A crise econômica que tem atingido muitas lojas no comércio de rua do Recife está fazendo mais uma vítima. Desde o último dia 30, a Lojas Guido, cuja matriz fica no estado de Alagoas, iniciou uma queima de estoque relâmpago na unidade da Rua Floriano Peixoto, no bairro de São José, em frente a Casa da Cultura. O bota fora, no entanto, está ocorrendo por que a unidade está encerrando as atividades. Não é só. A rede varejista confirmou que já fechou quatro unidades no estado e até as próximas duas semanas finalizará de vez o ciclo em Pernambuco.
O encerramento da Lojas Guido no estado é bastante precoce, uma vez que a rede, especializada em móveis e eletrodomésticos, chegou em 2013 e possuía oito pontos comerciais, além do Recife, nas cidades de Carpina, Caruaru, Jaboatão dos Guararapes e Paulista. A reportagem do Diario entrou em contato com a matriz, em Maceió, para confirmar a informação e obter detalhes do encerramento das atividades.
“O baixo fluxo de clientes aliado aos elevados custos de manutenção das unidades, que é reflexo da crise atual na economia, foi o fator determinante para encerrarmos as atividades em Pernambuco. Não descartamos uma volta, mas por enquanto encerramos a operação em Pernambuco pensando também numa possível expansão em outras cidades da Região Nordeste”, explicou Ticiano Lucena, analista de marketing da Lojas Guido.
Relatos extraoficiais dão conta de que cerca de 100 funcionários ficarão desempregados assim que as quatro outras unidades finalizarem suas operações. Sobre este número, Lucena não soube dizer com exatidão a quantidade de funcionários que trabalhavam nas unidades pernambucanas.
Os efeitos da crise na economia não têm atingido apenas estabelecimentos comerciais de rua. Em todos os shoppings da capital pernambucana e do Interior podem ser vistas muitas lojas fechadas, embora nos centros de compras seja normal que haja um rodízio nas lojas.
De acordo com uma matéria publicada no caderno de Economia, do Diario de Pernambuco, recentemente, os principais fatores listados por varejistas do Grande Recife para o encerramento de atividades são endividamento, falta de estacionamentos, altos preços de aluguéis, crédito escasso e aumento de desemprego.
Na Avenida Domingos Ferreira, apenas na Galeria Recife Trade Center, segundo o Blog de João Alberto, cerca de dez unidades fecharam e no Centro, a situação fica ainda pior. Entre as ruas da Imperatriz e Nova cerca de 13 pontos encerraram suas atividades.
Redução e impactos
A queda no volume das vendas no varejo, que passa a pior crise dos últimos 15 anos, está refletida no número de lojas que fecharam as portas no ano passado. Quase 100 mil lojistas encerraram as atividades no país, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Ao todo houve um fechamento líquido de 95,4 mil lojas com vínculo empregatício no ano passado, uma retração de 13,4%. O montante não trata apenas de pequenos e médios negócios. Os grandes também foram afetados. O balanço da CNC aponta que o número de lojas com 100 ou mais vínculos empregatícios encolheu 14,8%. Os estabelecimentos de porte médio tiveram retração de 16,5%.
De acordo com o levantamento, que toma como base os dados de dezembro do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, todos os segmentos do varejo tiveram quedas no número de informantes de movimentações trabalhistas, com destaque para os ramos mais dependentes das condições de crédito como materiais de construção (-18,3%), Informática e Comunicação (-16,6%), Móveis e Eletrodomésticos (-15%) e Comércio Automotivo (-14,9%). As farmácias e perfumarias – único ramo a registrar crescimento significativo de vendas no ano passado – não ficaram imunes e também tiveram queda no número de lojas (-11,2%).
O estudo também mostra dados alarmantes sobre o fechamento de negócios nas 27 unidades da Federação. Entre todas, apenas Roraima não apresentou queda no número de estabelecimentos varejistas, obtendo um crescimento de 16,4% no número de lojas. As maiores variações negativas ocorreram no Espírito Santo (-18,5%), Amapá (-16,6%) e Rio Grande do Sul (-16,4%). São Paulo (-28,9 mil), Minas Gerais (-12,5 mil) e Paraná (-9,4 mil) responderam juntos por mais da metade (53,3%) da queda no número de estabelecimentos.
Em Pernambuco, a variação no número de lojas em 12 meses foi de -13,2%. “São dados muito preocupantes. O poder de compra do brasileiro, assim como do pernambucano, está muito afetado e gera uma desaceleração no comércio. Até o setor de alimentos, que é um item essencial, foi afetado. As pessoas analisam o que é imprescindível para compra. O momento é de descrédito do setor público”, afirmou o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do estado de Pernambuco (Fecomércio/PE), Josias Albuquerque.
Segundo Albuquerque, os fechamentos não estão restrito às lojas de ruas. “Os shoppings também estão com dificuldades. Em sua maioria, os grandes lojistas estão nesses centros de compras. São grupos que têm potencial de resistir a crises e, dessa vez, não conseguiram. É a prova de que o comércio está muito abalado. Precisamos ser otimistas de uma recuperação econômica a longo prazo e aí haverá uma melhora.”