Depois de perder mais de R$ 6 bilhões em faturamento ao longo dos últimos dois anos, com uma retração acumulada de 23%, o mercado de luxo deve apresentar desempenho ainda tímido este ano. Com o cenário incerto das eleições, empresas do setor falam inclusive em deixar o Brasil dependendo do resultado das urnas.
A previsão da consultoria global Euromonitor é que a venda de artigos de luxo, como roupas, carros, cosméticos e bebidas, cresça apenas 2% em 2018, em termos reais (já descontados os efeitos da inflação). No ano passado, as vendas caíram 8,5%, após recuarem 15% em 2016.
Com a previsão de uma retomada fraca em 2018 e nos anos seguintes (a expectativa é que o ritmo de 2% se mantenha até 2022), o segmento como um todo só deve recuperar o patamar de antes da crise em 2021. Em outras palavras, as empresas levarão quatro anos para recuperar as perdas da recessão.
Em relação ao cenário deste ano, o analista sênior da Euromonitor, Elton Morimitsu, diz que o principal gargalo, na visão das marcas de luxo, é a corrida eleitoral. “Todo o setor empresarial está olhando com muito cuidado para as eleições, mas as empresas de luxo estão mais preocupadas do que a média.”
Em conversa com players do setor, o especialista afirma que o clima é de extrema insegurança. “Muitas estão esperando o resultado das eleições até para tomar medidas mais drásticas em relação à operação no Brasil”, afirma. “O feedback que eu tive foi que dependendo do presidente, se prejudicasse o cenário para os negócios, talvez elas pudessem deixar o País”, complementa.
Nos últimos anos, o mercado brasileiro já presenciou a saída de algumas marcas de luxo, segundo o presidente da Associação Brasileira do Mercado de Luxo (Abrael), Freddy Rabbat. “Várias já foram embora. A questão é que as marcas chegam fazendo festa, mas saem em silêncio”, afirma o executivo, que cita o exemplo da marca de relógios suíços Piaget e da Lanvin, grife francesa de moda.
O analista da Euromonitor complementa que uma das explicações para o movimento foi a frustração das marcas com o cenário recessivo, já que o mercado vinha há anos crescendo acima dos dois dígitos. “Todas estavam contando com taxas de dois dígitos em um horizonte de curto e médio prazo e isso influenciou para que algumas saíssem do País. Talvez tenha faltado um pouco de tato para um planejamento mais conservador”, explica.
Sobre o cenário deste ano, o dirigente da Abrael afirma que há de fato uma preocupação grande das marcas de luxo em relação aos rumos da política brasileira. O temor é que o Brasil siga por um “viés populista”, o que, segundo ele, poderia prejudicar o ambiente para os negócios. “O resultado das eleições vai impactar todo o cenário dos próximos anos.”
Ainda assim, Rabbat afirma que a perspectiva da entidade é de um resultado melhor do que o registrado pelo setor em 2016 e no ano passado. “Se não tivermos grandes turbulências cambiais, devemos ter um ano melhor do que os dois últimos”, diz. De acordo com ele, o auge da crise para o mercado de luxo foi em 2016.
Piores segmentos
Nos dois anos de crise, os dois segmentos que mais retraíram foram os de carros e bebidas de luxo. O estudo da Euromonitor mostra que a primeira categoria retraiu 33% no período de 2015 a 2017, enquanto a segunda recuou 28,2%.
Antes da crise, explica Morimitsu, havia um movimento forte do brasileiro fazendo upgrade, passando de um carro premium para um carro de luxo de entrada. Com acesso fácil ao crédito o consumidor achava interessante comprar um Mercedes ou um Audi de entrada. Até porque as marcas estavam fazendo promoções e tinham uma precificação mais atrativa”, afirma.
Com a recessão, o cenário mudou, afetando consideravelmente as vendas das concessionárias de luxo. Já na parte de bebidas, o executivo explica que o clima negativo e de preocupação afetou o consumidor de luxo, que não via motivos para celebrar. “Os produtos de luxo estão muito associados a celebração, o consumidor comprar para comemorar algo, e o clima não estava positivo”, finaliza.
Fonte: DCI