Julia Rueff, diretora de marketplace da empresa, explica como é a operação de alimentos e conta que algumas categorias cresceram perto de 300%
Com 52 milhões de usuários ao mês, o Mercado Livre entrou na venda online de itens de supermercados há cerca de quatro meses, acelerando seus planos. “Com a pandemia, tivemos a entrada de 2,9 milhões de novos consumidores no Brasil em nossa plataforma”, explica Julia Rueff, diretora de marketplace da empresa. Desde o lançamento, o novo segmento atingiu 3,5 milhões de pessoas fazendo compras de alimentos, bebidas, produtos de limpeza, higiene, entre outros. Algumas categorias cresceram a taxas de 300% desde o início da operação. Com um mix de 30 mil SKUs, o Mercado Livre se equipara em variedade a um hipermercado. A diferença é que cerca de metade desse sortimento é próprio e metade pertence a parceiros do marketplace.
Entre os diferenciais, está ainda a logística, alvo de constantes investimentos da empresa. Neste segundo semestre, está prevista a inauguração de um Centro de Distribuição (CD) em Lauro de Freitas, na Bahia. O modelo será de fulfillment, no qual a companhia é responsável por todo o processo logístico do vendedor do markeplace (cerca de 11 milhões considerando todo o universo de produtos comercializados). Terceiro neste formato no País e primeiro no Nordeste, o aporte no CD faz parte dos R$ 4 bilhões que serão aplicados pela companhia no Brasil em 2020. O Mercado Livre também anunciou recentemente investimento em uma nova frota para abastecimento dos seus depósitos centrais e entrega direta ao consumidor. Nesta entrevista, concedida por Julia Rueff a SA Varejo, você conhecerá mais sobre a operação de supermercados da empresa.
Em abril deste ano, vocês anteciparam a entrada no segmento de supermercados, iniciando a venda de itens típicos desse canal. O que motivou a acelerar o projeto?
Nós somos líderes no e-commerce e víamos uma grande oportunidade em categorias de baixa penetração online. Por isso, o projeto estava claro para nós em relação aos caminhos que deveríamos seguir e ao fato de que seria uma curva lenta de crescimento na penetração desses produtos no digital. O que acontece é que a Covid-19 mudou os planos. Tivemos a entrada de 5 milhões de novos consumidores na América Latina em nossa plataforma e de 2,9 milhões de pessoas no Brasil. Além disso, constatamos alta na recorrência entre os que já faziam compras conosco, que passaram a adquirir produtos 2, 3, 4 vezes. Diante desse cenário, lançamos nosso supermercado, logo no início da pandemia, com navegação simples e intuitiva, e com mais de 30 mil produtos disponíveis, entre itens próprios e do nosso marketplace.
“As vendas de produtos de supermercados aumentam semana a semana. Desde o lançamento, o segmento de alimentos e bebidas cresceu 164% e o de higiene e limpeza, 300%”
Como estão os resultados e a aceitação pelo consumidor?
Oferecemos um sortimento alinhado com o de um hipermercado e que conta com a presença de marcas importantes, como Heineken, Danone, 3Corações etc. Dessa forma, o cliente compra tudo numa única navegação e recebe num único frete, além de contar com boas ofertas. Em função desses fatores, já alcançamos 3,5 milhões de consumidores brasileiros que fazem compras de supermercado no Mercado Livre. Tem sido um aprendizado intenso, mas estamos conseguindo um NPS [medida de satisfação do consumidor] alto. Em relação às vendas, elas aumentam semana a semana. Desde o lançamento, o segmento de alimentos e bebidas cresceu 164% e o de higiene e limpeza, 300%.
Por que o Mercado Livre já se interessava pela venda de alimentos antes da crise do novo Coronavírus?
O comportamento de compra do consumidor para itens de necessidade básica era focado no varejo físico. As pessoas iam cerca de sete vezes ao mês em lojas, mesmo comprando outros produtos online. Por conta disso, o Brasil estava distante de outros países, como EUA e os da Europa. Na Ásia, nem se fala, a participação do e-commerce é bem maior. Sabemos que o Brasil já estava no processo de transformação digital, do físico para o online, e que a migração na compra de alimentos aconteceria naturalmente para o digital. Os grandes players tinham – e ainda têm – responsabilidade nessa mudança, oferecendo bons serviços e ajudando o consumidor a entender que essa jornada focada no físico pode acontecer no online.
Logo no início da operação, foi divulgado que 50% dos produtos vendidos no segmento de supermercados eram próprios e a outra metade do marketplace. Essa divisão permanece?
Esse percentual varia um pouco conforme vão entrando novos vendedores na plataforma. Atualmente, temos um total de 11 milhões de parceiros em todos os tipos de produtos comercializados. Depois que lançamos a navegação de supermercado, tivemos uma procura forte de novos interessados em fazer parte do marketplace, como distribuidores e varejos. O estoque desses parceiros fica dentro do nosso depósito de fulfillment, junto com os itens comprados por nós, o que reduz a ruptura e agiliza a entrega ao consumidor. Não cobramos por isso nem pelo processo de aprovação do pagamento, feito dentro da plataforma. Além disso, subsidiamos o frete para os nossos vendedores do marketplace em muitas promoções de entrega grátis.
No caso dos produtos vendidos pelo Mercado Livre, a compra é feita diretamente dos fornecedores?
Sim, compramos direto da indústria por meio de uma equipe própria. A ideia é que os produtos negociados diretamente sejam complementares aos oferecidos pelos nossos parceiros do marketplace. O sortimento vai sendo refinado, mas, em geral, temos um foco maior nos itens mais vendidos e mais relevantes para o consumidor, com o objetivo de garantir disponibilidade e ofertas.
A última milha é um grande desafio no e-commerce. Como funciona no Mercado Livre?
Como comentei, o estoque é do vendedor, mas fica armazenado em um CD que opera no modelo fullfilment center, conectado à malha logística. Na pandemia, batemos um recorde com mais de 50% das entregas sendo feita por meio dela. Dependendo da rota, temos subcentros de distribuição. Ou seja, contamos com uma malha eficiente e exclusiva e chegamos à última milha de diversas maneiras. Estamos conectados com várias transportadoras, que trabalham exclusivamente para o Mercado Livre. Hoje, 70% das entregas são feitas em até 48 horas. E, em seis capitais, entregamos em até um dia: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Distrito Federal. Para este semestre, está prevista a abertura de um CD em Lauro de Freitas, na Bahia, que vai agilizar as entregas para o Nordeste.
Fonte: S.A. Varejo