Por Sergio Ripado
O Grupo Madero, rede de restaurantes fundada e comandada por Junior Durski, cumpriu as exigências acertadas com credores e fechou o ano de 2022 com uma dívida bruta abaixo do limite de R$ 1 bilhão, segundo balanço divulgado nesta quarta-feira (29). Caso superasse esse valor, os bancos poderiam acionar a execução antecipada dos vencimentos. Mas o alívio é temporário.
A partir desta sexta-feira (31), o grupo terá que seguir uma regra mais rigorosa para reduzir a alavancagem. Banco do Brasil (BBAS3), Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4) e BTG Pactual (BPAC11) são os principais credores.
Apesar das incertezas sobre a trajetória de sua dívida, a companhia, que engavetou o plano de IPO (oferta inicial de ações) no início de 2022, conseguiu aumentar a geração de caixa no ano passado, depois do sufoco dos primeiros anos da pandemia, quando as unidades ficaram fechadas.
O Madero também decidiu reduzir o ritmo de inaugurações, a fim de evitar o consumo de caixa e o descontrole da dívida, principalmente em um cenário macroeconômico de maior custo de capital e inflação elevada, junto com a desaceleração dos negócios.
O prejuízo do grupo somou R$ 146,792 milhões em 2022, acima dos R$ 121,079 milhões de perda no ano anterior, segundo o balanço auditado pela PwC.
Em 2022, o grupo teve aumento de 29,4% da receita líquida (R$ 1,48 bilhão). No quarto trimestre, o faturamento totalizou R$ 424 milhões (+15,5% em 12 meses). A companhia atribuiu o resultado à “melhora gradativa do tráfego, ao aumento no ticket médio e à maior base de restaurantes”.
“Os resultados de 2022 foram bastante satisfatórios, consolidando um período de diversos desafios superados e crescimento relevante. No período, inauguramos 20 novas operações, atingindo a marca de 275 restaurantes multimarcas”, disse Durski em comunicado.
Covenants
Dono também das marcas Jeronimo (nome em homenagem ao tataravô do CEO), Legno (comida italiana) e Dundee (frango frito), o Grupo Madero encerrou 2022 com uma dívida bruta de R$ 988,962 milhões e líquida de R$ 898,815 milhões.
Já o Ebitda ajustado (lucro operacional acrescido das depreciações e amortizações e as perdas ou ganhos com alienação de ativo imobilizado) somou R$ 354,801 milhões no fim de dezembro.
Com esses resultados, o nível de alavancagem (dívida líquida/Ebitda) do Madero ficou em 2,53 vezes em 2022. O grupo possui cláusulas restritivas (covenants) sobre empréstimos e financiamentos, que, se não cumpridas, podem levar ao vencimento antecipado ou refinanciamento de dívidas.
“Em 31 de dezembro de 2022, a companhia cumpriu ambas as cláusulas de covenants”, disse o Madero no balanço, em alusão às exigências de fechar o ano com dívida bruta máxima igual ou inferior a R$ 1 bilhão e nível de alavancagem igual ou inferior a 3 vezes.
A partir da próxima sexta-feira (31), essa regra muda: a companhia terá de apresentar um nível de alavancagem menor, não mais de 3 vezes, mas de 2,5 vezes, considerando o cálculo do Ebitda dos últimos 12 meses.
Por outro lado, a dívida bruta do Madero poderá superar a marca de R$ 1 bilhão a partir desta sexta, já que não existirá mais essa exigência como houve em 2022.
Alternativas de captação
A Bloomberg Línea questionou se o Madero lançará alguma captação de recursos neste primeiro semestre. “Para otimizar a gestão financeira da companhia, temos por premissa sempre estudar alternativas que possam contribuir para a empresa”, respondeu.
Ariel Szwarc, CFO do Madero, disse à Bloomberg Línea em entrevista em dezembro que a companhia poderia, a partir de maio deste ano, realizar alguma captação no mercado doméstico, como uma colocação de certificados (CRA ou CRI).
“Oportunamente definiremos se e qual deveria ser o nível adequado de dívida bruta para melhor gerenciar nossa posição financeira”, informou o Madero.
O grupo acrescentou que não vendeu nenhum ativo para cumprir os covenants acertados com os credores. “Pelo contrário, compramos 14 franquias. Vale destacar que o covenant de índice de endividamento em 31.12.2022 era de 3,00x e fechamos muito melhor, em 2,53x”, detalhou.
Com R$ 90 milhões em caixa em dezembro passado, o Madero divulgou ainda o cronograma de amortização de sua dívida, prevendo R$ 85 milhões em 2023, R$ 289 milhões em 2024, R$ 272 milhões em 2025, R$ 240 milhões em 2026, R$ 87 milhões em 2027 e R$ 15 milhões em 2028.
Margem em alta
A margem Ebitda subiu de 21% em 2021 para 25%. No quarto trimestre, foi de 27%, abaixo dos 29% do mesmo período do ano anterior. Já as vendas contabilizadas no critério SSS (same stores sales, mesmos restaurantes, que operam há mais de 12 meses) cresceram 4,1% na base anual.
As vendas nos canais digitais (totens de autoatendimento, app próprio, e marketplaces) representaram 54,8% do total do quarto trimestre. As vendas por meio do canal delivery, por sua vez, mantiveram-se estáveis no nível de 13,5% das vendas totais.
O grupo tem apostado em novidades em seu cardápio para impulsionar o aumento do tíquete médio. “Em 2022, o Grupo Madero introduziu os produtos da linha italiana Legno no Madero Steak House e de frango no Jeronimo”, lembrou Durski.
Fonte: Bloomberg Linea