Por Pedro Arbex | O Grupo Mateus reportou um segundo trimestre com crescimento expressivo nas vendas — mas com uma pressão na margem bruta e uma piora marginal no capital de giro.
O misto de supermercadista e atacarejo cresceu sua receita líquida em 23,6% para R$ 6,4 bilhões, com as vendas ‘mesmas lojas’ avançando 10% apesar do momento desafiador para o varejo alimentar.
Essa alta veio num trimestre em que seus dois principais peers reportaram same-store sales negativos: 2% no Assaí, e 4,3% no Atacadão.
Analistas costumam atribuir o melhor desempenho relativo a uma competição mais fraca no Nordeste em comparação ao Sul/Sudeste. Mas o CEO Jesuíno Martins disse ao Brazil Journal que diversos outros fatores explicam essa diferença.
“Temos sido muito assertivos nas nossas campanhas publicitárias e a experiência de compra tem sido um diferencial nosso também. Sempre investimos muito em açougue, padaria, peixaria,” ele disse. “O Sudeste e Sul tem uma competição forte, mas a competição aqui é muito difícil também.”
Jesuíno disse que a companhia tem conseguido crescer volume e preço mesmo num cenário de juros altos e deflação. Dos 10% do crescimento ‘mesmas lojas’, 7 pontos vieram de volume, e apenas o restante de aumentos de preço.
Apesar do crescimento expressivo, o Grupo Mateus viu sua margem bruta ceder 0,8 ponto percentual na comparação anual, passando de 22,6% para 21,8%. Já a margem EBITDA subiu de 6,8% um ano atrás para 7,5% agora.
Na comparação sequencial, a margem bruta vem mostrando um avanço relevante nos últimos trimestres. No quarto tri, a margem havia sido de 20,4%, impactada por promoções mais agressivas para reduzir estoque, e no primeiro tri, de 21,1%.
O CFO Túlio Queiroz disse que a margem bruta tem melhorado no sequencial porque a empresa já resolveu o problema de excesso de estoque e porque as lojas novas estão maturando.
Pela primeira vez, o Mateus abriu a rentabilidade das lojas que completaram um ano da chamada ‘Nova Regional’, que inclui todas as lojas abertas desde o IPO no Nordeste, excluindo os Estados do Maranhão, Pará e Piauí.
Das 26 lojas que compõem essa regional, sete já completaram um ano e entraram nesse recorte. Segundo Túlio, essas sete lojas tiveram uma margem EBITDA de 3,7% no trimestre, em comparação a uma margem de zero a 1% no primeiro tri.
O CFO disse que o objetivo é que essas lojas cheguem ao mesmo nível de rentabilidade da empresa quando atingirem a maturação, com três a quatro anos.
Segundo ele, essa margem menor tem a ver, em parte, com as despesas administrativas, que ainda não estão diluídas num parque grande de lojas. “Se excluirmos essas despesas administrativas, a margem EBITDA dessas lojas já iria para 6,7%. Isso mostra a capacidade de expansão de rentabilidade conforme o plano de expansão for maturando,” disse ele.
A dinâmica de capital de giro do Mateus piorou marginalmente no trimestre, com o chamado ciclo de conversão de caixa — que considera recebíveis, estoque e fornecedores — subindo 3 dias em relação ao trimestre anterior, para 82 dias. A empresa disse que essa piora teve a ver com uma diminuição do prazo de pagamento dos fornecedores, de 43 dias para 42 dias.
“No final do trimestre reduzimos um pouco o volume de compras e isso acabou diminuindo o prazo de fornecedores. Mas nossa leitura é que ficou dentro do eixo, num nível muito controlado.”
O estoque se manteve no mesmo patamar do tri anterior, em 90 dias.
No quarto tri o Grupo Mateus havia feito um ajuste expressivo nos estoques, melhorando substancialmente o ciclo de conversão de caixa da empresa. Para se ter uma ideia, no segundo tri do ano passado o ciclo de caixa estava em 97 dias, com os estoques em 102 dias.
A varejista também reportou um consumo de caixa de cerca de R$ 315 milhões no trimestre, com dois terços disso vindo dos investimentos em expansão, e o restante (R$ 114 milhões), do capital de giro.
O Mateus havia queimado R$ 100 milhões no primeiro tri, depois de gerar quase R$ 1 bi no quarto trimestre por conta do esforço de redução de estoques, com descontos mais agressivos.
Com o consumo de caixa, a alavancagem do Grupo Mateus teve uma leve piora, saindo de 0,1x EBITDA para 0,3x, num patamar ainda saudável.
O Mateus abriu três lojas de abril a junho — dois atacarejos no Ceará (um em Fortaleza e outro em Maranguape), e um supermercado em Coelho Neto, no Maranhão. No primeiro tri, a rede havia aberto outras seis lojas.
Ilson Mateus, o fundador e chairman, disse que o plano é abrir 28 lojas no consolidado do ano, o que vai implicar numa aceleração relevante da expansão no segundo semestre.
A ação fechou a R$ 7,97, com a companhia valendo R$ 17,6 bilhões.
Fonte: Brazil Journal