Em 11 anos de trabalho com o ranking das Marcas Brasileiras Mais Valiosas, alguns aprendizados vão ficando mais evidentes. Um dos que mais se destaca, a meu ver, é a importância da lealdade às marcas. Essa capacidade de fidelizar o consumidor é um dos principais ativos das empresas, pois protegem o valor das marcas em períodos desafiadores, como nas épocas de crise.
Ainda assim, até mesmo marcas extremamente fortes e valiosas podem sucumbir em meio a situações que fogem do padrão ético do mercado, como são os casos de escândalos de corrupção, que permearam diversos setores do Brasil nos últimos anos, afetando governos e também empresas.
Abaixo destaco cinco tendências que percebi nessa década trabalhando com valoração de marcas, e que podem ser úteis para que executivos avaliem a saúde das marcas com que trabalham.
1. Reputação corporativa é parte importante do valor de uma marca
O mercado não perdoa empresas que falham em sua governança corporativa ao envolverem-se em processos ilícitos, ligados à corrupção. Essas situações oferecem um baque na reputação corporativa, o que faz com que os consumidores evitem comprar seus produtos ou serviços, e que investidores reduzam as apostas em ações dessas marcas ou empresas. Isso afeta diretamente o valor do negócio e, consequentemente, a valoração das marcas.
A Petrobrás é um exemplo do risco de não cuidar da reputação corporativa: entre os anos de 2010 e 2012, a marca foi a mais valiosa do país, avaliada nesse triênio em USD 9,7 bilhões, USD 13,4 bilhões e USD 10,6 bilhões de dólares, respectivamente. Esses calores nunca foram superados no ranking nestes 11 anos, e a marca chegou em 2017 sendo avaliada em UDS 719 milhões. A empresa sofreu com processos associados a corrupção e viu o valor das suas ações despencar de R$ 54 em maio de 2008, antes da crise financeira mundial, para chegar em míseros R$ 4,10 em janeiro de 2016, uma queda de 92%. No início de 2017, as ações da Petrobrás chegaram a ter leve recuperação (avaliadas em R$ 13) o que mostra um sinal positivo.
2. Marcas de bens de consumo não duráveis sobem ao ranking impulsionadas pela classe média
Desde a implantação do Plano Real em 1994 a classe média, representada principalmente pela classe C, com 114 milhões de Brasileiros em 2015, saltou de 33% da população para mais de 50% nos dias de hoje. Essa população impulsionou o consumo de bens de consumo não-duráveis (FMCG), como alimentos, bebidas, produtos de higiene pessoal e produtos de limpeza. Com isso, marcas deste segmento como Skol, Brahma, Antarctica e Bohemia, da AB Inbev, Sadia e Natura, têm configurado entre as 10 mais valiosas nestes 11 anos.
3. Foco no consumidor ajuda a pautar estratégias de negócio
Marcas com propósito centrado no consumidor, que são orientadas para não apenas atender necessidades, mas superar expectativas, normalmente se destacam da concorrência com inovação, criando com isso uma vantagem competitiva.
A Skol, a marca mais valiosa do Brasil por 5 anos consecutivos (2013 a 2017) e a mais valiosa da América Latina entre 2015 e 2016, é um bom exemplo desta estratégia: há consistência em seu posicionamento, que aposta em um público mais jovem, disposto a adotar uma marca para a vida toda. A Skol tem também patrocinado festivais de música para este público, o que tem fortalecido a sua relação com o mesmo.
Outra marca com este posicionamento é a rede de farmácias Raia Drogasil, que tem inovado ao criar, por exemplo, a figura da consultora de beleza em suas lojas, oferecendo um serviço diferenciado em relação a concorrência e que vem sendo percebido positivamente pelos investidores da bolsa de valores e pelos consumidores: a marca Drogasil cresceu 122% em 2017, passando para USD 624 milhões, e a marca Raia cresceu 125%, para USD 481 milhões.
Fonte: IstoÉ Dinheiro