Por Ilana Cardeal | O Mercado Livre está fechando uma nova rodada de investimentos em projetos de regeneração e reflorestamento na Mata Atlântica e na Amazônia brasileira. Desta vez, serão desembolsados R$ 42 milhões para a restauração e conservação de mais de 8,5 mil hectares de floresta.
Os recursos fazem parte do Regenera América, lançado em 2021. Com os novos recursos, o investimento total do programa na América Latina vai superar R$ 115 milhões – 80% do valor no Brasil e 20% no México.
Nove projetos foram apoiados até aqui. Neste ano, depois de uma seleção entre 110 propostas, uma iniciativa na Amazônia, uma na Mata Atlântica e uma na Selva Maia mexicana vão receber o investimento. Três projetos apoiados no Brasil no ano passado também terão novo aporte.
“Desde o princípio [do programa], entendemos que não queríamos simplesmente comprar créditos de carbono, mas sim gerar impactos socioambientais positivos em biomas locais e gerar benefícios para as comunidades”, diz Mauro Paradella, gerente-sênior de sustentabilidade do Mercado Livre na América Latina.
Por ora, a decisão da líder em e-commerce na região é não comprar créditos de carbono oferecidos no mercado voluntário, mas participar da construção desses projetos.
Os primeiros resultados dessa estratégia devem aparecer já no ano que vem: a expectativa é que o projeto Corredores da Vida, implementado pelo Instituto Ipê em Presidente Prudente (SP), gere seus primeiros créditos de carbono de reflorestamento na Mata Atlântica.
O Mercado Livre, que faturou US$ 10,5 bilhões no ano passado e tem valor de mercado acima de US$ 66 bilhões, ainda não anunciou metas de descarbonização nem um plano para atingir o net zero, como vem sendo amplamente feito por outras empresas.
No ano passado, a plataforma emitiu 1,7 milhão de toneladas de CO2e – 25% a mais que em 2021. A principal fonte são os caminhões e vans que fazem a entrega dos produtos. Parte dos recursos obtidos com uma emissão de bônus sustentáveis de US$ 400 milhões, há dois anos, é aplicada na eletrificação da frota amarelinha característica da marca.
“Estamos trabalhando junto com o SBTi (Science-Based Targets initiative, referência em planos corporativos de descarbonização) para desenvolver as projeções de emissões, com o desafio de estimar o quanto o negócio ainda vai crescer nos próximos anos”, afirma Paradella.
A empresa deve começar o próximo ano com a inauguração de um centro de distribuição em Recife e no Rio. Quanto mais crescem as operações e a logística, maior também o volume das emissões de carbono.
Sem um plano climático anunciado, a empresa vai seguir investindo na geração de créditos com o Regenera. O tamanho do investimento no programa está ligado ao volume de CO2 gerado pelas operações diretas da companhia e também da sua cadeia de valor.
“A partir dos escopos 1, 2 e 3 das nossas emissões, a gente investe proporcionalmente nos projetos do Regenera. Para isso, consideramos um preço de US$ 10 por tonelada”, diz Paradella. A estimativa é feita com com base no mercado voluntário nacional e em estudos do Banco Mundial e Ministério da Fazenda, segundo o executivo.
Iniciativas apoiadas
Mais de 110 projetos se candidataram aos recursos do Regenera. Para fazer a seleção, o Mercado Livre conta com a Pachama, uma startup de tecnologia que tem entre seus serviços o monitoramento remoto de regeneração de florestas por meio de imagens de satélite.
“Buscamos não só o impacto na biodiversidade e nas comunidades, mas também queremos monitorar esse impacto. Não só no discurso, mas na prática. Então analisar: quais são os principais indicadores? Quais tipos de espécies de flora e fauna [da região]? Há algum incremento disso ao longo do ano?”, diz Paradella.
Presente em 18 países da América Latina, a expectativa é que o Regenera seja um programa perene e se expanda para além do Brasil e México, os dois maiores mercados da companhia.
No Brasil, neste ano, serão apoiados duas novas iniciativas: o Curuá, na Amazônia paraense, promete conservar 8,2 mil hectares de florestas, num projeto da empresa de soluções climáticas Future Carbon; e o Novas Florestas, que prevê reflorestar 155 hectares na Mata Atlântica em São Paulo, em parceria com a ONG Agência Ambiental Pick-upau.
No México, o beneficiado será o Corredor Campeche, focado no bioma Selva Maia.
O programa também vai ampliar o investimento em três iniciativas apoiadas no ano passado. A Águas do Rio, no Rio de Janeiro, vai aumentar seu plantio para 170 hectares na Mata Atlântica, em parceria com o Instituto Terra de Preservação Ambiental (ITPA). Na Bahia, a mesma área irá receber o trabalho da iniciativa Corredor Pau Brasil, da ONG Natureza Bela. No Amazonas, o Café Apuí, em parceria com a ONG Idesam, deve chegar a 20 hectares de restauração da floresta amazônica.
Fonte: Capital Reset