Uma vez certificados, eles podem vender para qualquer marca.
Isso também pode fazer parte do nosso papel, ser um líder dessa iniciativa para que outras marcas possam aproveitá-la.
Você citou os desafios para a sustentabilidade na moda. Qual deve ser a prioridade?
Economia circular, com certeza. Porque não trata apenas dos problemas ambientais ou de recursos, mas de energia, água, toxicidade dos materiais, reúso das peças e igualdade social. Se eu tivesse que colocar todos os meus esforços em uma abordagem, seria para construir uma economia circular na indústria da moda.
Fonte: Folha de S. Paulo