O mundo jurídico é cheio de clichês. Quando pensamos em advogados ou juízes, logo associamos com pessoas vestindo longas becas escuras e fazendo sonolentos e empolados discursos. De fato, há também um excesso de formalismo, o que muitos entendem ser a origem da morosa burocracia.
Em outras palavras, o formalismo é uma ideia intrínseca aos advogados e juízes. Nesse contexto, haveria espaço para a tecnologia transformar o universo jurídico? Sim, e essa mudança atende pelo nome de lawtech ou legaltech.
As lawtechs são startups de tecnologia que oferecem soluções para o mundo jurídico. Por meio da tecnologia, advogados podem fazer acordos entre litigantes em uma plataforma digital ou até realizar alguns dos procedimentos exigidos pela Justiça em um ambiente na web, entre outras coisas.
A ideia já ganhou adeptos no mundo corporativo e o varejo brasileiro já tem um bom exemplo. É o caso da Localiza, uma das grandes empresas no setor de alugueis de carros no Brasil.
Localiza e o contencioso tributário
Segundo Christiano Xavier, head legal da Localiza, a descoberta do mundo das lawtechs aconteceu por um acaso. No passado, a empresa possuía uma grande quantidade de processos judiciais na área tributária. “Tínhamos um contencioso tributário grande e queríamos dar uma solução para esse problema. Então, um dia apareceu uma empresa com uma solução tecnológica que prometia fazer as petições de ações parecidas. E foi assim que nasceu o projeto piloto”, explica.
Em um primeiro momento, a tecnologia foi usada para produzir um pequeno número de petições. Não demorou e a tecnologia praticamente assumiu uma importante função dentro do escritório. “De repente, tivemos a informação de que 50% delas já estavam sendo feitas por um software. Foi um choque para nós”, lembra Xavier.
Christiano Xavier, head legal da Localiza. Crédito: divulgação
Transformação digital
O bem sucedido caso do contencioso tributário foi decisivo para uma transformação digital no escritório jurídico da Localiza. A empresa, então, adotou soluções de lawtechs também no atendimento jurídico para consumidores insatisfeitos. Uma delas foi uma plataforma digital de conciliação. Além disso, foi incorporada a rotina da companhia um bot que “caça” reclamações de clientes nas redes sociais ou outros lugares da web. Uma vez identificada a queixa do cliente, a empresa pode entender o que causou a indignação do consumidor. “Isso evitou novas ações e ajudou a diminuir o tamanho do nosso estoque, que era de 1 900 processos. Hoje, temos 1.200 e a meta é diminuir para 900 até o fim do ano. Vamos conseguir”, afirma Xavier.
O uso dessas tecnologias ajudou a empresa a reduzir alguns milhões de reais por ano – há quem diga que seriam R$ 60 milhões, mas a companhia não confirma. “Hoje, parecemos mais uma área de TI do que de uma empresa de locação”, diz ele. O próximo passo da Localiza é o uso de um aplicativo para localizar advogados que possam representar a empresa em localidades mais distantes, tal qual o Uber.
Fonte: Novarejo