Se em 2016, o PIB brasileiro fechou em queda de 3,6%, dada a grave crise econômica que o país vem enfrentando, o setor editorial, claro, não podia passar pelo período ileso. Os resultados da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, apresentados em um evento no Rio de Janeiro na manhã desta quarta-feira, comprovam isso. A pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que acaba de sair do forno, mostra que, no ano passado, foram produzidos 427,2 milhões de exemplares, vendidos 385,1 milhões e as editoras faturaram R$ 5,27 bilhões. Comparado a 2015, o faturamento total das editoras no ano passado apresentou crescimento nominal de 0,74%, o que significa um decréscimo real de 5,2%, levando em conta a variação do IPCA de 6,3% no período.
Em 2015, a pesquisa já havia apontado uma queda de 12,6%. No acumulado desses dois anos de crise, o setor já perdeu 13% do seu tamanho, considerando tanto as compras de mercado quanto as de governo. Mas isso poderia ter sido ainda pior. É que, se em 2015, o governo federal não realizou compras do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), em 2016, houve uma compra no valor de R$ 24 milhões, além disso, houve aumento de 12,01% nas compras do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Esses dois fatores elevaram as compras governamentais em 13,8% entre 2015 e 2016. Sobre o PNBE, importante destacar e já olhando para o futuro que em 2017 não houve – e nem há previsão de haver – compras dentro desse programa, que ajudou a salvar a indústria em 2016.
Olhando apenas para o segmento “Mercado”, o faturamento no ano passado foi de R$ 3,8 bilhões (73% do total), o que representa queda nominal de 3,3% em relação ao ano anterior. Nesse segmento, chama a atenção a queda do subsetor de Científicos, Técnicos e Profissionais (CTP), que encolheu 10,5% em faturamento (não considerando nessa conta a inflação no período). “Devemos destacar a queda real do subsetor de CTP, que foi de 15,8% e bastante superior à queda do mercado consolidado de 5,2%”, explicou a economista Mariana Bueno, responsável pela pesquisa. O subsetor Obras Gerais apresentou queda nominal de 4,88%. “Nesse segmento, a queda foi menos expressiva que 2015, mas o subsetor continua sentindo a crise”, completou.
Na contramão disso, o subsetor de Didáticos apresentou crescimento nominal de 3,7%, totalizando R$ 1,4 bilhão em faturamento.
A Fipe não divulgou ainda uma versão atualizada com os números de 2016 de seu estudo de 10 anos. O PublishNews averiguou que isto deverá acontecer nas próximas duas semanas, mas já se adiantou e calculou uma prévia dos números. Na década de 2007 a 2016, o mercado consolidado acumula uma perda de 17,1%. Já as vendas ao mercado privado caíram 22,9% no período, enquanto as vendas ao governo em 2016 foram 4,58% superiores ao ano de 2006. O gráfico a seguir reflete estes números.
Produção
O péssimo desempenho do setor em 2015 levou as editoras a pisarem no freio da produção em 2016. No ano passado, o total de exemplares produzidos caiu 4,4%. Se analisar apenas as obras lançadas, houve redução de 8,57%. Os subsetores de Obras Gerais e de CTP foram os mais contidos na produção total de exemplares (novos ISBN + reimpressões) no ano passado, reduzindo suas tiragens em 9,6% e 7,6%, respectivamente, em comparação a 2015. A pesquisa indica, ainda, que foram editados 51,8 mil títulos em 2016, dos quais 17,37 mil são novos.
Entre as 24 áreas temáticas que o estudo abrange, estão em primeiro lugar as obras classificadas como Didáticas, com participação de 48,48% no total de exemplares produzidos em 2016. Na sequência, vêm os exemplares de Religião (20,79%), Literatura adulta (7,71%), Autoajuda (4,78%), Literatura Infantil (3,89%) e Literatura Juvenil (2,39%). Nesta lista, chama atenção o aumento da participação dos livros do gênero Biografia (1,2%), que tiveram um crescimento de 22,5% em exemplares produzidos em 2016 (5,14 milhões), e também a queda expressiva dos títulos de Medicina, Farmácia, Saúde Pública e Higiene, com redução de 4,3 milhões de exemplares produzidos em 2016 e uma participação de 0,93%.
Distribuição
Com 119,4 milhões de exemplares vendidos (52,73% do total comercializado no mercado, excluindo-se governo), as livrarias se mantiveram como o principal canal de venda das editoras. Os distribuidores representaram a venda de 39 milhões de livros, o equivalente a 17,22%. O segmento porta a porta teve participação de 8,18%, com 18,5 milhões de livros. Já as livrarias exclusivamente virtuais apresentaram um crescimento em sua participação nas vendas em 2016, subindo de 1,97% para 2,43%, o que significa 5,5 milhões de exemplares vendidos.
A comercialização em igrejas e templos (4,88%), supermercados (3,44%) e escolas (2,5%) também tem relevância. A venda direta nos sites das editoras segue modesta, com participação de apenas 0,73% do total.
Produção digital
Pela primeira vez desde 2014, quando passaram a integrar a pesquisa, os dados referentes à produção de conteúdo digital das editoras não entraram na edição. Os números sobre a produção de e-books no país ganham em 2017 um diagnóstico exclusivo – o Censo do Livro Digital, estudo inédito que realizará o mapeamento da produção digital brasileira. Com apresentação prevista para agosto, o Censo do Livro Digital é mais uma parceria entre o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e a Câmara Brasileira do Livro (CBL), com realização da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicos (Fipe/USP).
Fonte: PublishNews