A reabertura dos shoppings iniciada ontem na cidade de São Paulo tende a seguir, nos próximos dias, um efeito visto em outras cidades em que as vendas foram retomadas recentemente: o chamado efeito champanhe.
A ideia é que, assim como acontece na abertura de uma garrafa da bebida, um estouro inicial de demanda é registrado, com os consumidores querendo “matar as saudades” de fazer compras nos centros comerciais. Na sequência, o movimento se estabiliza. “O que temos visto é um movimento que supera as vendas de anos anteriores no mesmo dia, que depois cai e fica na faixa de 60% do normal”, disse o presidente de uma rede com 100 lojas pelo país.
Segundo Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) o efeito, que deve começar a ser sentido na semana que vem (depois do dia dos namorados e de um primeiro fim de semana de vendas) é positivo à medida que não é o momento de fazer aglomerações. “A ideia não é recuperar 90 dias em um fim de semana, mas seguir com responsabilidade e cautela e acomodar a população”, diz.
De acordo com ele o primeiro dia em que os shoppings puderam operar novamente na capital foi muito positivo, com movimento maior em empreendimentos perto de estações de metrô.
Para seguir o limite de 20% de capacidade máxima definido pelo governo do Estado, os shoppings tomaram medidas como a redução no número de vagas para estacionamento. Na organização das filas do lado de fora, Humai disse que funcionários estão fazendo a verificação do distanciamento entre as pessoas, do uso de máscara e oferecendo álcool em gel para limpeza das mãos.
De acordo com Humai, não há expectativa de que a crise tenha levado ao fechamento definitivo de um grande número lojas nos empreendimentos. “Nossa expectativa era que o número [de vacância] ficasse em 15%, mas estamos vendo que ele está abaixo de 5%. E em São Paulo deve ser ainda mais positivo”, disse. Sobre o pagamento de taxas pelos lojistas, Humai disse que as cobranças serão proporcionais e atreladas às receitas. “Muitos descontos vão ficar. Mas todo mundo vai fazer ações junto aos lojistas. É um compromisso”, disse.
A Abrasce divulga hoje pela manhã um balanço do movimento de ontem. Com 53 shoppings, a capital paulista teve 46 reabertos ontem. Hoje reabrem os sete restantes. Na lista estão o Morumbi e o Anália Franco, que pertencem à Multiplan. Dos 557 shoppings brasileiros, 385 estão em funcionamento, segundo a Abrasce.
De acordo com Vander Giordano, vice-presidente institucional da Multiplan, a decisão foi tomada para dar mais tempo aos lojistas de se adequarem às regras. “Tivemos preocupação de fazer isso para mostrar tranquilidade neste momento de reabertura. A população tem que se conscientizar que ainda estamos com foco na saúde, tem que seguir as medidas de proteção, as regras de isolamento”, disse.
A avaliação de Giordano é que o período de quatro horas de funcionamento definido em São Paulo é muito curto e pode levar à concentração de pessoas.
Segundo ele, onde a Multiplan já havia retomado sua operação, o tempo médio de permanência das pessoas tem ficado em 29 minutos, contra 70 minutos antes da pandemia, porque as visitas são mais assertivas. Pesa ainda o fato de cinemas, teatros e praças de alimentação ainda estarem fechados.
Na avaliação de Tito Bessa, presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos), os shoppings terão que se reinventar, com mudanças especialmente em seu horário de funcionamento. Segundo ele, operar por 12 horas já era uma dificuldade antes da pandemia e ficará ainda pior com a queda na demanda. Ele defende que o horário de funcionamento seja de oito horas. As quatro horas a menos significariam redução de custo na faixa de 30% a 40%, um cenário que compensaria mesmo que a queda nas vendas ficasse em cerca de 10%, diz Bessa.
Fonte: Valor Invest