A fintech foi um dos destaques no resultado do segundo trimestre do gigante do comércio eletrônico, ao alcançar um volume de pagamentos de US$ 11,2 bilhões e um total de US$ 6,1 bilhões em transações realizadas fora do marketplace
Criado em 2003, o Mercado Pago foi, durante muito tempo, uma ferramenta para apoiar as transações realizadas entre os vendedores e compradores do Mercado Livre. Nessa relação, o braço financeiro se alimentava do crescimento da sua empresa mãe, fundada em 1999.
Pouco a pouco, o Mercado Pago foi encorpando sua oferta e ganhando vida própria, o que se refletiu em um crescimento exponencial nos últimos anos. E, de uma função antes acessória no grupo, a fintech está consolidando uma nova posição na operação.
“Historicamente, nós tínhamos usuários que conheciam o Mercado Pago a partir do Mercado Livre”, diz Stelleo Tolda, cofundador e diretor de operações do Mercado Livre, ao NeoFeed. “Agora, temos visto o movimento contrário. Hoje, temos dois grandes negócios independentes, mas que se potencializam fortemente.”
Parte dessa relevância foi traduzida no resultado do Mercado Livre no segundo trimestre, divulgado nesta segunda-feira. No período, o Mercado Pago registrou uma base de 9,5 milhões de pagadores únicos em sua carteira, o que representou um salto de 109,3%.
O volume total de pagamentos computado pela fintech, por sua vez, ficou em US$ 11,2 bilhões, alta anual de 142,1%. Nesse cenário, um número que chama a atenção são as 280,7 milhões de transações realizadas fora da plataforma do Mercado Livre, que cresceram 174,7% e somaram US$ 6,1 bilhões.
“Temos acesso a dados de muitas transações, o que nos permite fazer análises de risco e estender a oferta de crédito para lojistas e consumidores”, afirma Tolda. “E estamos começando a oferecer empréstimos também para pessoas que não são necessariamente compradoras do nosso marketplace.”
Nessa direção, o Mercado Pago ampliou seu pacote de ofertas no trimestre. Entre outras novidades, a fintech anunciou a possibilidade de parcelar contas, boletos e impostos por meio de seu aplicativo, em até 12 vezes, com juros de 2,99%.
“Hoje, temos dois grandes negócios independentes, mas que se potencializam fortemente”
Além dos pagamentos e das concessões de crédito, o portfólio da operação inclui ainda ofertas como uma conta remunerada pelo CDI. “Temos uma avenida muito larga para explorar”, observa Tolda. “E enxergamos muito potencial de distribuir outros produtos financeiros, como seguros.”
Supermercados no pacote
O resultado do grupo também trouxe bons indicadores. Entre abril e maio, a receita líquida do Mercado Livre foi de US$ 878,4 milhões, alta de 123,4% sobre o mesmo período de 2019. No período, o lucro líquido do grupo teve um salto de 245%, para US$ 55,9 milhões. Já o número de usuários únicos ativos cresceu 45,2%, para 51,5 milhões.
No plano do marketplace, a ampliação da oferta é também uma das tônicas. Nesse cenário, a categoria de itens de supermercado, em sua maioria, produtos não perecíveis, é uma das apostas mais recentes. A entrada nessa área no mercado brasileiro estava programada para o segundo semestre, mas foi antecipada por conta da Covid-19 e começou a ser trabalhada entre o fim de março e início de abril.
“É um segmento que acreditamos muito, pois ajuda a criar consumidores mais leais, que estão dispostos a voltar ao nosso aplicativo com mais frequência”, diz Tolda. Ele conta que, hoje, o Mercado Livre tem uma média de uma compra por cada usuário ativo no mês. “Com frentes como as ofertas de supermercados, vemos um potencial de quadruplicar esses índices.”
No segundo trimestre, a receita líquida do Mercado Livre foi de US$ 878,4 milhões, alta de 123,4% sobre o mesmo período de 2019
Enquanto não concretiza essas projeções, o Mercado Livre contabiliza outra marca importante. Com o desempenho dos últimos meses, o grupo se tornou a primeira companhia de tecnologia a figurar entre as empresas mais valiosas da América Latina.
Além de alcançar esse status, o grupo coroou o feito ao atingir o topo dessa lista no fechamento do pregão da quinta-feira, 6 de agosto, quando alcançou um valor de mercado de US$ 60,6 bilhões e superou a Vale, que fechou o dia com um valor de mercado de US$ 59,3 bilhões, segundo a consultoria Economatica.
A tendência se manteve na sexta-feira, com o Mercado Livre avaliado, ao fim do dia, em US$ 59,3 bilhões, contra os US$ 57,1 bilhões da Vale. A empresa encerrou o pregão dessa segunda-feira com uma queda de 5,83% em suas ações e um valor de mercado de US$ 55,8 bilhões.
Com o desempenho, o Mercado Livre foi superado pela Vale e pela Petrobras, que finalizaram o dia avaliadas, respectivamente, em US$ 58,27 bilhões e US$ 57,82 bilhões.
À parte da perda da liderança, a escalada do Mercado Livre estabelece uma marca importante na América Latina e sinaliza que a região pode, enfim, seguir uma trilha já consolidada em outros mercados.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a indústria de tecnologia domina amplamente a lista das companhias de maior valor de mercado. No topo, está a Apple, com US$ 1,92 trilhão. Outras seis companhias marcam presença no Top Ten das mais valiosas: Microsoft, Amazon, Alphabet, Facebook, Alibaba e a Taiwan Semiconductor. Até o início da década, apenas a Microsoft era figura constante nessa relação.
“Sem dúvida, é um marco gigantesco para a empresa e para o setor”, diz Tolda. “Nós sempre acreditamos que a tecnologia ainda vai mudar o mundo e que isso, naturalmente, se traduziria em valor de mercado. Mas, se há uma surpresa, é o quanto isso demorou para acontecer na América Latina.”
Fonte: Neofeed