Um empresário paranaense resolveu apostar em três grandes vícios dos brasileiros em seu novo negócio: videogames, redes sociais e compras (ou melhor, brindes). A Mimoo, desde a inauguração de sua loja teste, em 2019, já distribuiu R$ 26 milhões em produtos gratuitos para seus consumidores.
Funciona assim: depois de baixar o aplicativo da marca, o usuário precisa jogar e vencer missões, além de responder a quizzes, para acumular pontos. Depois, é possível trocar a pontuação por produtos de higiene, beleza, perfumaria e até alimentos em uma das sete lojas físicas da rede —todas situadas em shoppings de São Paulo. Ou seja: em troca de sua participação, o cliente ganha os produtos sem pagar nada.
As chamadas “missões” aparecem no app de diversas formas. Há desde a forma mais simples de testes, com respostas dos usuários sobre estilo de vida e perfil de consumo, até atividades mais complexas, como as que misturam o mundo virtual com o físico. Uma forma de ganhar pontos é, por exemplo, comprar um produto, escanear a nota fiscal ou, então, publicar stories fazendo uma avaliação no próprio Instagram.
“Estamos criando algo completamente novo. Sabemos que as pessoas dedicam bastante tempo em games online. Por que não transformar isso numa oportunidade de negócio para as empresas ao mesmo tempo em que traz utilidade para o consumidor?”, diz Ernesto Guimarães Villela, fundador e CEO da Mimoo.
“Da forma como funciona hoje, nós remuneramos o tempo, o engajamento e a atenção do consumidor para resolver um problema de marketing do patrocinador.”
Grande fluxo de clientes
Outra forma que a Mimoo encontrou para gerar valor foi com o fluxo de pessoas. Ao atrair pessoas para centros comerciais e shoppings, a marca começou a chamar a atenção de empreendedores do varejo.
Antes da pandemia, a rede atendia uma média de 1.500 pessoas por dia em cada unidade —mais do que o Pão de Açúcar, para se ter ideia. Isso em lojas de cerca de 30 m².
Produtos grátis
Os verdadeiros clientes da marca são as empresas, que precisam testar lançamentos ou desencalhar estoque. Só no ano passado, o primeiro com a operação estruturada, a Mimoo faturou R$ 1 milhão em contratos com gigantes como Unilever, Nivea, Panko, Hersheys, Bauduco e Nestlé.
Além de pagar pela opinião (e atenção) dos usuários do app, as companhias contribuem com os produtos: sejam os lançamentos que ainda precisam ser testados com o público ou os resíduos da produção. A Nivea, por exemplo, não comercializa nenhum produto que esteja a 12 meses do vencimento.
Parte da política da Mimoo é distribuir artigos de beleza e higiene com, no mínimo, 30 dias de prazo de validade, e alimentos e bebidas a 15 dias do vencimento, pelo menos.
Monetizando os dados
O grande diferencial, explica Villela, é a abrangência da coleta de dados —que acontece de forma espontânea. Em uma das missões, os usuários ganham pontos por fotografarem produtos dentro da própria casa. O painel de consumidores de xampu da Mimoo, por exemplo, tem dados de 40 mil domicílios. Para efeitos de comparação, a base da Kantar Ibope para esse tipo de produto tem cerca de metade desses números.
“É importante ressaltar que a gente não vende esses dados. A gente usa nossa base para engajar as pessoas de acordo com o tipo de produto que mais lhes interessa”, afirma o CEO da Mimoo. “Quando uma marca nos contrata, é possível escolher que tipo de público quer atingir. Quer distribuir panetones só para donas de casa de 50 anos? Ou hidratantes para jovens veganas? Ok, sabemos onde essas pessoas estão.”
Perfil dos usuários
Hoje, o público da Mimoo é formado 60% pela classe C, 20% pela classe D e outros 20% por consumidores da classe B. A esmagadora maioria, de 88%, é de mulheres. E 30% dessa base tem de 18 a 25 anos. A princípio, um público de baixo poder aquisitivo, mas extremamente influente com relação a tendências de consumo.
“A gente tem como objetivo de longo prazo dar gratuitamente 20% do que a classe C consome em alimentação, higiene e beleza. Às vezes, 40% da renda dessa camada da população é gasta com esse tipo de produto. Queremos ter uma relevância nisso e contribuir com essa população”, conta o executivo.
Para Villela, os negócios de valor compartilhado são a chave do mundo corporativo pelos próximos anos. “Estamos criando o marketing do futuro e a gente precisa que as empresas apoiem essa iniciativa”, diz.
Fonte: CNN Brasil