A Lupo, fabricante de meias, roupas íntimas e esportivas, dona das marcas Lupo, Scala e Trifil, está em uma verdadeira montanha-russa neste ano. Antes da covid-19, a meta era crescer 10% em relação ao ano passado. Com a pandemia, a projeção virou de ponta-cabeça e foi para uma queda de até 60% – agora, depois de ter estreado na produção de máscaras para proteção contra o novo coronavírus, a retração prevista é de 30%.
“Estávamos trabalhando para cumprir o orçamento de 2020, quando fomos atingidos pela covid-19. Foi algo que ninguém imaginou que aconteceria no Brasil, nos pegou de surpresa”, afirmou Liliana Aufiero, de 75 anos, diretora presidente da Lupo e neta do fundador da empresa, Henrique Lupo. Em 2019, a Lupo registrou receita líquida de R$ 901 milhões, com avanço de 3,8% sobre o ano anterior. O lucro líquido atingiu R$ 111 milhões, ante um lucro de R$ 97 milhões no ano anterior, crescimento de 14,4%.
No começo da pandemia, a executiva chegou a prever uma queda em vendas no ano de 40% a 60% em relação a 2019, mas mudou a projeção, acompanhando a evolução do varejo no segundo trimestre, que apresentou uma pequena recuperação na demanda por itens básicos.
“Hoje não consigo atender todos os pedidos e não tenho capacidade para crescer mais a produção de máscaras”, disse Liliana.
Apesar da demanda reprimida, Liliana disse não ter interesse em investir em equipamentos para ampliar a produção de máscaras. Por dois motivos. A executiva considera que a demanda por máscaras vai diminuir nos próximos meses, à medida que a pandemia for controlada. Outro motivo é que a produção desse item exige contratação de costureiras para finalizar as máscaras e o foco da Lupo é a produção sem costura, feita em teares, sem costura manual.
O kit de máscaras é vendido no site da Lupo por R$ 17,90. O produto também é distribuído para o varejo em todo o país. As máscaras são feitas com o fio têxtil de poliamida Amni Virus-Bac OFF, desenvolvido pela Rhodia, empresa química do grupo belga Solvay.
Esse fio bloqueia a contaminação cruzada entre os artigos têxteis e o usuário, evitando que a roupa se torne um veículo de transmissão de bactérias e vírus, incluindo os vírus envelopados, como o causador da covid-19. Futuramente, segundo a executiva, esse fio será usado em roupas esportivas.
A Lupo fez adaptações em equipamentos para fazer a produção de máscaras aos profissionais de saúde. A empresa produziu e doou mais de 50 mil máscaras para o hospital em abril. Enquanto produzia para doar, a empresa foi procurada por clientes interessados nas máscaras para venda no varejo.
Nesse período, a empresa já tinha concedido férias coletivas aos empregados. “Pedimos que quem pudesse viesse para a produção das máscaras para doação. Organizamos o salão, aumentando a distância entre os equipamentos, adotamos uso de máscaras, toucas, álcool em gel, criamos novos rituais de trabalho para proteger a equipe”, disse Liliana.
A Lupo concedeu férias coletivas e fez uso de banco de horas e antecipação de férias para deixar os empregados em casa em abril. A empresa também fez uso da Medida Provisória 936 para adotar licenças não remuneradas e redução de jornada e salários.
“Fizemos a demissão de 8% dos empregados, com foco principalmente em quem estava em contrato de experiência”, disse a empresária. Atualmente, a Lupo opera com 94% da sua força de trabalho, ou 4,3 mil pessoas. Outras 304 estão afastadas e 39 estão com contrato suspenso.
A Lupo mantém agora os funcionários em jornada de 6 horas diárias, em vez de 8 horas, mas sem redução de salário. Liliana disse que com essa mudança a empresa fica com a capacidade ajustada para atender a demanda menor. A Lupo também reduziu despesas e investimentos em publicidade.
A empresária disse ainda que a empresa ajustou as compras de matérias-primas, concentrando o foco na produção de itens básicos, para uso no dia a dia. “Quando o comércio voltou a abrir as portas começamos a receber pedidos de produtos básicos e estamos navegando nessa onda agora”, afirmou a executiva.
A consultoria Iemi Inteligência de Mercado, estima que o mercado de moda íntima, que movimentou R$ 18,4 bilhões no país com vendas de 759 milhões de peças no ano passado, terá queda de 15,6% neste ano em relação a 2019. Esse número será revisto dependendo da evolução no ritmo de reabertura de lojas.
fonte: Valor Econômico