Para Frederico Trajano, o ganho da racionalidade tende a ficar no negócio, porque a eficiência costuma se manter na operação
Por Adriana Mattos
O Magazine Luiza entende que, pelo momento atual, o foco maior deve ser em expansão de margem e não em crescimento, e há um movimento do mercado em geral nesse sentido, numa busca por maior racionalidade e equilíbrio entre essas duas linhas, disse o comando.
“Acho que essa racionalidade é sem volta. ‘We are not in Kansas anymore’ [frase do filme ‘O Mágico de Oz’, se referir ao local como um lugar familiar e seguro]. Não vejo volta a isso no curto prazo, volta a um dígito [de taxa de juros], então agora é crescer com racionalidade, que é algo que o Magalu sempre falou no passado”, disse Frederico Trajano, presidente do grupo, em teleconferência com analistas .
Para ele, o ganho dessa racionalidade tende a ficar no negócio, porque a eficiência costuma se manter na operação, passado esse período, o que deve ser benéfico considerando que as margens tendem a subir com medidas de maior eficiência e expansão de novos produtos e serviços no “marketplace”, como operações de crédito e publicidade na plataforma (“adds”).
Ainda sobre esse tema, Trajano lembrou que startups vêm mostrando maior dificuldade de equilibrar essa dinâmica neste momento, pelo fato de serem negócios que sentem aumento no custo de capital.
A respeito de rentabilidade, o executivo ainda citou o fato de a empresa ter alcançado margem de lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, da sigla em inglês) de 6,1% em março. “Com juros em 13% a gente acha que margens históricas são mais apropriadas, e o processo de margem vai continuar acontecendo. Mas quero lembrar que, apesar disso, quando olhamos nosso crescimento em dois anos, que é o adequado para ver aqui, em termos de prazo, estamos com crescimento acima de players do mercado, então em dois anos também crescendo vendas”, disse.
A margem Ebitda de janeiro a março, em termos ajustados, caiu 0,2 ponto, para 5% e sem ajustes, passou de 8,4% para 3,9%. A margem bruta, que reflete custo de mercadorias, foi de 25,1% para 27,8%.
A empresa foi perguntada por analista sobre como registrou alta na margem bruta num momento que vinha reduzindo estoques (a rede anunciou diminuição de R$ 1 bilhão em estoques desde o fim do ano passado). A diretoria financeira explicou que, no caso da margem bruta de mercadorias, há impacto de reajustes de preços e repasse ao consumidor do aumento dos juros no mercado — a empresa diz que elevou vendas com juros em determinadas categorias, mesmo com demanda desaquecida em certos produtos. No caso da receita bruta total, houve ganhos com receita de serviços oriundas do marketplace.
O comando ainda disse, sobre demanda em lojas, que abril e maio continuaram positivos.
Relatórios de analistas destacaram o desempenho de vendas transacionadas num ritmo abaixo de concorrentes e queima de caixa no período, disse a área de análise da XP.
A receita líquida do Magazine cresceu 6,2%, para R$ 8,7 bilhões no primeiro trimestre, e houve prejuízo líquido de R$ 161 milhões, versus lucro líquido de R$ 258 milhões de janeiro a março de 2021.
Geração de caixa
A diretoria financeira do Magazine Luiza disse que a tendência é que a empresa volte a gerar caixa a partir do capital de giro, depois de um consumo maior de janeiro a março.
No relatório de resultados, a empresa informou que, em março, a necessidade de capital de giro ajustada ficou em R$ 1,2 bilhão, influenciada principalmente pela sazonalidade do varejo e pela relação entre os saldos de estoques e fornecedores. De janeiro a março, a variação no capital de giro foi de R$ 2,8 bilhões em função da redução de estoques no valor de mais de R$ 1 bilhão e da redução no saldo de fornecedores no montante de R$ 3,8 bilhões, informa o material.
“Essa redução no saldo de fornecedores é consequência da estratégia de redução do nível de estoques, com consequente queda no volume de compras, e que facilitará o aumento da geração de caixa operacional dos próximos trimestres”, explicou a empresa no material.
Sobre nível de estoques, a empresa já havia informado, meses atrás, que vinha desde o começo de 2022 reduzindo estoques de produtos (após recuo na demanda mais intenso após setembro), na faixa de R$ 1 bilhão, e que isso foi praticamente concluído de janeiro a março. Normalmente, esses movimentos afetam margem bruta das redes, mas Magazine registrou melhora nesse índice. No primeiro trimestre, a margem bruta foi de 27,8%, um aumento de 2,7 pontos frente um ano atrás.
“Quando recompomos estoques, temos que ver se isso é pelo prazo [negociar prazos melhores] ou custo [de aquisição], mas o melhor é que vou entrar ‘limpo’ em estoque, bem mais baixo para o segundo trimestre. Então para frente devemos ter margem operacional mais equilibrada. O ‘grosso’ [da limpa] foi feito. E a situação hoje é muito melhor ante o segundo ou terceiro trimestres [de 2021], com os EUA comprando todos os produtos do mundo e com dólar alto, hoje o dólar está R$ 5 e até sentimos excesso de produtos. A economia dos EUA está desaquecendo e se tem falado em maior disponibilidade com dólar melhor, com exceção de linha branca, pressionada com aço”, disse Trajano.
Sobre rentabilidade, o comando não mencionou projeções, mas acha que é possível retornar a margens operacionais passadas, na faixa de 8%. A margem Ebitda da empresa (ajustada) foi de 5% de janeiro a março, queda de 0,2 ponto.
O comando ainda reforçou que a venda de itens de terceiros no marketplace deve ser o grande responsável pelo crescimento no longo prazo. Cerca de 46% das vendas transacionadas na plataforma da rede vêm de categorias de cauda longa, ou seja, produtos de grande variedade, e complementares, disponibilizados por vendedores pelo país. Mas disse que a empresa não deve utilizar o “fulfillment” (venda de serviços logísticos completos, da retirada à entrega) como estratégia central.
“Não há mudança estratégica. Nosso foco ainda é a entrega local e o cross docking [estratégia logística para agilizar entregas] continua. O fulfillment é uma opção adicional ao seller, ele é um complemento do serviço logístico. Não usamos centro de distribuição exclusivo só para seller, mas [usamos] a estrutura do 1P [sigla relativa à venda de produtos próprios]. Como nós viemos aumentando a nossa capacidade logística, temos espaço disponível para isso”, disse Trajano. Cerca de 13% das entregas de lojistas parceiros é feita pelas lojas, e nos produtos próprios, 30%.
A empresa ainda informou que iniciará viagens pelo país para ampliar a base de lojistas no marketplace, batizada de “Caravana Magalu”, sendo que um teste piloto foi feito em São José dos Campos (SP), com cadastro de 5% dos varejistas locais. A Caravana começa por Maceió e Aracaju nessa semana.
Aos analistas, a empresa ainda disse que o KaBuM!, braço de games e tecnologia da empresa, teve R$ 1 bilhão de vendas transacionadas de janeiro a março e o lucro líquido foi de R$ 51 milhões.
Fonte: Valor Econômico