Lá pelos idos do século 15, o filósofo e escritor florentino Nicolau Maquiavel já observava: “Empreendedores são aqueles que entendem que há uma pequena diferença entre obstáculos e oportunidades”. O paulista Marcelo Fujimoto, 41 anos, é a personificação perfeita da frase do autor de O Príncipe. Graças a um obstáculo que atrapalhava seus negócios, Fujimoto abriu a Mandaê, startup de logística que cresce, em média, 300% ao ano desde sua fundação, em 2014. Do início numa casa de dois quartos no bairro paulistano de Pinheiros e três funcionários – incluindo o próprio dono –, a companhia tem, hoje, duas unidades – um escritório e um galpão de 1.500 metros quadrados – e 160 colaboradores. E segue contratando. “Devemos terminar este ano com 200 funcionários”, diz Fujimoto, com típico sotaque americano, como se fosse um gringo que fala bem português. Filho de um brasileiro com uma japonesa, Fujimoto nasceu em São Paulo, mas foi alfabetizado nos Estados Unidos. “Quando eu tinha 5 anos, meu pai, que é médico, foi trabalhar em Ohio. Construí toda a minha vida nos USA.”
Foi por lá que Fujimoto se formou em Administração e Finanças e fez mestrado em Contabilidade, na Case Western Reserve University, em Cleveland. Também fez parte da consultoria financeira Prospect Partners, atuou como analista de investimentos do JPMorgan e foi associado da PricewaterhouseCoopers. Ele tinha acabado de completar 30 anos e via sua carreira muito bem encaminhada. Mas não estava realizado. “Eu sentia que precisava e que podia fazer algo maior”, diz. Mas também podia ser apenas cansaço da rotina estressante. Para aliviar a cabeça, tirou férias e resolveu viajar ao seu país de origem, no qual não pisava desde a infância. Foi para o Rio de Janeiro e ficou encantado com o calor, a beleza da cidade, as praias, o clima de descontração. “Resolvi que ia morar no Rio e abrir alguma empresa para mim”, afirma. Assim, ele fundou, em 2012, a Babycup, loja virtual de roupas infantis.
Os primeiros sinais indicavam que o negócio daria certo. E poderia ter dado. Não fosse uma enorme pedra no caminho: a pobre e ineficaz estrutura logística brasileira. O fato é que Fujimoto até conseguia vender bem seus produtos, mas as dificuldades de logística e a burocracia eram tamanhas, que ele chegava a gastar até três ou quatro horas do dia despachando mercadorias. Foi quando o empresário incorporou as palavras de Maquiavel, ao entender que aquele obstáculo revelava excelente oportunidade. “Percebi que o Brasil precisava de uma empresa de logística que trabalhasse de forma ágil e eficiente, com custos baixos ao cliente”, diz. O ano era 2014. Nascia, então, a Mandaê. Fujimoto montou o plano do negócio, as estratégias e todo o modelo sobre o qual a empresa atuaria. Faltava-lhe, no entanto, algo imprescindível para qualquer empreendimento: dinheiro. “Comecei a mandar meu projeto para vários investidores, tentando captar recursos.” Funcionou.
R$ 70 MILHÕES Certo dia, ele recebeu uma resposta do empresário Hans Hickler, ex-CEO da DHL Express, dos Estados Unidos. Hickler aplicou US$ 50 mil na criação da empresa. Pouco, mas já era um início. Logo depois, o fundo europeu Kima depositou mais US$ 150 mil na conta da Mandaê. Fujimoto já dispunha de US$ 200 mil para tirar seu projeto do papel. “A coisa começava a ganhar força”, afirma. E ganhou muito mais.
Hoje, cinco anos depois, a companhia é destaque no setor. Já enviou mais de 1 milhão de encomendas, recebeu investimentos de cerca de R$ 70 milhões, atendeu a mais de 7 mil clientes e emprega algoritmos e Inteligência Artificial para garantir eficiência. Como resultado, é considerada pelo Fórum Econômico Mundial uma das principais startups da América Latina e foi convidada pelo Google para participar do Launchpad Accelerator. O método de trabalho da Mandaê permite ao cliente saber quando sua encomenda será entregue, agiliza o retorno da mercadoria em caso de devolução e dispõe de uma ferramenta que seleciona a melhor opção de transportadora para cada envio, de acordo com preço, prazo e região. “Desenvolvemos tudo isso para eliminar os obstáculos enfrentados pelas pessoas e empresas que precisam enviar encomendas”, diz Fujimoto. Maquiavel estaria orgulhoso.
Fonte: IstoÉ Dinheiro