Em um mundo em que, mais do que nunca, o ditado “tempo é dinheiro” rege a vida das pessoas, começa a ganhar força um movimento que propõe um basta à luta contra o relógio. Primeiro, foi a vez do fast food (comida rápida, na tradução) dividir espaço com o slow food (que significa comer devagar, valorizando e saboreando os alimentos). Agora, esses conceitos chegam também à moda.
O slow fashion propõe uma forma de comprar diferente do fast fashion, na qual a diversidade de peças, a preocupação com o impacto da produção no meio ambiente e a qualidade de vida dos funcionários passam a ser preceitos fundamentais na hora da compra. Empresas que optam pela produção em massa estão alheias à questão da sustentabilidade e ignoram as condições dos trabalhadores de forma a priorizar apenas uma mercadoria de baixo preço e o consumo rápido passam longe da escolha dos adeptos à nova proposta.
Essa moda sustentável defende que produtores, designers e consumidores tenham consciência do impacto do vestuário sobre a vida das pessoas e sobre o ecossistema. Assim, todas as roupas e acessórios devem ser produzidos por métodos menos prejudiciais ao meio ambiente, levar em conta a ética tanto na dimensão ambiental quanto nas questões sociais.
Entre os principais argumentos dos defensores dessa forma de consumo está o volume de matéria-prima usado pela indústria têxtil, como algodão, água, lã e couro, por exemplo. Para se ter uma ideia, a produção mundial de vestuário chegou a 48,3 milhões de toneladas em 2014, segundo o “Mercado Potencial de Vestuário, Meias e Acessórios 2016”, do Iemi – Inteligência de Mercado. O levantamento contabiliza apenas os itens fabricados nos padrões industriais.
“O movimento slow é um estilo de vida vinculado ao consumo consciente e descarte responsável dos produtos”, explica Cariane Camargo, pesquisadora do Núcleo de Moda Sustentável da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Além disso, completa a especialista, valoriza a variedade, a multiplicidade e a importância cultural, respeitando os limites de resiliência do planeta e desafiando o consumismo atrelado ao fast. “Se não mudarmos a forma de consumir, o planeta não resistirá, e as futuras gerações pagarão um alto preço”, aponta, ao lamentar que a indústria tradicional ainda resista em aderir aos princípios de uma moda mais sustentável.
Por isso, um dos principais desafios do movimento é gerar consciência tanto nos produtores quanto nos consumidores. Dessa forma, peças de brechós e garrafas de plástico podem ser transformadas em calçados. Nas mãos de Adriana Tubino e Itiana Pasetti, câmaras de pneus e nylon de guarda-chuvas viram mochilas. Em 2010, as empreendedoras se tornaram sócias e fundaram a Vuelo para fazer produtos o mais sustentável possível.
“Queríamos trabalhar com sustentabilidade e que o projeto trouxesse benefícios para o mundo”, destaca a publicitária Adriana. O objetivo inicial era produzir uma weekend bag – na tradução livre, mala de fim de semana -, ideia que foi engavetada, mas que deu origem a outro projeto. Como o foco era reciclar, o couro, material pensado inicialmente, deu lugar a resíduos que iam parar no lixo e que poderiam ser reutilizados.
“Pesquisando materiais, chegamos na câmara de pneu e no nylon de guarda-chuva, materiais extremamente descartáveis e que não tinham ainda uma destinação correta”, conta Itiana. Estima-se que, no Brasil, sejam desprezados pelo menos 25 milhões de pneus por ano. A câmara de ar encaixa-se dentro do pneu e é muito resistente e maleável, além de não ser biodegradável. Em aterros, levam mais de 500 anos para se decomporem. Os guarda-chuvas também são descartados em grande quantidade.
A partir da idealização da weekend bag, a dupla reconheceu que a marca, que até então era um projeto paralelo – Adriana trabalhava em uma agência de publicidade e Itiana, com moda -, poderia se tornar um negócio. Em 2013, a Vuelo alçou voo para o mundo.
Além da mala de fim de semana, começaram a ser produzidas mochilas, capas para notebook, ipad e cadernetas, tudo confeccionado com mesmo material. O início do empreendimento foi com o e-commerce próprio e a venda dos produtos diretos para os vuelistas – como são chamados os clientes da empresa. “Sempre consideramos que as pessoas que estavam comprando nosso produto não era apenas porque gostariam de ter algo da Vuelo, mas porque elas acreditam na causa, então elas são mais que clientes e consumidores”, explica Adriana.
A cadeia cíclica criada para chegar aos produtos finais é um dos diferenciais a que a Vuelo aderiu desde o início. Todas as câmaras são resgatadas no mesmo local, para reduzir a queima de CO2, e a lavagem dos guarda-chuvas é realizada em uma lavanderia industrial, com água captada da chuva.
Os ventos do empreendimento mudaram no ano passado, quando a Vuelo passou em um processo seletivo da Yunus, uma aceleradora mundial de negócios sociais. A partir de então, as sócias reestudaram o modelo de negócios da empresa, com o propósito de gerar ainda mais impacto para a sociedade. “Criamos uma cadeia produtiva totalmente circular. Como estávamos começando no lixo, não queríamos que terminasse no mesmo lugar. O projeto nasceu com a logística reversa toda pensada. É um processo cíclico, não tem fim”, salienta Adriana.
Desde então, o foco é o mercado corporativo, e não mais o cliente final. No início, a Vuelo produzia mensalmente 120 produtos, em média 300 câmaras e 300 guarda-chuvas reciclados. Quando começaram a receber encomendas de empresas, a produção estava em cerca de 1.000 a 1.500 peças. O maior pedido recebido recentemente foi uma encomenda de 16.600 produtos, para a qual foram recicladas 3 toneladas de resíduos. “Inseridas nas empresas e indústrias, conseguimos reciclar mais e ainda gerar empregos para toda a cadeia produtiva, para os recicladores, para os borracheiros. O impacto positivo é muito grande”, destacam as sócias. O objetivo da Vuelo é incentivar que as indústrias não gerem mais lixo e tornem os resíduos em matéria-prima outra vez.
Ada Augusta King, condessa de Lovelace e conhecida como Ada Lovelace, é a mãe da computação. Em 1842, ela escreveu o primeiro algorítimo a ser processado por uma máquina. Hoje, ela inspira e dá nome ao Conceito Ada, grife de Camila Puccini e Melina Knolow.
A preocupação com o meio ambiente e com a cadeia produtiva em que as roupas são produzidas incentivou a dupla a buscar uma maneira mais sustentável de se vestir. “Começamos a pesquisar marcas que fossem compatíveis com o que acreditamos e encontrávamos pouca coisa ou produtos muito caros. Assim, passamos a fazer nossas roupas”, conta Camila.
O que era uma produção pessoal, tornou-se um negócio. No dia 8 de março deste ano, não por acaso, o Dia da Mulher, elas lançaram a Ada, que une o slow fashion, o minimalismo e o feminismo. As duas estão à frente de tudo, desde a criação dos produtos, modelagem e confecção, aos pedidos no site para chegar até as clientes.
“Não queríamos ser mais uma marca. Queríamos ter algum diferencial de mercado”, enfatiza Camila. A primeira distinção da dupla em relação a outras grifes é apresentar o feminismo para o nome das peças. Cada vestido produzido é inspirado e leva o nome de mulheres que foram importantes nas lutas feministas. “Além da moda, nosso objetivo é fazer um pouco de diferença no mundo”, ressalta Melina.
A Ada também aposta no minimalismo como um diferencial. Um dos objetivos é não ser presa às tendências da moda. Assim, lançam as peças conforme a demanda e têm no máximo 50 unidades por modelo.
Os vestidos produzidos têm a maior porcentagem de fibras naturais, que se decompõem facilmente na natureza. A dupla decidiu utilizar apenas fibras sintéticas e somente duas composições em cada peça. “Queremos oferecer uma peça acessível ao consumidor, porém com um tecido de qualidade, não queremos fazer uma miscelânea de fibras”, explicam.
A opção pelo termo “conceito” é o outro diferencial em que Camila e Melina acreditam. “É conceito, porque não é uma marca. Somos muito mais que só vender um vestido. A Ada é tudo aquilo que acreditamos: o trabalho justo, mais igualitário, o empoderamento feminino, o consumo consciente”, destaca Melina.
“Apesar de depender das vendas para a empresa crescer, queremos que as clientes comprem nossas peças, porque elas realmente se identificam e precisam de uma roupa. Não simplesmente por comprar e usar apenas uma vez”, salientam.
Os vestidos da Ada são encontrados na loja virtual conceitoada.com e também nas feiras que a grife participa, que são sempre divulgadas na página de sua rede social.
De retalhos a roupas e acessórios
Na PP acessórios, o couro excedente da indústria calçadista se transforma em pulseiras, colares, bolsas, peças de roupa, cortinas e até porta-toalhas. As sócias Amanda Py e Petula Silveira empreendem a partir do conceito upcycle, que consiste na transformação de resíduos que seriam descartados em novos materiais e produtos.
O couro é trabalhado da forma mais pura, tudo é produzido pelas designers no atelier. “Reaproveitamos um material que não seria mais utilizado pela indústria, não criamos uma nova demanda, e se evita o crescimento de lixo tóxico”, explica Amanda. Geralmente, são peles de amostra, ou que a cor não ficou adequada, ou então peças de final de coleção.
A PP não adota um cronograma como na moda tradicional, não há coleções de verão e inverno, e as peças têm edições limitadas. Os produtos são sem forro, e o corte é feito à mão. A parte de corte e preparação das peças é realizada em Porto Alegre, e então encaminhadas para Dois Irmãos e lá finalizadas pela costureira Carmem, que está com a dupla desde a produção da primeira peça. “Cada peça é recortada a mão, conseguimos encaixes, é um trabalho bem específico, e isso torna cada item exclusivo”, destaca Amanda. Todos os pedaços são reaproveitados. Do miolo que sobra da produção das pulseiras, por exemplo, é feito um porta fones de ouvido.
“Não queremos estar mais envolvidas nesse consumo muito alienado (fast fashion). Trabalhamos de uma ponta a outra, do comércio justo – compramos um pouco mais barato, porque é um couro excedente -, e repassamos para o cliente final com um preço acessível”, esclarece Amanda. Além da questão ecológica, a sócia reforça a questão social que o consumo da moda sustentável provoca. “É saber quem está fazendo o produto que tu utilizas e entender todo o processo. Além do reaproveitamento do material, há as condições legais para os funcionários; a parte gráfica; a utilização de materiais que não poluam. Não é apenas fazer uma ação sustentável que deixa tua empresa sustentável, é um conjunto de ações”, aponta.
As sobras da produção são fornecidas ao Departamento Municipal de Água e Esgoto de Porto Alegre (DMLU) e a uma cooperativa de recicladores parceiros da instituição, onde o material é utilizado para customização de vestuários.
Além do espaço físico em Porto Alegre, a PP Acessórios conta com uma filial em São Paulo.
Alçando voos sustentáveis
“Fazer produtos, porém o mais sustentável possível”, assim começou, em 2010, a preparação para as primeiras alçadas da Vuelo. Hoje, seis anos depois, as sócias Adriana Tubino e Itiana Pasetti produzem mochilas e acessórios feitos de câmara de pneus e nylon de guarda-chuva.
“Queríamos trabalhar com sustentabilidade e que o projeto trouxesse benefícios para o mundo, não fosse um trabalho normal como qualquer outro”, destaca a publicitária Adriana. A ideia inicial era produzir uma weekend bag, uma ideia engavetada de Adriana. O material pensado inicialmente era o couro, porém como o foco era reciclar, as sócias foram em busca dos resíduos que são aptos para serem reutilizados, mas ainda não têm essa destinação.
“Pesquisando materiais chegamos na câmara de pneu e no nylon de guarda-chuva. Vimos que eram dois materiais extremamente descartáveis e não tinham ainda uma destinação pensada”, conta Itiana. Estima-se que no Brasil sejam descartados pelo menos 25 milhões de pneus por ano. A câmara de ar encaixa-se dentro do pneu e é muito resistente e maleável, além de não ser biodegradável. O destino da câmara são os aterros na natureza e a mesma demora mais de 500 anos para se decompor. Os guarda-chuvas, principalmente nos dias de chuva, são descartados em grande quantidade.
A partir da idealização da weekend bag, Adriana e Itiana reconheceram que a marca, que até então era um projeto paralelo da dupla – Adriana trabalhava em uma agência de publicidade e Itiana com moda -, poderia se tornar um negócio. Em 2013, a Vuelo alçou voo para o mundo.
Além da mala de final de semana, começaram a ser produzidas mochilas, capa de notebook, de ipad e cadernetas. Todos os produtos feitos com mesmo material. O início do empreendimento foi com o e-commerce próprio e a venda dos produtos diretos para os vuelistas – como são chamados os clientes da Vuelo. “Sempre consideramos que as pessoas que estavam comprando nosso produto não era apenas porque gostariam de ter algo da Vuelo, mas porque elas acreditam na causa, então elas são mais que clientes e consumidores”, explica Adriana.
A cadeia cíclica criada para chegar aos produtos finais é um dos diferenciais que a Vuelo aderiu desde o início. Todas as câmaras são resgatadas no mesmo local, para reduzir a queima de CO2 e a lavagem dos guarda-chuvas é realizada em uma lavanderia industrial, com água captada da chuva.
Os ventos do empreendimento mudaram no ano passado quando a Vuelo passou em um processo seletivo da Yunus, uma aceleradora mundial de negócios sociais. A partir de então as sócias reestudaram o modelo de negócios da empresa, com o propósito de gerar ainda mais impacto para a sociedade. “Criamos uma cadeia produtiva totalmente circular. Como estávamos começando no lixo, não queríamos que terminasse no mesmo lugar. O projeto nasceu com a logística reversa toda pensada. É um processo cíclico, não tem fim”, salienta Adriana.
Desde então o foco é no mercado corporativo e não mais no cliente final. No início, a Vuelo produzia mensalmente 120 produtos, em média 300 câmaras e 300 guarda-chuvas reciclados. Quando começaram a receber encomendas de empresas, a produção estava em cerca de 1000 a 1500 peças. O maior pedido recebido recentemente foi uma encomenda de 16.600 produtos, onde foram recicladas 3 toneladas de resíduos. “Inseridas nas empresas e indústrias conseguimos reciclar mais e ainda gerar empregos, gera a rede para toda a cadeia produtiva, para os recicladores, para os borracheiros. O impacto positivo é muito grande”, destacam as sócias. O objetivo da Vuelo é incentivar que as indústrias não gerem mais lixo e tornem os resíduos em matéria prima outra vez.
Uma desintoxicação dos guarda-roupas e o incentivo de um consumo menos impulsivo e mais criativo. Assim, Bruna Holderbaum e Milena Faé criaram o Closet Detox. A dupla, formada em moda, estava insatisfeita com o momento profissional em que vivia e resolveu apostar em uma nova ideia no segmento.
“O que acreditamos, praticamos e ensinamos: não é necessária muita roupa, nem consumir tanto. Mais criatividade e menos consumo”, aponta Bruna. O trabalho das sócias consiste em realizar uma consultoria, reavaliando as peças de vestuário e, principalmente, incentivando compras mais conscientes, “Queremos que as pessoas entendam que precisam menos volume e mais qualidade, roupas atemporais, itens que realmente usem por bastante tempo”, destaca Bruna.
Repensar os hábitos de consumo é o mote do trabalho. Isso inclui um aproveitamento melhor das roupas que já estão no roupeiro, por meio de novas combinações com as mesmas peças, o que leva a reduzir as compras por impulso. “No nosso trabalho, o slow fashion, aparece na forma de um consumo mais certeiro. Comprar uma roupa, porque há uma identificação com a marca, ou porque realmente está precisando da peça, e não pela tendência”, explica Milena. Entre as alternativas, as sócias sugerem um bom garimpo em brechós, que geram aumento na vida útil das peças, ou então na valorização dos produtores e do design local.
A dupla acredita que a crise econômica também fez com que as pessoas pensassem a maneira de utilizar o dinheiro, então passaram a aderir a brechós e maneiras alternativas para comprar roupas. “Porém elas precisam pensar que há algo muito maior, que é a crise ambiental. Então, queremos que, depois que a crise econômica passar, as pessoas sigam consumindo de maneira sustentável”, espera Bruna.
Fonte: Jornal do Commercio do RS