De abril a junho, no auge do isolamento social, a companhia vendeu por dia no Brasil cerca de um milhão de itens, em média, quase o dobro de um ano atrás
O Mercado Livre abre a temporada de balanços das varejistas on-line no país com números impressionantes no segundo trimestre, dizem analistas, o que eleva a pressão sobre os rivais, que também se preparam para apresentar seus balanços. De abril a junho, portanto, no auge do isolamento social, a companhia vendeu por dia no Brasil cerca de um milhão de itens, em média, quase o dobro de um ano atrás. Nos 18 países onde atua, foram 178,5 milhões de produtos vendidos no trimestre – o Brasil ficou com metade desse volume.
“Estamos vendo em julho e neste mês de agosto a manutenção desse ritmo de crescimento visto em junho, o que reforça nossa expectativa de que esse avanço rápido do comércio eletrônico no Brasil não tem mais volta. É reflexo, em parte, da entrada [na plataforma] de novos usuários que nunca tinham feito qualquer compra antes da pandemia”, disse Stelleo Tolda, co-fundador e diretor de operações da companhia no Brasil. O número total de novos usuários subiu quase 30%, para 17 milhões de abril a junho.
A empresa apurou alta de 87% na receita no país, em moeda local. Em dólar, alcançou US$ 465,3 milhões, expansão de 36%. A empresa não informa dados de vendas em reais, mas considerando o câmbio ao fim do trimestre, equivaleria a R$ 2,4 bilhões.
Segundo Irma Sgarz, analista do Goldman Sachs, o Mercado Livre relatou “um forte conjunto de resultados”, com vendas brutas totais mais que dobrando e expansão total do volume de transações com o Mercado Pago, de 142%. O Mercado Pago é a plataforma de pagamentos on-line da companhia. “Embora a gestão não forneça números de tendências do trimestre, observou [na teleconferência ontem] que as tendências de crescimento permaneceram mais fortes do que no início do segundo trimestre”, disse Sgarz.
Magazine Luiza, B2W e Via Varejo publicam balanços do segundo trimestre nos próximos dias.
Considerando toda a operação na América Latina, a receita líquida somou US$ 878,37 milhões, aumento de 61,1% em dólar, e de 123,5% em moeda constante. O lucro líquido aumentou mais de três vezes, para US$ 55,9 milhões – a empresa não publica dados de lucro no Brasil.
Com lojas fechadas e o brasileiro tendo que recorrer ao on-line até mesmo para comprar itens básicos e de baixo valor, a demanda subiu e mais lojistas passaram a usar serviços da empresa, como o Mercado Envios, sistema de postagem feito em parceria com os Correios. Pela primeira vez, este serviço passou a responder por 51% das entregas, mais que o dobro de um ano atrás. Quanto mais serviços os lojistas usam, maior é a receita final da empresa.
Sobre o Mercado Crédito, a empresa disse que precisou, no primeiro trimestre, reduzir liberações de linhas a clientes, frente ao aumento de risco na época, mas vem normalizando isso.
A empresa ainda mencionou a analistas que deve voltar a expandir os seus gastos em marketing, após uma desaceleração no segundo trimestre. Deve reagir a um movimento de maior exposição da marca de seus concorrentes – Magazine Luiza e B2W lançaram campanhas com foco em “cash back” (devolução de dinheiro ao cliente). “No segundo trimestre, com demanda forte, vimos que poderíamos desacelerar, mas pretendemos retornar aos níveis anteriores”, disse o executivo.
Para atender maior ritmo de entregas, a empresa vai abrir ainda neste ano um quarto centro de distribuição no país, em Lauro de Freitas (BA) – dois já estão funcionando e o plano é abrir mais dois. Um deles seria em Gravataí (RS), mas não houve acordo com o governo gaúcho. A companhia busca um novo local.
Fonte: Valor Econômico