Por Alberto Serrentino*
Finalizamos a edição 2019 do Ranking das 300 Maiores Empresas do Varejo Brasileiro, com dados de empresas com faturamento anual superior a R$ 288 milhões. Esta é a 5ª edição realizada pela SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo) e permite diversas análises sobre as empresas que respondem por 42% do varejo brasileiro. Dentre elas há 127 empresas com faturamento anual superior a R$ 1 bilhão, 17 com mais de 1.000 lojas em operação no País, 39 com mais de 10.000 funcionários e 31 de capital aberto.
Desempenho de vendas– os dados das duas últimas edições do Ranking da SBVC, referentes a 2016 e 2017 mostraram resiliência do médio e grande varejo à crise de 2015-2016 e capacidade de superação e aceleração em 2017. A tendência se confirmou em 2018, apesar do baixo crescimento econômico do País. Números referentes a 180 empresas do ranking revelam crescimento nominal consolidado de 7,9% sobre 2017, enquanto o varejo brasileiro cresceu 4,8%. Em 78% desta base houve crescimento nominal de vendas e para 64% aumento acima da inflação do período (que foi 3,8%). Apenas 21% da amostra registrou queda de vendas em 2018.
Expansão– as maiores empresas do varejo brasileiro vêm mantendo expansão consistente. Em amostra de 212 empresas do Ranking, houve aumento de 4% na base de lojas, contra 4,5% em 2017 e 3% em 2016. Vale destacar de 64% dessas empresas apresentaram aumento de base e somente 12% tiveram redução no número de lojas em operação. A saída da crise, apesar de não ter permitido recuperação mais forte na demanda, gerou oportunidades e confiança para que as empresas cresçam. As 50 redes com maior intensidade de expansão abriram quase 2.000 lojas em 2018, sendo que as 10 primeiras abriram 1.247 lojas. Já as 50 que mais ampliaram seu parque de lojas tiveram expansão de 15% na base, com destaque para as 10 que mais ampliaram seu parque de lojas e tiveram expansão de 31% na base.
Produtividade– a agenda de produtividade que se impôs no varejo brasileiro durante a crise de 2015-2016 continua sendo perseguida pelas empresas. A venda média por funcionário aumentou 6,5% para uma base de 166 empresas, portanto acima da inflação do período de 3,8%. Para 63% delas, houve aumento no indicador. Já na venda por loja, houve aumento de 4,5% para base de 178 empresas. Ou seja, o varejo continua aumentando sua produtividade e eficiência operacional.
Concentração e Regionalismo– os dados do Ranking revelam características estruturais do varejo brasileiro. O mercado brasileiro é complexo e apresenta elevados graus de concentração demográfica e geográfica. A consequência disso para o varejo se dá no baixo nível de concentração e peso do varejo regional. As 10 maiores empresas de varejo do Brasil detêm somente 16% do mercado, as 50 maiores 28% e as 100 maiores apenas 33%. A exceção fica por conta do ecommerce, onde os 5 maiores operadores respondem por 49% do mercado brasileiro, mas é um mercado muito dinâmico e com crescimento acelerado.
De outro lado, 42% delas só possuem operação em um estado e 60% em até 5 estados. Somente 13% das maiores empresas de varejo do Brasil operam nos 27 estados do País. Apesar de existirem diversas redes com presença nacional, o varejo brasileiro ainda é dominado por empresas de atuação regional.
Relevância do Franchising– o Ranking da SBVC permite a visualização e classificação das redes de franquias a partir do faturamento consolidado das redes (o “sell-out“), ao invés das receitas das empresas franqueadoras. Isto permite apurar a real relevância do franchising no varejo brasileiro. Dentre as 300 maiores empresas, 59 possuem operação de franquias. Considerando-se que o segmento de supermercados tem 136 empresas dentre as 300 do Ranking, das quais somente 5 operam franquias, constata-se que 1/3 dos maiores varejistas de não-alimentos do Brasil possuem operação de franquias.
eCommerce– a penetração do comércio eletrônico em relação ao varejo brasileiro é de apenas 3,4%. Os dados do Ranking permitem compreender o baixo grau de penetração: apenas 49% das empresas vendem online. O atraso é muito superior no varejo alimentar, onde apenas 20% das grandes empresas de supermercados possuem operação de ecommerce. No varejo não-alimentar, 75% das maiores empresas já vendem online, mas pode-se reforçar a avaliação que, em relação à digitalização do varejo, os consumidores brasileiros estão se movimentando com maior velocidade que as empresas. Das 147 que vendem online, 7 são empresas digitais puras.
Um aspecto relevante é o quanto o ecommerce já representa das vendas de empresas referências em seus segmentos de atuação: livrarias (Curitiba 65%, Cultura 43% e Saraiva 38%); eletroeletrônicos (Magazine Luiza 36%, Colombo 29% Novo Mundo e Via Varejo 23%); moda (Soma 22%, SBF 16%, Reserva 14% e Arezzo 10%), perfumarias e farmácias (Onofre 45%, Panvel 12% e Boticário 10%). Vale também o destaque para o Grupo Boticário, 6º maior operador de ecommerce no Brasil, em. modelo integrado ao sistema de franchising.
Marketplaces e ecossistemas– os grandes operadores globais de ecommerce (como Amazon, Walmart e JD) vêm progressivamente incorporando marketplaces e investindo em aumento de participação no negócio. Eles se confrontam com empresas que têm origem em modelos de marketplace (como Alibaba e Mercado Livre). No Brasil, os 5 maiores varejistas online já têm operação de marketplace (B2W, Via Varejo, Magazine Luiza, Netshoes e Dafiti) e 12 das 300 maiores. As grandes plataformas de marketplaces vêm transformando seus modelos de negócio para tornarem-se ecossistemas. Nesta configuração, criam-se complementaridades entre varejo físico, ecommerce, marketplaces, serviços financeiros, meios de pagamento, mídia e entretenimento, gravitando em torno de clientes e dados e suportados por tecnologia proprietária e infraestrutura logística. Este é o modelo de Amazon, Alibaba, JD, Tencent e Google. A estratégia de Walmart (globalmente), Magazine Luiza, B2W, Carrefour, Mercado Livre e Via Varejo aponta para ecossistemas. As empresas que não tiverem capacidade de se tornarem um ecossistema deverão aprender a se relacionar com eles.
Os dados do Ranking da SBVC confirmam que as principais empresas do varejo brasileiro foram resilientes durante a crise, reagiram com ajustes e foco em eficiência e produtividade e estão retomando seus processos de expansão. A retomada mais robusta no crescimento depende de estabilidade política e de avanços estruturais que recuperem investimentos, confiança, levem a queda de desemprego, aumento de renda e capacidade de demanda e endividamento por parte dos consumidores brasileiros. O estudo evidencia aspectos importantes do varejo brasileiro, como o baixo grau de concentração, o peso do varejo regional, a relevância do franchising e o crescimento do ecommerce e dos marketplaces. Finalmente, expõe o atraso – principalmente no varejo alimentar – em desenvolvimento de canais digitais.
As empresas líderes do setor, reportadas no estudo, têm o desafio de conciliar a agenda de produtividade e expansão com a transformação digital e revisão na estratégia de longo prazo e no modelo de negócios.
*Alberto Serrentino é fundador da Varese Retail e vice-presidente e conselheiro deliberativo da SBVC
Fonte: LinkedIn