Márcio Gurgel, mineiro de São Gotardo, fundou a varejista e prevê investir investir R$ 300 milhões até 2024, com ajuda da eB Capital
Por Luiz Henrique Mendes
Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar é um velho ditado da sabedoria popular, mas os varejistas de Franca parecem querer subvertê-lo. Origem da sexagenária Magazine Luiza, uma das pioneiras do “omnichannel” no país, o município do interior paulista sedia a Loja do Mecânico, um e-commerce que vende produtos para mecânicos e donos de pequenas oficinas de jardinagem, marcenaria, serralheria.
Fundada por Márcio Gurgel, um mineiro de São Gotardo que se estabeleceu em Franca e começou a carreira vendendo ferramentas como ambulante, a Loja do Mecânico já deve fazer mais de R$ 1,5 bilhão em faturamento em 2022. O empresário prevê investir R$ 300 milhões até 2024.
A trajetória da companhia, que vislumbra chegar a R$ 5 bilhões de faturamento daqui a quatro anos, mudou de patamar em 2020, quando a firma de private equity criada por Eduardo Sirotsky Melzer, a eB Capital, venceu uma disputa com outros 20 fundos de investimento e chegou a um acordo com os fundadores para adquirir o controle da varejista.
Inicialmente, a eB Capital investiu R$ 600 milhões para ficar com o controle. A varejista foi avaliada em mais de R$ 1 bilhão. De lá para cá, a Loja do Mecânico se estruturou para construir um negócio “omnichannel”, ampliando a gama de serviços oferecidos a donos de oficinas.
Os Gurgel permaneceram no comando, com Marcio à frente da Loja do Mecânico como CEO e o filho Thiago dando sequência aos trabalhos na área de tecnologia. A eB Capital não trouxe apenas o capital necessário para crescer. O time de gestão também se fortaleceu com a chegada do ex-Creditas Vitor Hiraiwa para chefiar a área financeira. Renan Pereira Henrique, sócio da eb Capital, mudou-se para o interior paulista e assumiu oposto de chefe de operações.
“A chegada do CFO nos ajudou muito a desenvolver os serviços financeiros”, diz Márcio. Em parceria com financeiras, a Loja do Mecânico oferece crédito e consórcio aos clientes, dinheiro que pode ser usado para montar uma oficina do zero ou investir em melhores ferramentas. A carteira de consórcios chega a R$ 50 milhões.
Nesse período, a Loja do Mecânico cresceu preservando boas métricas financeiras, diz Duda, apelido pelo qual o fundador da eB Capital é conhecido. “Vemos as companhias de varejo sofrendo muito com margens espremidas, mas nós conseguimos crescer violentamente, com a margem muito saudável”, diz.
Quando a eB Capital investiu, a Loja do Mecânico contava com apenas uma loja física experimental em Franca, mas já tinha um faturamento considerável, de R$ 800 milhões. Deste então, a expansão ganhou tração. “Recebemos 5 mil pedidos por dia, de brocas e produtos de 1 grama até ferramentas de duas toneladas”, diz Márcio.
A expectativa da empresa é abrir dez lojas físicas neste ano, o que inclui cidades do interior paulista como Campinas e Sorocaba, e municípios de Minas Gerais. A promessa é chegar a 30 lojas até 2023. As lojas físicas respondem atualmente por 8% das vendas.
A lojas funcionam como um hub logístico. “As lojas entregam em três a quatro horas e os pedidos podem ser feitos pela internet, fisicamente ou pelo televendas”, diz Thiago. A companhia conta com um centro de distribuição porte em Cajamar (SP).
A mais nova empreitada é a aquisição de O Mecânico, canal de conteúdo que conta com 300 mil seguidores no YouTube.
Ao que tudo indica, essa não será a única aquisição. A Loja do Mecânico está fazendo a diligência de dois ativos para aquisições e assinou quatro contratos de confidencialidade para avaliar outros negócios, conta Renan Henrique. No radar, ativos que complementem o portfólio ou ajudem na expansão geográfica da empresa.
Outras conversas estratégicas, que podem incluir uma operação de fusão e aquisições de maior porte, que vá além dos R$ 300 milhões já programados em investimentos, não são descartadas. No que depender dos Gurgel, a Loja do Mecânico vai ganhar ainda mais velocidade, chegando a 200 lojas, deixando de ser “apenas” uma referência digital.
Fonte: Valor Econômico