Lojistas expandem atuação digital com plataformas, mas devem investir no ecommerce próprio
Por Flavia G. Pinho
Durante a pandemia, os marketplaces tiveram um importante crescimento dentro do comércio virtual. Se em 2019 representavam 35% do faturamento do setor, em 2020 aumentaram sua fatia para 51%.
Os dados são da Abcomm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico), que aponta uma alta de 68% de todo o ecommerce no país no ano passado.
Os marketplaces funcionam como shoppings do varejo digital, nos quais pequenas lojas são abrigadas pelo guarda-chuva das grandes redes.
Ana Paula Simões, 45, fundadora da APL Simões Shop, é uma dessas lojistas. Desde março de 2020, os relógios que ela revende fazem parte do catálogo online da Magazine Luiza.
A empresária foi atraída pelo projeto Parceiro Magalu, que a rede lançou no começo da pandemia, para atrair micro e pequenas empresas, sobretudo aquelas que ainda não tinham estreado no mundo digital.
“No primeiro mês, faturamos R$ 10 mil. Em junho, estouramos o limite de faturamento anual de MEI [microempreendedor individual], de R$ 81 mil”, afirma.
Segundo ela, fizeram diferença para o bom resultado a grande base de clientes do marketplace e a confiança que a marca inspira nos consumidores.
Em troca de uma comissão de 3,99% sobre vendas realizadas, a Magalu se responsabiliza pela logística, da retirada dos produtos no estoque até a entrega, e oferece suporte pós-venda.
De acordo com Leandro Soares, 47, diretor-executivo de marketplace do Magazine Luiza, as condições oferecidas pela rede atraíram um grande contingente de micro e pequenos empreendedores, principalmente dos setores de moda, calçados, acessórios e utilidades para o lar.
“Trinta mil novos parceiros entraram para o nosso marketplace, sendo a grande maioria por meio dessa nova plataforma para os pequenos”, afirma.
A agilidade que os marketplaces garantem, entre o momento do pagamento e a entrega na porta do consumidor, é uma das maiores vantagens oferecidas a pequenos lojistas e fabricantes.
Foi com esse objetivo que a Olist, integrador que permite aos clientes vender simultaneamente em vários marketplaces de grande porte, adquiriu, em dezembro de 2020, a empresa de logística Pax.
Segundo Tiago Dalvi, 37, fundador da Olist, a aquisição viabilizou entregas em menos de 24 horas nas capitais e áreas metropolitanas.
“A pandemia fez com que os marketplaces evoluíssem bastante. Hoje, qualquer empresa, independente do porte ou do setor de atuação, pode vender pela internet e entregar com rapidez.”
Outro fenômeno estimulado pela pandemia foi a proliferação de marketplaces de nicho.
Fundada como uma loja virtual, a Sonoma se transformou em dezembro de 2020 em um marketplace especializado em vinhos e alimentos gourmet. O catálogo dispõe de 1.000 itens, de 30 fornecedores, entre microprodutores e pequenos empórios. O objetivo é chegar a 120 vendedores até o fim deste ano, afirma Alykhan Karim, 36, fundador.
A empresa oferece dois tipos de pacote. No self-service, o lojista abre uma filial online dentro do site, mas se responsabiliza por tudo, desde a integração tecnológica até o despacho das mercadorias. Nesse caso, a comissão fica entre 15% e 18%.
Já quem opta pelo pacote full service paga até 35% de comissão, mas deixa toda a rotina de vendas nas mãos da Sonoma, que gera os anúncios, armazena o estoque e cuida das entregas.
Bruno Faccin, 30, que comanda a pequena vinícola Faccin, em Monte Belo do Sul (RS), assinou contrato em dezembro de 2020.
No início, sem qualquer experiência no varejo online, ele desconfiou um pouco do sistema, mas resolveu arriscar e assinou o pacote full service. O primeiro lote de 300 garrafas enviado à Sonoma, em dezembro, rapidamente se esgotou. Outro, de 200, já está no depósito.
“O retorno foi imediato. Hoje, o marketplace já responde por cerca de um terço das vendas.”
Ex-colegas em uma indústria automotiva, Gustavo Cinquegrana, 40, e Alberto Grave, 42, também decidiram investir em um marketplace de nicho.
Eles acabam de lançar o Elfcar, especializado em peças de diferentes tipos de veículos, de automóveis a tratores. Investiram R$ 2 milhões na empreitada e pretendem faturar R$ 12 milhões no primeiro ano de atividade.
A empresa recebe 12% de comissão dos lojistas, que podem parcelar as vendas aos consumidores em até 12 vezes, com taxa de juros de 1,15% ao mês. A dupla espera que 70% da clientela seja formada por micro e pequenos empreendedores.
“A segmentação permite entender melhor a operação e as necessidades dos lojistas e dos compradores”, afirma Alberto.
Para Eder Max de Oliveira, consultor de negócios especialista em marketing digital do Sebrae-SP, estrear no varejo online por meio de um marketplace é um bom caminho para quem não domina o universo da tecnologia.
Para começar, ele sugere fazer um levantamento cuidadoso de todos os recursos oferecidos pelo marketplace e quanto ele cobra por isso.
“A comissão pode parecer alta a princípio, mas é preciso colocar na ponta do lápis todos os custos que a empresa teria com a operação de forma independente, da divulgação do anúncio à logística de entrega. Na maioria das vezes, não há muita diferença no fim das contas”, explica.
Na hora da comparação, diz ele, deve-se levar em conta que os marketplaces têm mais poder de negociação com as empresas de logística, garantindo agilidade por taxas de frete mais amigáveis.
Eles também resolvem outro gargalo comum às microempresas que atuam no varejo online: a falta de funcionários.
“Quem vende pela internet precisa estar atento todo o tempo e processar os pedidos de forma instantânea, porque isso impacta no prazo de entrega e, consequentemente, na reputação da empresa.”
Em compensação, afirma o consultor, o marketplace não ajuda a fortalecer a marca do pequeno lojista ou fabricante. Ao concluir a operação o consumidor vai lembrar que comprou de uma grande rede, e não da pequena empresa.
“O empreendedor pode até começar vendendo exclusivamente pelo marketplace para atingir uma base maior de clientes. Mas, para colocar a própria marca em evidência e gradativamente tornar o negócio mais lucrativo, a melhor alternativa é investir no ecommerce próprio.”
Fonte: Folha de S. Paulo