A varejista online Mercado Livre vive um momento de grandes apostas, e de grandes resultados. Suas ações, negociadas na bolsa americana Nasdaq, subiram 60% nos últimos 12 meses, enquanto a empresa anunciou investimentos de 1 bilhão de reais no Brasil em 2017. Segundo o diretor de operações do Mercado Livre, Stelleo Tolda, um dos palestrantes do evento Encontro EXAME CEO, no dia 15 de agosto, em São Paulo, o investimento trouxe um ciclo virtuoso. Aumentou o volume de vendas e de conversões, além de melhorar a experiência de compra para consumidores e vendedores, que utilizam benefícios como frete grátis e o novo centro de logística da empresa.
Em entrevista a EXAME, Tolda afirma que o objetivo é investir 2 bilhões de reais este ano, com fomento a startups, mais gastos com frete grátis e logística — sem medo de encarar o crescimento da varejista digital Amazon no país (a empresa se prepara para entrar no varejo de moda), nem a lei de proteção de dados pessoais, que deve ser sancionada nos próximos dias.
EXAME revelou que a Amazon passará a vender roupas aqui no Brasil, no modelo de market place. A empresa entra em cada vez mais segmentos de negócio. Como o Mercado Livre lida com essa ameaça crescente?
A concorrência já é muito grande. O mercado está cheio de players locais atuando de forma já consolidada, no que diz respeito ao negócio de venda direta, inclusive com diversos players do mundo físico no setor há muito tempo. Temos visto também um movimentos de entrada de concorrentes no market place, concorrendo diretamente com o Mercado Livre que desde sempre atual nesse segmento. A chegada dos estrangeiros no mercado já acontece de certa forma tarde em relação às empresas locais. Digo tarde porque o potencial do e-commerce no Brasil é gigantesco, com uma penetração de menos de 5% do total do varejo no país. Ao mesmo tempo a competição já é muito grande nesse setor. O varejo de moda, como você mencionou, é uma das categorias de destaque e que mais crescem. A Amazon seria só mais um player no segmento que já está altamente disputado.
Vocês anunciaram parceria com a Saraiva para retirada de compras feitas na plataforma em pontos físicos da empresa. Já há startups trabalhando para credenciar pontos de entrega com distribuidoras logísticas, reduzindo custos e aumentando a celeridade da entrega. Há uma perspectiva de fechar parceria com esse tipo de negócio, além das varejistas do Mercado Livre que possuem operação física?
Essa pergunta vai bem ao encontro do que a gente acredita, que é o consumidor quem decide. Algumas pessoas vão preferir ir até uma loja ou até um ponto de retirada, um locker, uma agência dos Correios ou de um provedor logístico. Vai ter gente que prefere receber em casa, pagando mais por maior velocidade. Vai ter o que prefere um custo menor com frete gratuito. A nossa ideia é atender a esse consumidor com o maior número de opções. Do outro lado, nós temos também os vendedores, e há um papel muito importante de oferecer soluções logísticas para eles, desde o mais básico, como etiquetas que ajudam o vendedor a preparar a encomenda e deixá-la pronta para a entrega. Quando ele é um vendedor profissional e tem um grande volume, nós temos desde coleta no local até o armazenamento do produto, além da possibilidade de fazer o processo logístico de empacotamento e envio para o consumidor final. Pontos de retirada na loja são alternativas que nós pretendemos disponibilizar tanto para vendedores quanto para consumidores. Começamos agora com algumas lojas da Saraiva, e o objetivo é aumentar o número de participantes.
Vocês estão com inscrições abertas para o Meli Pitch, programa de incentivo e fomento de startups do Mercado Livre. Isso tem a ver com trazer soluções, como as logísticas, para os membros do market place? Fomentar o sistema de startups está na base do Mercado Livre?
Nós completamos 19 anos recentemente e quando surgimos éramos então uma startup nascente, mas muito inserida nesse ecossistema de inovação tecnológica principalmente no segmento de comércio eletrônico. Depois, acabamos nos envolvendo no segmento também de fintechs, junto com Mercado Pago. Não somos mais uma startup, pois já temos 19 anos, mas temos muita coisa nova sendo feito dentro de casa, muitas ferramentas voltadas nossos parceiros. Sentimos que temos um papel de ajudar esse ecossistema, ajudar empreendedores e de certa forma também ajudar os clientes finais. Há muita inovação nas áreas de logística e de finanças, que vão acontecer em tempo menor para resolver determinados problemas e nós entendemos que é importante fomentar e participar desse movimento. Temos inclusive o MeLi Fund, um fundo que tem o objetivo de contribuir para a empresas nesses ecossistemas em que estamos inseridos.
No ano passado, em agosto, Marcos Galperin, fundador do Mercado Livre, afirmou em entrevista a EXAME que investiria 1 bilhão de reais no país, principalmente em logísticao. Um ano depois, qual é o resultado desse investimento? O Mercado Livre está mais bem posicionado para atender às demandas de um país com a logística bastante difícil?
Não só cumprimos esse compromisso, como a maior parte desse investimento foi feito no frete gratuito. É preciso lembrar que não existe o frete grátis, alguém paga por ele. Nesse caso, o MercadoLivre investiu grande parte desse 1 bilhão de reais no ano passado nesse sentido, para aumentar o volume de vendas, além de marketing e logística. Agora já falamos de um investimento de 2 bilhões de reais aqui no Brasil, seguindo a mesma linha daquilo que já fizemos no ano passado. Esse investimento trouxe um benefício direto na frequência de compra, nas conversões. E isso vem muito com essa experiência melhor que nós estamos oferecendo para o consumidor. Não estamos trabalhando só com frete gratuito mas também para garantir que os tempos de entrega sejam mais rápidos. Com o centro de logística, nós passamos a gerir todo o produto desde o manuseio até entrega, fazendo isso com uma eficiência e o nível de serviço que é melhor do que a média do vendedor individual. Todo esse investimento do ano passado tem se traduzido numa melhor experiência de compra e, portanto, em resultados melhores, com maiores volumes de venda.
Espera-se a aprovação de uma lei geral de dados pessoais pelo presidente Michel Temer nos próximos dias. Como vocês encaram essa questão, não só na plataforma do Mercado Livre, como também na do Mercado Pago?
Estamos tranquilos com relação a isso. É uma discussão da qual participamos há algum tempo como empresa e como membro das câmaras setoriais. É um tema que nós acompanhamos. Não há nenhum tipo de surpresa na aprovação dessa lei, como vimos em outras jurisdições, principalmente a Europa. Existem algumas etapas, claro, algumas exigências que teremos que cumprir assim como todos os outros players da indústria, mas não é nada que nós não estejamos preparados para fazer. Estamos tranquilos.
Fonte: Exame