O Mercado Livre, maior plataforma de comércio eletrônico do país, presente em 18 países, registrou em abril patamares de vendas “bem superiores” ao registrado antes da pandemia da covid-19, e no Brasil, esse ritmo também está superior neste intervalo, disse o comando em entrevista ontem. Para analistas, a empresa havia dito, em teleconferência na terça-feira, que a venda em abril mostrava reação, após um fim de março fraco, o que animou investidores. As empresas do setor – B2W e Magazine Luiza – lideraram as altas na B3. Na Nasdaq, o Mercado Livre atingiu ontem a maior cotação (US$ 742,88) desde a sua abertura de capital, ocorrida há 13 anos. Via Varejo, Grupo Pão de Açúcar e Carrefour já haviam informado uma aceleração mais rápida da operação digital desde o início da crise.
“Em março, os consumidores ampliaram compra em supermercados, em categoria que temos uma presença menor, e sentimos isso. Mas em abril, essa demanda voltou e foi se espalhando para todas as categorias”, disse ontem ao Valor Stelleo Tolda, vice-presidente executivo para América Latina do Mercado Livre. “No nosso caso, esse crescimento não é uma compensação de vendas de lojas fechadas, porque não temos lojas. Para nós, é ganho de ‘share’ (participação de mercado) puro”.
Segundo ele, o fato de a operação no Brasil crescer menos que a de outros países, segundo dados do balanço do primeiro trimestre publicado ontem, não indica uma aceleração mais lenta comparado a outros países. “O Brasil cresce menos porque é um mercado muito maior, naturalmente acaba tendo taxas um pouco menores”.
As vendas do Mercado Livre no Brasil cresceram 55% de janeiro a março (em moeda local), na Argentina, 123%, e no México, 81%. O grupo opera por meio da venda de itens de lojistas hospedados em seu site e aplicativo (marketplace).
A companhia informou que passou a fazer no Brasil a venda direta de produtos típicos de supermercados. As mercadorias são compradas e distribuídas pela empresa. Até então, o Mercado Livre vendia produtos de outros lojistas e de marcas com lojas oficiais no site. Em abril, abriu o segmento chamado “supermercados” no site e no aplicativo. Há cerca de 12 mil itens e mais da metade são produtos comprados pela empresa junto à indústria.
“Adiantamos esse projeto, que seria só para o segundo semestre, por conta dos acontecimentos, pela mudança no comportamento do consumidor”, disse. A compra e a venda direta foi estratégia tomada para avançar com o projeto de forma mais rápida, sem depender da adesão de lojistas de supermercados ao “marketplace” (shopping virtual). Perguntado se a empresa negocia acordos com GPA e Carrefour, para aumento na venda de produtos na plataforma, Tolda disse que ambos já vendem no Mercado Livre e a ampliação do portfólio é decisão das empresas.
Essa primeira fase não inclui a venda de produtos frescos ou de itens congelados, uma venda que poderia pesar mais na estrutura de custos e despesas da empresa.
Magazine Luiza e B2W também aceleraram projetos de investimento no segmento específico de supermercados neste ano. Para especialistas, por conta da pandemia, essa categoria deve ser o foco da nova disputa no varejo digital no resto do ano, ocupando o lugar dos itens de moda.
O Mercado Livre também terá um foco maior na venda direta de produtos eletrônicos de consumo. A Via Varejo havia informado dias atrás que sentiu um desabastecimento neste segmento, em marketplaces que comercializam itens de pequenos lojistas, o que gerou dúvidas no mercado sobre marketplaces com dificuldades de vendas. “Não sentimos problemas com nossos parceiros. Já tinhamos em mente elevar essa venda [direta] agora vira uma oportunidade maior”, diz Tolda. A receita líquida da empresa no primeiro trimestre foi de US $ 652,1 milhões, um aumento de 37,6% em dólares e de 70,5% ao se descontar o efeito do câmbio. A empresa teve prejuízo de US$ 21 milhões, versus lucro líquido de US$ 12 milhões no ano anterior – a alta nas despesas pressionaram o número
Fonte: Valor Econômico