As empresas de logística expressa estão em ritmo de Black Friday antecipada, com a alta das compras on-line de remédios, alimentos e até de eletrodomésticos. O volume de entregas em abril quase dobra em relação a março. Há empresas ampliando o número de entregadores e planejando ampliar a capacidade de armazenagem, mas há também quem estude adiar investimentos, pois os custos operacionais cresceram com os cuidados para combater a covid-19.
Na primeira quinzena de março foi registrada queda de até 30% no volume de entregas em algumas transportadoras. Mas em abril o cenário mudou e as empresas trabalham manter as operações ininterruptas.
A Loggi, companhia brasileira que faz entregas com uma rede de motociclistas, viu crescimento de 94% nas encomendas em abril ante março. Cerca de 80% das viagens feitas pelos 40 mil motoboys são para levar medicamentos, refeições e compras de supermercados.
“Foi colocada uma pressão tremenda na operação”, disse Fabien Mendez, cofundador e presidente da Loggi, avaliada em US$ 1 bilhão depois de ter recebido um aporte de US$ 150 milhões liderado pela japonesa Softbank em junho do ano passado. Segundo Mendez, houve queda brusca no serviço de mensageria, já que a maior parte das pessoas está trabalhando remotamente. Mas foi compensada pelo volume de compras feito pelos brasileiros no comércio eletrônico.
A pandemia não suspendeu os planos da Loggi, que investirá R$ 250 milhões neste ano, 50% a mais que em 2019, para contratar engenheiros e comprar softwares e equipamentos de automação. Parte dos recursos vai para centros de distribuição. A empresa conta hoje com um CD e mais dois serão abertos neste trimestre. Além disso, existem 40 áreas de armazenagem e expedição. Em fevereiro, a empresa, com sede em São Paulo, expandiu para 180 cidades a rede de lojas Leve, operadas por terceiros e que funcionam como mini-hubs para separar mercadorias e expedir pacotes.
Dados da consultoria GfK mostram que o faturamento das lojas on-line com bens duráveis cresceu 55% na semana de 6 a 12 de abril, em base anual. Nesse canal, as vendas de ventiladores cresceram 122%, seguidas por depiladores (103%), notebooks (95%), barbeadores (91%) e TVs (57%).
A demanda maior também foi sentida pela Jadlog, controlada pela europeia DPDgroup. O presidente Bruno Tortorello disse que na segunda semana de março o volume de encomendas caiu 30%, mas a partir do fim de março houve aumento massivo do comércio eletrônico. “Nas últimas duas semanas ativamos um plano de Black Friday e estamos trabalhando 24 horas por dia”, disse o executivo.
No início da quarentena, os itens mais comprados eram TVs, notebooks e acessórios para garantir o trabalho remoto e o entretenimento da família. Depois, as entregas ficaram concentradas em produtos perecíveis e remédios controlados. Segundo Tortorello, as entregas feitas ao consumidor representam 60% dos negócios.
A Jadlog abriu 200 vagas, entre temporárias e com carteira assinada, para as funções de motorista, ajudante e encarregado para aumentar a capacidade de atendimento em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Recife. O executivo disse que os custos administrativos aumentaram, porque a empresa criou um fundo de apoio para seus 500 franqueados, funcionários e agregados, no valor de R$ 500 mil. A companhia tem um centro de distribuição no Estado de São Paulo e 17 mini-hubs no país.
Nos planos da Jadlog estava a construção de um novo centro de distribuição no mercado paulista orçado em R$ 100 milhões, mas para preservar o caixa em momento de crise, o projeto pode ser adiado para 2021. “Estudamos as melhores alternativas e tudo dependerá da economia nos próximos meses”, afirmou Tortorello.
Na Sequoia Logística, controlada pelo fundo Warburg Pincus, a média de 100 mil entregas diárias caiu no início de março, mas agora já cresce acima de 10%. “No primeiro trimestre não houve impacto, mas a previsão de faturamento para o ano será revisada”, afirmou o presidente Armando Marchesan Neto. A previsão era alcançar R$ 1,25 bilhão em 2020.
A dúvida de Marchesan é como será o quarto trimestre, que representa entre 35% e 40% do faturamento da empresa, devido às entregas para Black Friday e Natal. No fim de 2019, a Sequoia refinanciou uma dívida de R$ 150 milhões para dar fôlego ao caixa neste ano.
Para atender à alta demanda do comércio eletrônico, a Sequoia remanejou funcionários. O pessoal que abastecia redes de vestuário em shoppings, por exemplo, passou a atender lojas on-line.
A Braspress Transportes Urgentes, que faturou R$ 1,3 bilhão em 2019, também observa crescimento nas encomendas, especialmente na categoria de produtos com até 15 kg. “É quase uma Black Friday. A área tem crescimento exponencial”, disse o diretor comercial, Giuseppe Lumare Júnior.
Na divisão de negócios para o consumidor, que inclui majoritariamente as lojas virtuais, a participação no faturamento subiu de 25%, antes do início da pandemia, para os atuais 55%. O diretor disse que a Braspress está se estruturando para avançar na entrega de pacotes abaixo de 5 kg, segmento dominado pelos Correios, e que tem o potencial de dobrar as vendas em até três anos.
Os Correios informaram que houve avanço no fluxo postal, principalmente no comércio eletrônico, em março e abril ante igual período de 2019. Diante da pandemia, foi contratada em março uma linha de crédito para capital de giro de R$ 250 milhões com o Banco ABC Brasil.
Fonte: Valor Econômico