Mais do que baladas e barzinhos, nos anos 1970 a rua Augusta era famosa por suas fábricas de sapatos. Localizada no centro de São Paulo, a região chamava atenção pelo luxo e variedade dos produtos que ali eram vendidos. É isso que conta o empreendedor José Besluci, fundador da Di Pollini. A marca, especializada em calçados sociais, nasceu inspirada por esse ambiente.
Tudo começou quando Besluci arranjou seu primeiro emprego, em uma gráfica. Ele tinha apenas 10 anos. “Na época a gente começava muito cedo”, diz. Mas apesar de ser uma fonte de renda estável, o que ele ganhava não era o suficiente.
Foi então que o jovem resolveu procurar algo mais rentável.
O ramo de sapatos apareceu quase por acaso. Em seus passeios pela região, Besluci percebeu o quanto os negócios da Augusta eram lucrativos.
Ao realizar uma pesquisa para entender melhor o setor, ele descobriu que havia fábricas de calçados na cidade de Franca, no interior do estado, que faziam preços especiais para quem tinha interesse de revender os produtos. Besluci logo tratou de apostar nessa estratégia. “Eu comprava os sapatos pelo equivalente da época a R$ 20 e vendia por R$ 30, na rua”. O tiro foi certeiro: aos 17, Besluci já estava ganhando dinheiro com calçados sociais.
E qual era o segredo para tanto sucesso? “Eu sabia identificar um sapato bonito”, afirma. Mas ele não queria parar por aí.
Di Pollini
Em 1974, Besluci resolveu expandir seus negócios. Nascia a primeira fábrica da Di Pollini, localizada na rua José Monteiro, no bairro da Mooca, um dos mais tradicionais da cidade.
Especializado em sapatos sociais, inicialmente o negócio produzia os calçados e revendia para lojas do setor. Mas, em pouco tempo, Besluci percebeu que esse modelo de negócios era insustentável.
O motivo para isso era que, em determinado período do ano, que começa em meados de dezembro e se estende até março, as lojas compravam menos. “Eu não tinha o que fazer. Não entrava dinheiro e os funcionários ficavam parados.” Em 1979, o empreendedor tomou a decisão que mudaria o rumo seu negócio: criou lojas próprias da Di Pollini. A primeira unidade da marca foi aberta em frente à fábrica e ajudou na diversificação dos negócios.
Popularização
Os negócios seguiam, mas a Di Pollini ainda precisava de um impulso para começar a escalar. E o impulso veio do Corinthians.
Certo dia, o jogador de futebol João Roberto Basílio – conhecido por fazer o gol que garantiu Campeonato Paulista de 1977 para o Timão, tirando o time de um jejum de 23 anos sem títulos – apareceu na loja de Besluci. O empreendedor conta que o pé do atleta era muito grande. Portanto, achar um sapato que o servisse era uma odisseia.
Diante desse problema, o empreendedor resolveu oferecer um serviço personalizado e produzir um calçado sob medida para os pés de Basílio. “Ele adorou o produto, tanto que encomendou mais dois pares.”
Em pouco tempo, a admiração do até então meio-campo se espalhou para atletas de outros times. “Depois dele, vieram jogadores do Palmeiras e do São Paulo. Aquilo deu um impulso muito grande para nossa fábrica.”
Sucessão e novos tempos
Quarenta e cinco anos se passaram desde a fundação do negócio. Nesse período de tempo, a Di Pollini enfrentou muitos altos e baixos.
Besluci destaca como os maiores desafios enfrentados pela empresa as dificuldades econômicas que surgiram com a inflação, nos anos 1980, os impactos dos planos econômico de Collor, na década seguinte, e o incêndio que destruiu toda a linha de produção da Di Pollini, em 2001.
Na ocasião, foi a fama de bom negociador que fez com que o Besluci superasse uma dívida de R$ 5 milhões, contraída por conta do acidente, e conseguisse crédito para reestruturar seu negócio.
Agora, a marca se recupera de sua última crise, potencializada pela recessão econômica que atingiu o País em 2014. Mas, dessa vez, Besluci não enfrentou as dificuldades sozinho: seu filho, Pompeu Besluci, ajuda o pai a tocar os negócios.
Novos rumos
Hoje, um dos principais obstáculos que a dupla precisa enfrentar é a mudança dos hábitos de consumo da população. “O calçado social tradicional, que sempre foi nosso carro-chefe, não é mais tão usado como era antes”, diz Pompeu.
Com 39 anos e ocupando a posição de diretor comercial, Pompeu agora está se esforçando para reposicionar a marca. Em 2018, a Di Pollini ampliou seu leque de atuação, colocando à venda calçados mais casuais, e incluiu uma linha de sapatos femininos em suas lojas de rua.
O executivo conta que os produtos também são constantemente atualizados para seguir as tendências da moda e agradar os mais jovens.
A marca, que atualmente tem 15 lojas, também ensaia a adoção de um modelo de franquias. “Já estamos com o modelo todo preparado, só estamos esperando a economia melhorar”, diz José. Segundo ele, a principal preocupação da marca é que os primeiros franqueados achem um mercado favorável para tocar seus negócios.
Fonte: PEGN