Pelo lado da holding Mercado Livre, o country treasury André Ventura afirmou que a companhia consegue prestar suporte a esse cenário por meio do crescimento de seu e-commerce
Por Henrique Medeiros
O country treasury do Mercado Livre, André Ventura, acredita em um cenário macroeconômico de alta de juros e da inadimplência depois de 2022. Durante evento organizado pela Fitch Rating nesta quinta-feira, 9, o executivo fez uma previsão da economia para os próximos meses ante eleição e outros desafios.
“A previsão que vejo é que, ainda neste ano, deveremos ter alguns aumentos na taxa de juros (Selic). Por outro lado, o mercado já precifica a mudança ou não de governo. São dois modelos (Bolsonaro e Lula) conhecidos pelo mercado financeiro”, explicou Ventura. “As empresas vão ter que conviver com esse cenário de juros mais altos por um bom tempo e uma inadimplência mais elevada”, completou, embora tenha ressaltado que não espera, por outro lado, uma disparada dos juros ano que vem.
Pelo lado da holding Mercado Livre, o especialista afirmou que a companhia consegue prestar suporte a esse cenário por meio do crescimento de seu e-commerce. Trata-se de uma situação bem diferente de outras carteiras digitais, que dependem de estrutura de funding, por exemplo.
“Uma fintech no universo de wallet – conta digital com serviços gratuitos e sem tarifas – depende de crédito para rentabilizar o seu negócio. Aqui há uma jogada de risco significativa. Você pode ter repasse de juros, mas ao mesmo tempo pode gerar inadimplência. No nosso caso, estamos com R$ 5,5 bilhões na operação de crédito, 3 milhões de cartões após um ano e meio de operação. Estamos à margem desse negócio, o que não é trivial, principalmente com a inadimplência, que está maior com a pandemia”, disse.
Bolha
Ventura disse ainda que é natural a tendência das empresas de varejo abrirem uma fintech com foco na compra garantida e aumento do cross sell para o cliente via smartphone. Logo, o executivo não vê uma possibilidade de bolha de crédito em fintechs ligadas ao comércio eletrônico, mas vê com preocupação em outras carteiras.
“Tem essa tendência (fintech de e-commerce), mas não vejo como uma bolha – enquanto for um negócio acessório. Mas, quando deixa de ter uma sustentação e começa a atuar no setor não bancarizado, sem cobrar tarifa do consumidor, a tendência é ir para o crédito para rentabilizar o negócio”, explicou. “Se não for bem pilotada, essa intersecção (carteira mais crédito) pode gerar uma bolha para risco de crédito para um cliente que antes não tinha acesso à concessão de crédito”, completou.
Fonte: Mobile Time