Uma empresa sustentável busca crescimento não só em rendimentos financeiros e melhorias no processo produtivo, como também na relação com funcionários, clientes e demais stakeholders. Para uma época em que o capitalismo deixou de ser sinônimo de números, o modus operandi das companhias ganha cada vez mais espaço, afirma Leonardo Lima, diretor de desenvolvimento sustentável do McDonald’s.
“É preciso tempo e esforço [para transformar a empresa], mas não há outro caminho. A consciência nos negócios faz a companhia se perpetuar”, afirma o executivo, que atua na operadora do McDonald’s no Brasil há mais de 12 anos.
Segundo Lima, a pressão por resultados financeiros não perdeu relevância com as exigências do mercado por sustentabilidade. Pelo contrário, elas se tornaram complementares. “Os resultados para os acionistas são uma combinação de fatores: respeito ao ser humano, ao meio ambiente e às leis”, afirma.
O tema será discutido na Conferência Latino-Americana sobre o Capitalismo Consciente 2019, que acontece em São Paulo, nos dias 19 e 20 de março.
O evento contará com 26 palestras que abordarão exemplos, troca de experiências e exercícios práticos. Entre os palestrantes estão Luiza Helena Trajano, presidente do conselho da Magazine Luiza; Alexandre Costa, fundador e CEO da Cacau Show; Tallis Gomes, CEO da Singu e Fundador do Easy Taxi; e o próprio Leonardo Lima, do McDonald’s.
Confira conversa com o executivo da rede de fastfood:
Como o McDonald’s atua para gerar resultados e ser consciente ao mesmo tempo?
Lucro e consciência não são mais objetivos antagônicos. O equilíbrio entre resultados financeiros e conquistas sociais e ambientais viabiliza a operação das empresas nos próximos 100 anos. O McDonald’s chegou a um modelo de capitalismo consciente avaliando seu próprio propósito, a sociedade e seu time de profissionais. A rede, por exemplo, é uma das companhias que mais emprega jovens que não possuem experiência. Em 2018, 15 mil profissionais de até 25 anos foram contratados. A expectativa para este ano é de 18 mil jovens com carteira assinada. Moradores de rua e refugiados recentemente passaram a ser contratados pela empresa também.
E como lidar com os demais stakeholders?
Compramos muitos insumos indiretamente. Por este motivo, temos um padrão global de compra de matéria-prima para manter a qualidade dos produtos e o padrão de nossos alimentos em diversos locais do mundo. Nossa preocupação começa desde a produção de um nugget: quais impactos ambientais decorreram da produção? Como os funcionários foram tratados? Não adianta a gente ter um bom produto se por trás do sabor do lanche há um funcionário mal tratado ou um dano ambiental irreparável. A consciência nos negócios faz a companhia se perpetuar.
É difícil agradar acionistas e suportar a pressão externa sem abandonar essa ‘consciência’?
A pressão sempre ocorre. O mercado sabe, contudo, que uma empresa sem administração consciente não tem sustentabilidade a longo prazo. Os resultados para os acionistas são uma combinação de fatores: respeito ao ser humano, ao meio ambiente e às leis. A economia circular não dá resultado na hora, mas o acionista sabe sua importância para o negócio. Todos os resíduos do McDonald’s vão para reciclagem ou para compostagem. Também reduzimos o uso de embalagens.
Como o McDonald’s mantém seus princípios em todas as lojas do mundo? As regras são as mesmas globalmente? Como são controladas?
O McDonald’s foi fundado para ser uma franquia. E para mantermos um padrão de trabalho nos 120 países que operamos, temos a política Scale for Good (Cresça para o bem, em tradução livre). O desafio é manter esse padrão em escala global. Quando a rede cria alguma política, cada país é responsável por desenhar um plano estratégico e colocar essas regras em prática. Uma delas, por exemplo, determina que até 2025 todas as embalagens da marca no mundo sejam fabricadas de fontes renováveis, recicladas ou certificadas.
E como engajar os funcionários neste projeto?
Nossa proposta agora é levar educação ambiental e social para a sociedade como um todo. Queremos despertar nos clientes o interesse pelo trabalho ambiental que realizamos nos restaurantes, como a separação de resíduos e a economia de água. Tudo de uma forma agradável para que ele saia do restaurante feliz por ter aprendido algo novo — que possa ser aplicado em casa.
Internamente, o projeto é elevar a consciência de 2 mil líderes até 2020 no Brasil, por meio de treinamentos e eventos. Os demais funcionários já recebem orientação pelo celular com quiz e games pedagógicos. Cerca de 2 milhões de pessoas vão a um McDonald’s no Brasil por dia. Imagina transmitir informações de qualidade para todos esses clientes?
Fonte: Época Negócios