Além do apelo do preço, maior número de lojas de rua na crise pode ter beneficiado, mas analistas são cautelosos
Varejista de moda de capital aberto com apelo mais popular, a Marisa diz ter se beneficiado, após início da pandemia, do maior número de lojas de rua do que suas rivais e de um posicionamento de preço mais combativo. Apesar de ser menos digital que as concorrentes, a Marisa entende que esses aspectos são uma vantagem num momento em que o varejo de vestuário tenta retomar as vendas.
Ontem, a ação da empresa fechou em alta de 8,41%, a R$ 8,51, a maior valorização do dia do Icon, o índice de consumo da B3. Segundo o presidente Marcelo Pimentel, a empresa viu um fortalecimento do canal de loja de rua na crise. “A moda acessível e a loja em rua têm sido alavancas importantes neste momento […]. Estamos bastante otimistas, o movimento em loja tem sido retomado e estamos conseguindo tirar o melhor do cliente quando ele vem para a loja”.
Analistas disseram ontem em relatórios que os números mostram piora de abril a maio, por causa das lojas fechadas. Mas houve uma recuperação gradual após junho. Eles reforçam, porém, que o fim do auxílio emergencial deve impactar na renda dessa classe C em 2021, e um cenário ainda volátil pode afetar a retomada da Marisa no curto prazo.
Segundo a rede, lojas de rua têm registrado vendas 10% superiores às de pontos em shoppings – metade das 353 unidades do grupo está nessas áreas e a outra metade, nos shoppings. Para efeito de comparação, mais de 90% das unidades da Renner e mais de 80% na C&A estão em shoppings.
Sobre esses dois aspectos citados por Pimentel (localização dos pontos e política de precificação), os números do segundo trimestre já publicados pelas cadeias de moda (C&A, Riachuelo e Marisa) mostram que redes com maior número de pontos nas ruas podem ter tido impacto positivo nas vendas.
Mas o alto volume de promoções do mercado em geral, na corrida para desovar estoques após abril, pode ter sido favorável também a outras redes.
No segundo trimestre, as vendas na Marisa representaram 65% do apurado um ano antes, com 50% do tempo de funcionamento normal.
Na C&A, voltada para o público B e C, a taxa estava menor, em 60% da venda de mercadorias. Na Riachuelo, também focada nas camadas B e C, e que acelerou promoções no período, o índice no segundo trimestre superou ambas, atingindo 75% – a taxa mais alta entre todas as cadeias até agora. A Renner, com foco nas classes A e B e muitos pontos em shoppings, vai publicar o seu balanço no dia 31.
Ainda segundo o balanço da Marisa, as vendas “mesmas lojas” (pontos com mais de um ano) estavam 11,5% abaixo do apurado um ano atrás, e em junho, a queda era maior, de cerca de 25%. Considerando apenas as lojas físicas, a queda de 39% em junho diminui para 24% em julho.
Um aspecto mais negativo para a Marisa, na visão de analistas, é sua menor participação do on-line nas vendas, apesar do avanço desse negócio no ano – ficou em 42% das vendas totais de abril a junho. Na Riachuelo, foi de 46% no mesmo período e na C&A, de 50%.
Para tentar reduzir essa diferença, a empresa acelerou projetos internos na área após abril (lançou “hotsite” de lingerie e fechou acordos com novos “marketplaces” – shoppings virtuais). As vendas no digital cresceram 113,1%.
Nas últimas semanas, C&A e Riachuelo disseram que aceleraram ações promocionais em loja e sites, e isso deve se manter até o início do quarto trimestre. A Marisa vem num movimento semelhante, mas deve reduzir a intensidade das ofertas porque já fez uma redução de 30% dos estoques desde abril.
Nesse cenário, a companhia projeta uma retomada da lucratividade no quarto trimestre e em 2021, disse o CEO.
Segundo dados publicados na segunda-feira, a Marisa teve prejuízo de R$ 171,7 milhões no segundo trimestre, alta de 507,1%. A receita líquida caiu 60%, para R$ 277 milhões. Para efeito de comparação, a receita da Riachuelo caiu 70% e na C&A recuou 77%.
Fonte: Valor Econômico