Por Moacir Drska | Na manhã de terça-feira, 16 de maio, Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza, procurou reforçar algumas mensagens durante a conferência com analistas para comentar o resultado do primeiro trimestre da empresa, divulgado na noite de ontem, após o fechamento do pregão.
“Estamos chegando em um momento de ciclo positivo. Claramente, a operação da empresa melhorou e a economia do Brasil não”, disse Trajano. “Mas acho que estamos próximos desse ponto de inflexão e vamos ter um vento de cauda para fazer jus a tudo o que estamos trabalhando internamente.”
Entretanto, a julgar pela reação inicial na B3, o mercado não se deixou convencer por essas palavras e não digeriu nada bem o balanço da companhia. As ações do Magazine Luiza abriram o dia em queda de mais de 16% e, por volta de 13h despencavam 14,8%, cotadas a R$ 3,73, dando à empresa um valor de mercado de R$ 24,9 bilhões.
Um dos principais pontos por trás desse recuo foi o prejuízo líquido de R$ 391,2 milhões reportado pela empresa entre janeiro e março, contra uma perda de R$ 161,3 milhões, em igual período, um ano antes, na última linha do balanço.
O indicador veio acima das projeções dos analistas. E, além de configurar a quinta perda trimestral consecutiva da companhia, resultou no maior prejuízo já registrado pelo Magazine Luiza desde o seu IPO, em maio de 2011.
A varejista atribuiu boa parte da perda aos impactos da reintrodução do Difal (diferencial de alíquota do ICMS para as compras realizadas pelos consumidores de estados diferentes da origem da mercadoria) e ao aumento sazonal das despesas financeiras no período.
No trimestre, as despesas financeiras cresceram 34,3% sobre o mesmo intervalo de 2022, para R$ 750,3 milhões, enquanto a margem bruta caiu 0,5 ponto percentual, para 27,3%, na mesma base de comparação. Já a margem líquida ficou negativa em 4,3%, recuando 2,5 pontos percentuais.
“Temos um trabalho de repasse do Difal para os preços desde o início do ano”, afirmou Fabrício Garcia, vice-presidente de operações do Magazine Luiza. “No trimestre, esse repasse foi, em média, de 25%, mas, em março, chegamos perto de 50%. A tendência é darmos sequência nisso no decorrer do ano.”
O Ebitda no período foi de R$ 324,1 milhões, o que representou uma queda de 4,5% em relação a igual período, um ano antes. A margem Ebitda, por sua vez, foi de 3,6%, um recuo de 0,3 ponto percentual ante janeiro e março de 2022., enquanto a receita líquida cresceu 3,5%, para R$ 9,06 bilhões.
Na contramão desses números, o Magazine Luiza ressaltou questões como o ganho de 6,2 pontos percentuais em participação de mercado no período. Outro ponto foi o desempenho registrado em todos os seus canais de venda.
Assim como outras questões ressaltadas pelo Magazine Luiza. Entre elas, o ganho de 6,2 pontos percentuais em market share no trimestre e os crescimentos registrados em todos os seus canais de venda. A começar pelas vendas totais (GMV), que avançaram 10,1%, para R$ 15,5 bilhões.
As vendas no e-commerce somaram R$ 11,3 bilhões, um salto anual de 11,1%. Já as vendas no marketplace fecharam o trimestre com um avanço de 19,4%, para R$ 4,3 bilhões. Com uma base de 281 mil sellers, a plataforma superou as vendas em lojas físicas, que cresceram 7,5%, para R$ 4,2 bilhões.
“Já tínhamos a expectativa de que o contexto desafiador, especialmente no online, mas também no offline ia se materializar no trimestre”, disse Trajano. “E toda nossa expectativa era ganhar share. Se o bolo não cresce, temos que pegar uma fatia maior. E conseguimos crescer em todos os nossos canais.”
Para reforçar o peso do crescimento registrado nesses canais, Trajano acrescentou que, segundo dados da consultoria Neotrust, o mercado online como um todo caiu 14% no trimestre. Enquanto o segmento offline “andou de lado”, avançando apenas 2%, de acordo com indicadores da consultoria GfK.
Apesar de destacar esse e outros pontos, como o canal do marketplace, que foi o principal impulsionador para o ganho de market share no período, o Itaú BBA frisou os reflexos que o trimestre difícil trará para a operação.
“O mercado continuará aguardando uma recuperação mais concreta da rentabilidade. Apesar do ganho de market share, esperamos que os investidores se concentrem no fato de que o crescimento do Magazine Luiza tem sido consistentemente inferior ao líder do mercado, apesar dos ventos favoráveis no cenário de concorrência”, aponta um trecho do relatório do banco.
A aposta no marketplace do Magazine Luiza
Após a menção ao fato de que, com a recuperação judicial da Americanas, o Magazine Luiza vem capturando menos oportunidades que o Mercado Livre, líder do segmento, o time de analistas do Itaú BBA liderado por Thiago Macruz manteve o preço-alvo da ação da varejista em R$ 3,20.
O BTG Pactual destacou, por sua vez, que, ainda que a empresa deva se beneficiar de fatores como a gradual migração do GMV da Americanas e de uma abordagem mais racional no take rate cobrado dos sellers do seu marketplace, o cenário segue desafiador no curto prazo.
“Continuamos a ver os ventos contrários operacionais após os números mais fracos do que o esperado no primeiro trimestre. Mas a rentabilidade e a evolução do fluxo de caixa de livre devem ser a chave para o desempenho das ações nos próximos trimestres”, escreveram os analistas Luiz Guanais e Gabriel Disselli, que mantiveram a recomendação de compra e o preço-alvo da ação em R$ 7.
Para virar essa chave, uma das principais apostas do Magazine Luiza é o seu marketplace. E, aqui, a empresa enxerga um cenário mais propício para seguir com iniciativas como o repasse do aumento dos custos trazido pelo Difal, a redução da concessão de subsídios de frete e do aumento das taxas cobradas dos sellers.
“Os números do primeiro trimestre falam bastante sobre o fato de que estamos conseguindo crescer o GMV aumentando o take rate”, disse. “Isso só é possível porque o cenário competitivo está muito mais racional.”
Ele também frisou que o avanço da operação de fulfillment será outra vertente para a diluição dos custos e a melhora das margens, sob a ótica de perseguir mais eficiência aliada à rentabilidade. Hoje, do total de 281 mil sellers da plataforma, 1,2 mil já usam esses serviços ofertados pela operação.
Em outra ponta, o Magazine Luiza tem reforçado a aposta em categorias de tíquetes maiores, com preços acima de R$ 200. “Temos ganho bastante participação nessa faixa e também acima de R$ 1 mil, com categorias como ferramentas e iluminação.”
Ao mesmo tempo, Trajano enxerga o aumento da penetração de outros braços da varejista, como a Fintech Magalu e o Magalu Ads, nos demais elos do seu ecossistema mais um motor para recuperar e ampliar a rentabilidade da operação.
Fonte: Neofeed