O Mercado Livre quer superar a brasileira B2W – dona das marcas Americanas.com, Submarino.com e Shoptime – e se tornar o maior e-commerce em atuação país. A declaração foi feita por pelo chefe de operações da companhia argentina, Stelleo Tolda, em entrevista à agência Reuters neste mês.
Ele afirma que as receitas da companhia argentina podem superar da B2W ainda neste ano. A B2W é o maior e-commerce em operação no Brasil, com receita líquida de R$ 8,6 bilhões e com R$ 14,6 bilhões transacionados em 2016. A empresa tem market share de 28,9% até o primeiro trimestre de ano.
Já o Mercado Livre, que está presente em toda a América Latina, teve receita de US$ 844 milhões em 2016, sendo US$ 455 milhões no Brasil. A empresa vendeu 181,2 milhões de itens e transacionou US$ 8 bilhões no ano passado, mas não releva quanto desse valor foi movimentado no país.
Presente no Brasil desde 1999, o Mercado Livre deixou de ser apenas um marketplace para se tornar uma plataforma completa de gestão de vendas on-line. A empresa, que já pivotou o seu modelo de negócio no Brasil de plataforma de leilão para marketplace, oferece aos anunciantes sistemas de gestão e pagamento.
“Eles foram muito bem sucedidos nessa estratégia de comprar empresas para auxiliar seus parceiros a vender e entregar melhor”, explica Pedro Guasti, CEO do E-bit, empresa que monitora o desempenho do e-commerce brasileiro. “E estão conseguindo crescer a taxas de quase 50% ao ano, enquanto o e-commerce fica entre 15% a 20%.”
Agora, o Mercado Livre se preparar para também financiar o crescimento de seus fornecedores e, consequentemente, crescer junto com eles. A empresa começou a emprestar dinheiro – em parceria com instituições bancárias – para pequenos empresários que vendem pelo site no Brasil. O serviço ainda funciona em forma de testes e deve ser disponibilizado em breve a todos os vendedores.
Mercado Livre vai ultrapassar a B2W?
Mas será que todas essas estratégias serão suficientes para o Mercado Livre se tornar o maior e-commerce do Brasil, superando a BW2? Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo acreditam que sim, é possível que o Mercado Livre cresça ainda mais no mercado brasileiro, o que não significa necessariamente em perda de espaço da B2W.
“A B2W, assim como o Magazine Luiza, o Grupo Pão de Açúcar, são varejistas que têm e-commerce e markeplace acoplados ao seu negócio principal. O Mercado Livre é só marketplace, focado no pequeno e no micro empresário”, afirma Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). “Eles não concorrem entre si, porque são propostas complementares”, completa.
O Mercado Livre é um marketplace de produtos novos e usados, vendidos por pessoas físicas, pequenos e médios empresários. A empresa não fabrica nenhum produto e foca apenas no desenvolvimento da sua plataforma e no fortalecimento da sua rede pulverizada de fornecedores.
O seu público-alvo também é diferente. Quem compra no Mercado Livre busca itens baratos e, muitas vezes, específicos. La é possível encontrar de tudo, desde eletrônicos a itens de colecionador. É um segmento muito mais abrangente.
Já a B2W é uma varejista tradicional, oriunda da Lojas Americanas, que foca na venda de produtos novos de grandes fabricantes. A empresa fecha com as principais marcas do país para vender, principalmente, eletrodomésticos e eletroeletrônicos. A companhia também permite que lojas menores com operações robustas vendam produtos novos que não são o foco da companhia em seus sites, no modelo conhecido como marketplace.
Por terem esse perfil diferente, os analistas acreditam que há espaço tanto para a B2W crescer, quanto para o Mercado Livre, não importando quem vai ficar na frente, seja em termos de receita ou volume de mercadoria transacionado. “O e-commerce representa hoje 3,5% das vendas do varejo total. Em cinco anos, o percentual deve chegar a 10%. Há espaço para todo mundo”, afirma Terra.
O próprio diretor do Mercado Livre concorda com essa premissa. Na entrevista à agência de notícias Reuters, ele afirmou que o comércio eletrônico brasileiro é como um bolo que está ficando cada vez maior. E que para crescer nesse cenário, não é necessário pegar a fatia do outro.
Então o caminho está livre para o Mercado Livre crescer?
Só que tudo pode mudar com a entrada da Amazon. A empresa, que está no país desde 2012, deve começar a vender de tudo em seu site, através do modelo de marketplace, ainda no segundo semestre deste ano. E isso pode impactar diretamente nos resultados do Mercado Livre no Brasil, já que o modelo de negócio da companhia argentina é o mesmo da Amazon.
Até lá, de qualquer forma, Guasti lembra que a empresa não está sozinha. “Eles não competem sozinhos. Tem o ShopFácil, do Bradesco, e a Elo, por exemplo, que também são fortes. E pode vir ainda a Amazon”, diz o CEO do E-bit. “O mercado é grande o suficiente para comportar vários grandes players, mas é essencial oferecer preço bom e serviços agregados para se manter competitivo.”
Fonte: Gazeta do Povo