Por Adriana Mattos | O Mercado Livre está ocupando um espaço maior na chamada venda “1P” de eletrônicos e eletrodomésticos, que trata da comercialização de itens próprios, adquiridos da indústria. Trata-se de uma concorrência direta a Magazine Luiza e Casas Bahia, que há décadas atuam na área.
O tema já chamava atenção de analistas e gestores nos últimos tempos, porque já circulavam informações no mercado sobre o maior apetite da empresa na área.
Um espaço no segmento foi aberto após a crise da Americanas e encolhimento de redes locais com a escalada dos juros que pressionou os resultados de varejistas nacionais após a metade de 2021. Mercado Livre é uma plataforma com atuação na América Latina e que recebeu aportes nos ultimos anos para aumentar investimentos especialmente no Brasil e México.
“Aceleramos neste ano a venda de eletrônicos como tablets e telefones, que são itens menos pesados. Pelos nosso dados de venda frente aos dados da Neotrust, já somos o maior vendedor de laptop. Mas também estamos trazendo a venda dos itens pesados, como geladeiras. Queremos que o consumidor que já compra com a gente itens menores comprem também mercadorias pesadas, e isso acabará gerando um ciclo de venda recorrente”, disse.
O Valor apurou que isso vem ocorrendo neste ano com apoio da indústria, que vê em Meli um canal que pode ser mais relevante e ajudar a reduzir a dependência das fabricantes para Magalu e Casas Bahia.
Segundo Yunes, Meli quer ser líder de vendas em eletrônicos no país, e para isso precisa ter uma venda relevante própria. Ele afirma que nao é preciso ser lider em eletro para ser o maior do pais, mas que há um complemento na venda.
“Nós já somos líderes no online sem o eletro. Mas o 1P de eletro vamos gerando maior percepção de força de marca em mais categorias.”
Para especialistas, haveria uma barreira ao Mercado Livre nessa área, e o grupo pode estar tentando reduzir isso.
“Acontece que as pessoas têm receio de comprar com eles um produto caro, como uma geladeira ou lavadora, até pela questão da logística. Se der um problema num produto de R$ 10 mil, o cliente tem receio de como resolver. Eles não têm loja. Ao começar por itens pequenos, como notebooks, de distribuição mais fácil, podem ir comendo pelas bordas”, diz um consultor que presta serviços a vendedores de plataformas on-line.
No ano passado, surgiram informações no setor de que a Casas Bahia poderia fechar um acordo de distribuição com o Mercado Livre para fazer essa logística. A questão logística é um dos entraves principais no negocio 1P de itens pesados.
O Valor apurou que essa conversa ocorreu na gestão anterior da Casas Bahia, que mudou de comando neste ano. Neste momento, essa conversa não estaria mais ocorrendo.
Razões táticas
A iniciativa da empresa tem razões táticas. Não há vendedores parceiros na plataforma tão representativos em eletrônicos e eletrodomésticos, o que torna imperativo montar uma estrutura de 1P para ir ganhando mercado.
A Black Friday deste mês acontece já dentro da expectativa que essa venda de produtos próprios cresça, em termos de participação na receita, no bolo total. A venda de produtos de terceiros ainda é mais de 90% do total, mas a companhia identificou abertura de espaço no setor para subir o percentual do 1P.
Fernando Yunes, executivo do grupo no país, disse hoje, em entrevista no centro de distribuição da empresa em Cajamar (SP), que não há intenção do 1P disparar em curto espaço de tempo, mas afirma que a empresa viu um conjunto de condições que levou a aceleração da venda própria de produtos de maior valor.
Fonte: Valor Econômico