Startup conclui IPO bem-sucedido, movimenta até R$ 933 milhões e acelera planos de levar para as massas um novo jeito de escolher e comprar móveis
São informações que dão a dimensão do tamanho das oportunidades. E que servem como norte para a mais nova empresa da bolsa brasileira, a Mobly (MBLY3), que faz a sua estreia nesta sexta-feira, dia 5, depois de concluir uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) que deve movimentar até 933 milhões de reais.
Mas ganhar escala e participação de mercado conta apenas uma fração dos planos de Victor Noda, Marcelo Marques e Mario Fernandes, os três sócios-fundadores da Mobly em 2011. Como uma empresa nativa de tecnologia que já surgiu como uma plataforma puramente de e-commerce — a primeira loja física só veio em 2019 –, os três empreendedores pretendem transformar a experiência de compra de móveis no país.
Parte relevante dos 900 milhões de reais levantados na oferta primária — cujos recursos vão para o caixa da companhia — será aplicada para reforçar a área de tecnologia, incluindo a contratação de desenvolvedores e outros profissionais da área. O número de funcionários dedicados para esse que é um dos “corações” da companhia deve mais do que dobrar nos próximos meses com a capitalização.
Na estratégia da companhia, o uso de tecnologia é peça fundamental para melhorar a experiência dos usuários e ampliar as vendas, por meio de sistemas proprietários. As soluções incluem o uso de inteligência artificial para recomendação de produtos, recursos que permitem completar o visual de um ambiente e imagens de realidade virtual interativa e de realidade aumentada.
Os números revelam a eficácia das soluções. O uso das ferramentas de realidade virtual e aumentada amplia em até 118% a taxa de conversão da visita do cliente em compras.
Fazer do IPO um meio para investir no crescimento foi apontado, aliás, como um dos diferenciais da Mobly na chamada “batalha do sofá”, a disputa pelos recursos de fundos de investimento, uma vez que duas concorrentes, a Westwing e a Tok&Stok, também conduziram as respectivas ofertas no mesmo período.
O equivalente a 84% dos recursos levantados será destinado para o caixa da companhia contando o green shoe, lote adicional com objetivo de estabilização do preço da ação depois da estreia. Nas mesmas condições, por exemplo, o percentual dos recursos do IPO da Westwing para o caixa da empresa deve ficar perto de 40%. A oferta da companhia deve ser precificada na segunda, 8, com estreia aguardada para a semana que vem.
Os recursos com a capitalização via IPO da Mobly também serão utilizados para reforçar a estrutura de capital da companhia, cujo controle está nas mãos do grupo alemão home24, e para a abertura de novas lojas físicas e de centros de distribuição.
As lojas físicas funcionam como uma extensão da plataforma de e-commerce, com tablets, totens e QR Codes espalhados que permitem aos clientes utilizar as ferramentas de tecnologia que buscam melhorar a experiência de pesquisa e compra — que pode ser realizada pelo celular se o cliente preferir, em vez do caixa.
Magalu, Mercado Livre e Amazon como canais
A Mobly se apresentou no prospecto para investidores como a líder nacional no segmento de home & living, com uma base de 925.000 clientes ativos (em setembro), mais de 1,2 milhão de pedidos e mais de 560 milhões de reais em GMV (sigla em inglês para volume bruto de mercadorias) nos nove primeiros meses do ano.
O equivalente a 90% das vendas aconteceu por meio de canais digitais, em sua própria plataforma e nos maiores marketplaces do país, como Magazine Luiza, Mercado Livre, Via Varejo e Amazon.
A empresa teve receitas líquidas de 420,8 milhões de reais de janeiro a setembro, com margem Ebitda de 3,4%. Dos produtos vendidos, 39% eram de marca própria, ampliando a margem bruta. Outro diferencial apresentado no prospecto é o fato de a Mobly dispor de uma unidade logística que respondeu por 37% das entregas.
Na visão que Noda, Marques e Fernandes expressaram antes da oferta, a abertura de capital representa, portanto, um meio para que possam trazer a tecnologia e a jornada do consumidor para o mercado de móveis e artigos para casa no país. Se depender deles, comprar um sofá não será mais da forma como conhecemos.
Fonte: Exame