Com a oferta para a Netshoes, o Magazine Luiza não comprou um sistema de tecnologia de primeira linha. Também não está levando — caso a operação seja concluída — um modelo de logística referência do mercado. Não que ambos sejam ruins na Netshoes. É que o Magazine já desenvolveu uma plataforma eficiente. Pode englobar na aquisição um ou outro avanço, mas o que o Magazine Luiza está comprando é uma referência de marca, algo que se ela tivesse que desenvolver, teria que colocar muito tempo e dinheiro.
Já é sabido que, inicialmente, a compra da Netshoes irá consumir caixa do Magazine (um saldo de R$ 2,2 bilhões). O Magazine deve começar um processo de reestruturação profundo na Netshoes. Mas há um cálculo simples já feito: vale mais pagar para começar do zero ou colocar a Netshoes para dentro da empresa, por US$ 62 milhões?
O Magazine Luiza não vende, de forma direta, itens de vestuário na internet — apenas no “marketplace” (shopping virtual). A próxima batalha por mercado no varejo digital é no segmento de moda, que é bem complexo, e o Magazine não conhece isso, diz um consultor em hábitos de consumo digitais do Magazine.
Segundo ele, quando você olha dentro da operação da Netshoes, vê que eles fazem muita coisa direito, mas perderam talentos com a crise que atravessam, e, em muitas coisas, o Magazine já está à frente. Então o Magazine quer algo que não tem, que é a força de duas marcas, Netshoes e Zattini, e uma base de clientes um pouco mais consolidada, diz ele.
Ao se olhar essa carteira de clientes — 6 milhões de pessoas da Netshoes e 17 milhões na Magazine — há naturalmente uma sobreposição, então somar as bases não faz sentido. Essa sobreposição existe em grande parte no mercado de São Paulo, onde Magazine e Netshoes podem ter os mesmos clientes.
Como o mercado de São Paulo é fundamental nessa operação de moda, um dos focos de atenção daqui para frente do mercado precisa ser entender o tamanho dessa sobreposição.
Há muito chute sobre esses números, mas uma fonte ouvida diz que, como os perfis de clientes de Magazine e Netshoes são diferentes, essa justaposição não é tão alta no mercado paulista.
Nesse cálculo, há uma outra conta que analistas e investidores não estão olhando agora, mas fundamental em termos comerciais.
Até que ponto a indústria vai querer colocar no Magazine Luiza os produtos que vende na Netshoes?
Difícil imaginar que fabricantes de roupas e calçados aceitem ficar fora da base de clientes do Magazine, mas o caso recente da Nike ilustra bem que a solução não é tão simples assim.
Anos atrás, a Nike fechou um acordo de venda com o Ponto Frio, mas a empresa não queria vender no site do Extra também, apurou o Valor. No acordo, a Nike acabou fechando parceria com o Extra, mas em compensação, logo depois passou a vender para outros concorrentes das duas varejistas também.
Os fornecedores de grandes marcas obviamente querem continuar no site da Netshoes, diz o consultor A questão é se querem estar com as mesmas ações comerciais no site do Magazine também.
Fonte: Valor Econômico