Rede de restaurantes consegue extensão de seis meses no prazo de vencimento de papéis, para julho de 2022, mas a taxas mais elevadas
Por Ana Paula Ragazzi
A rede de restaurantes Madero concluiu semana passada a renegociação das condições de R$ 160 milhões em debêntures de sua quarta emissão, realizada em agosto de 2020. Segundo informações do site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o banco Itaú BBA coordenou a operação e encarteirou os papéis.
O negócio da rede foi diretamente afetado pela pandemia, e a Madero não vem cumprindo compromissos (“covenants”) da emissão desde o fim do ano passado. Atas de reuniões com debenturistas apontam falhas em pagamentos e em compromissos com garantias, atrasos na divulgação de informações, além de desenquadramento financeiro.
Em reunião em 23 de junho, a empresa ganhou um pouco mais de tempo para tentar ajeitar a casa, com extensão do prazo de vencimento das debêntures por seis meses, de janeiro para julho de 2022.
Para que não houvesse declaração do vencimento antecipado dos papéis, a empresa entregou em garantia cessão fiduciária de recebíveis de cartões crédito. Estão citados no documento cédulas de crédito bancário (CCBs) com BTG Pactual e Banco do Brasil e certificado de direitos creditórios do agronegócio com o Bradesco que, juntos, somam mais de R$ 500 milhões.
Além disso, o Madero teve de concordar com o aumento da taxa da emissão, de CDI mais 3,6% ao ano para CDI mais 8% ao ano. A empresa também se comprometeu a pagar uma espécie de multa (“fee de repactuação”) no valor de R$ 2,4 milhões.
Foram alterados, ainda, “covenants” da emissão. O múltiplo de dívida líquida pelo Ebitda, agora, deverá ser igual ou inferior a 2,5 vezes, a partir de 31 de março de 2022 – na escritura da emissão o compromisso era chegar nesse patamar em 30 de junho de 2021. E a empresa passou a se comprometer com uma dívida bruta máxima R$ 1,1 bilhão a partir de 30 de junho de 2021. Na escritura inicial, a empresa havia se comprometido com dívida bruta de R$ 715 milhões em 31 de dezembro de 2020 e de R$ 780 milhões em 30 de junho de 2021.
A quarta emissão de debêntures da empresa foi feita em agosto do ano passado e teve duas séries, cada uma de R$ 80 milhões. Ambas tinham a mesma remuneração e uma pequena diferença de prazo – a primeira série inicialmente venceria em 1 ano (setembro de 2021); a segunda série inicialmente venceria em 1,2 ano (novembro de 2021). Esses prazos já haviam sido renegociados em outras reuniões com o debenturista.
Conforme antecipou o Valor, o Madero, em seus resultados do primeiro trimestre, apresentados semana passada, informou que não há garantias de que consiga honrar suas dívidas de curto prazo antes dos vencimentos. E que o cenário levanta “dúvidas substanciais sobre a capacidade de continuidade operacional da companhia dentro de um ano a partir da data base das demonstrações financeiras intermediárias”.
Na data do relatório, o grupo dizia que a geração de caixa estimada para os próximos 12 meses e as novas linhas com bancos “não serão suficientes para atender os compromissos de curto prazo”, mas a cadeia segue discutindo adiamentos e novas linhas. Considerando curto e longo prazos, ao fim de março eram R$ 2,4 bilhões em obrigações com bancos, fornecedores, tributos, entre outros, e 31% venciam em até um ano.
Antes da pandemia, a empresa planejava uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), mas a operação não pode ser levada adiante pelo impacto da covid nos negócios. Além do fundador Junior Durski, a empresa tem como acionista a SPX, que assumiu a operação do Carlyle no Brasil.
Um gestor que acompanha o setor afirma que o Madero optou por um modelo de internalizar o negócio. “Ele produz o pão, o ketchup, a pimenta. Assim, tinha uma margem mais alta, mas, por outro lado, tinha de arcar com a depreciação e o endividamento da fábrica”, afirma. A margem Ebitda ficava acima da obtida por rivais, justamente porque a depreciação e a dívida da fábrica aparecem depois do Ebitda. “Veio a pandemia, a receita secou e essas questões que sempre estiveram lá possivelmente passaram a pesar mais”, diz.
Fonte: Valor Econômico