Empresa integra motociclistas autônomos à sua malha logística e amplia estratégia para fazer entregas rápidas
Por Raphael Manzoni Jr
O Mercado Livre conta com três aviões, 260 caminhões, 10 mil VANs, 51 carros elétricos e oito carretas movidas a gás para fazer entregas de suas mercadorias no Brasil.
Esse contingente logístico está ganhando a companhia de entregadores autônomos em motocicletas, a exemplo dos profissionais que trabalham para iFood, Rappi e Uber Eats fazendo entregas pelas ruas das cidades brasileiras.
Nesta segunda-feira, 8 de novembro, o Mercado Livre está lançando o aplicativo Mercado Envios Extra, que vai conectar esses profissionais à plataforma de comércio eletrônico da companhia para fazer entregas de curtas distâncias dentro das cidades.
“Com essa movimentação, aumentamos nossa capilaridade, cumprindo com a promessa de realizar o envio mais rápido do Brasil”, diz Leandro Bassoi, vice-presidente de logística do Mercado Livre para a América Latina, com exclusividade ao NeoFeed.
O aplicativo estava em fase de testes desde agosto deste ano na cidade de São Paulo e foi sendo expandido gradativamente para mais 11 cidades. Entre elas, Barueri, Guarulhos, São José dos Campos, Campinas, Limeira, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Recife e Salvador.
Neste período de testes, cadastrou 4,8 mil motociclistas para fazer entregas – hoje, mil deles estão ativos e mais de 100 mil entregas já foram feitas a partir desse novo modal.
Neste mês de novembro, o plano é chegar a mais 20 cidades, a maioria delas no interior de São Paulo, como São Carlos, Franca, São José do Rio Preto, Bauru e Marília. Cidades no Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro também terão o serviço. Em um curto prazo, o Mercado Livre quer levar o Mercado Envios Extra para todas as capitais brasileiras.
O objetivo do Mercado Livre é usar as motocicletas como mais um elemento de sua estratégia de logística para fazer entregas cada vez mais rápidas, o novo santo Graal do comércio eletrônico na disputa pelos consumidores.
Atualmente, 90% das compras do Mercado Livre são entregues em até 48 horas, sendo que 75% delas em até 24 horas. O serviço de motocicletas está sendo usado para entregas em até 24 horas. Mas o Mercado Livre começará a testar em breve esse novo modal para realizar entregas no mesmo dia.
Os motociclistas vão ser pagos por trajetos de aproximadamente duas horas e vão receber, em média, R$ 80 pelo serviço. Nesse tempo, o objetivo é que façam de 30 a 40 entregas, de itens de pequeno e médio porte, sem restrições ao tipo do produto.
“Essa nova modalidade vai permitir rotas mais curtas, em períodos alternativos e flexíveis”, afirma Gustavo Pompeo, diretor de logística do Mercado Livre no Brasil. “A ideia é que complemente a estratégia do Mercado Livre para fazer entregas cada vez mais rápidas.”
No aplicativo, o entregador autônomo poderá definir as suas entregas, identificar os postos de coleta indicados para a retirada das encomendas e avisar ao dono da mercadoria que está a caminho de sua residência. O pagamento será feito via Mercado Pago, a fintech do grupo.
Questionado se o serviço de motocicletas poderia evoluir para entregas de refeições de restaurantes e de outros itens fora do ecossistema do Mercado Livre, competindo com Rappi, iFood e Uber Eats, Pompeo disse que é algo que a companhia pensa e analisa para algum momento.
“Mas hoje não temos nenhum road map para atuar fora do ecossistema do Mercado Livre”, afirma Pompeo. “O volume do próprio Mercado Livre consome toda a nossa capacidade logística.”
Os concorrentes da companhia, no entanto, já estão se movimentando nessa área. O Magazine Luiza, por exemplo, já fez quatro aquisições, mostrando apetite para competir contra iFood e Rappi.
A primeira delas, em setembro do ano passado, foi o aplicativo AiQFome. Em março, adquiriu mais dois aplicativos de delivery: o app ToNoLucro e a plataforma GrandChef (gestão de restaurantes). Em junho, foi a vez da Plus Delivery, baseada no Espírito Santo.
A Via, dona das marcas Casas Bahia e Ponto, tem também interesse de entrar nessa área, conforme disse o presidente da companhia, Roberto Fulcherberguer, em entrevista ao NeoFeed, em julho deste ano.
Logística virou estratégica
O Mercado Livre está investindo R$ 10 bilhões no Brasil neste ano. Embora não detalhe como o dinheiro vai ser alocado, boa parte dos recursos será destinada para a área de logística, que se tornou fundamental para ganhar clientes no e-commerce.
Assim como o marketplace de origem argentina, que vale US$ 81 bilhões na Nasdaq, os concorrentes do Mercado Livre estão também investindo pesado para realizar entregas cada vez mais rápidas.
“A área de logística é estratégica para o comércio eletrônico”, diz Alberto Serrentino, sócio da consultoria especializada em varejo Varese Retail. “Os estoques estão em muitos lugares, com compras que saem de um centro de distribuição para a casa do cliente ou com o consumidor indo buscar o produto em algum ponto de retirada. Isso aumenta a complexidade da gestão e se torna uma alavanca competitiva.”
O Magazine Luiza, por exemplo, já faz 50% de suas entregas em até 24 horas. Em 2021, começou a realizar deliveries em até 3 horas. Em julho deste ano, comprou a Sode, uma startup de Recife que contava com mais de mil entregadores que usavam motocicletas para fazer entregas em até 1 hora.
A Americanas, que uniu as lojas físicas ao varejo online (marcas como Americanas.com, Submarino e Shoptime), já trabalhava de forma integrada com sua plataforma de logística Lets. No segundo trimestre de 2021, 14,5% das entregas aconteciam em até 3 horas. Em até 24 horas, o volume atingia uma fatia de 51%. A companhia também investiu em sete novos centros de distribuição desde o início de 2020.
A Via já entrega em todas as cidades brasileiras, sendo que 15% das vendas chegam a casa do consumidor no mesmo dia, oferta que está disponível em 65 municípios em 14 estados. Em 24 horas, são 43% dos pedidos. A logística própria já representa 51% das entregas da companhia.
O Mercado Livre também se movimentou nessa área. Hoje, 1,9 mil cidades recebem suas encomendas em até dois dias, o que representa 80% da população brasileira.
A operação conta ainda com sete centros de distribuição, 17 centros de cross dock e 80 service centers (a previsão é 106 até o fim deste ano), como são chamados esses pontos localizados em áreas mais centrais para distribuição de produtos – é dali que as motos vão retirar os pacotes para as entregas.
Quem vencerá essa disputa pela entrega mais rápida? Serrentino acredita que o fator fundamental para conquistar o consumidor será uma combinação de qualidade com assertividade de entrega.
“Muito mais importante do que velocidade da entrega é o cumprimento da promessa”, afirma Serrentino. “Prometer um prazo e não cumprir será muito pior do que tentar fazer uma entrega o mais rápido possível.”
Fonte: Neofeed