A empresa de software de gestão de varejo Linx se uniu à startup de marketplace e entregas Rappi para permitir que lojistas de shopping consigam vender mais facilmente seus produtos.
Os lojistas clientes da Linx já conseguiam vender pela Rappi desde janeiro. Com a pandemia, a parceria foi intensificada — e se tornou necessária como nunca. Os lojistas de shopping estão entre alguns dos mais afetados pelo isolamento social imposto pelo novo coronavírus. Com as lojas praticamente inoperantes, já foram mais de 20 bilhões de reais perdidos durante a pandemia, segundo cálculos da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop).
Com um serviço de geolocalização, potenciais compradores em áreas vizinhas aos shoppings que tenham o app da Rappi instalado recebem notificações oferecendo produtos que estão nos estoques dos estabelecimentos. Redes como Natura, Ri Happy e Hering são algumas das clientes da Linx usuárias da solução. A parceria foi divulgada em primeira mão à EXAME.
“Neste formato, o entregador do Rappi vai até a porta do shopping, mesmo fechado, e pega o pedido com um funcionário da loja”, diz Jean Klaumann, vice-presidente de digital da Linx. “E a oferta é personalizada, só aparece para os clientes daquela área.”
Os desafios da quarentena
Os esforços da Linx e de seus clientes na pandemia tornaram-se um retrato do varejo brasileiro nos tempos de isolamento. A empresa tem como clientes tanto varejistas de setores em alta, como farmácia, pet shop e lojas de conveniência, a segmentos em maior dificuldade, como os lojistas de shopping,
A parceria com a Rappi foi uma das frentes em meio à “operação de guerra” à qual a Linx vem recorrendo para ajudar seus lojistas clientes, outrora focados sobretudo no varejo físico, a vender pela internet.
De uma hora para outra, uma série de varejistas se viu forçada a uma digitalização em tempo recorde — levando a uma projeção de mais de 90% de queda no faturamento das empresas clientes da Linx em abril. “Estamos em uma espécie de operação de salvamento junto aos clientes, para oferecer todo o ferramental para que eles continuem vendendo”, diz Alberto Menache, presidente da Linx.
Muitas empresas clientes já tinham alguma experiência online, mas não se pode dizer que alguém estava totalmente preparado para mais de um mês de lojas fechadas. Mesmo em setores que viraram estrelas na pandemia, como as farmácias, mudanças bruscas estão sendo feitas nas últimas semanas: a Linx fechou durante a quarentena uma parceria para venda de itens de farmácias clientes no marketplace da B2W, dona de Americanas.com, Submarino e Shoptime.
Há cerca de 15.000 farmácias clientes na Linx, muitas com mais de 60.000 produtos. “Quase todas já tinham seu motoboy para as entregas, mas tinham dificuldade em oferecer os produtos na internet”, diz Klaumann.
O segmento de farmácias vem sendo um dos mais requisitados durante a pandemia. Ainda que as farmácias continuem abertas, itens como álcool em gel chegaram a ter alta de 4.000% no número de pedidos online, segundo a empresa de inteligência Compre&Confie. Mas o setor ainda estava pouco presente online: o segmento de saúde teve alta de 131% na receita online em março, mas ainda responde por 2,7% do total da receita no e-commerce brasileiro. Em março de 2019, essa fatia era de somente 1,2%.
Também durante a pandemia, A Linx fechou uma parceria com o Mercado Livre para integrar o estoque das lojistas clientes ao marketplace argentino, que responde por mais de um terço das vendas online no Brasil. Parceria semelhante já existe também com o Magazine Luiza, que tem pouco mais de 10% do e-commerce nacional.
Apesar da queda em alguns setores, as vendas online estão crescendo em todas as categorias, diz Klaumann, em parte como compensação pelas perdas no varejo físico. As vendas online pelas plataformas da Linx estão 25% maiores até mesmo do que em novembro, quando acontece a Black Friday, a data de ouro do e-commerce brasileiro.
“A tônica em abril foi amplificar um pouco essa relação entre online e offline, continuar vendendo o estoque que já está na loja física”, diz. “Todos os setores precisam vender o que têm na loja. Em empresas de moda, por exemplo, muito do que está lá é coleção verão: se o lojista não vender agora, é mais difícil vender depois”.
WhatsApp, app próprio, marketplace: as estratégias para seguir vendendo
Além da presença em marketplace de terceiros, uma grande demanda no varejo em meio à pandemia vêm sendo por formas de contato direto com o consumidor. O WhatsApp é um dos canais mais procurados na Linx, mas têm crescido também a busca por serviços de sites e aplicativos white label, isto é, uma aplicação padrão que os lojistas podem personalizar com seu rótulo e produtos, mas cuja tecnologia e interface básica é igual para todos.
Mais de 200 clientes já estavam usando em meados de abril a opção de link de pagamento da Linx, que permite receber pagamento online, enviar catálogo de produtos e vender direto pelo WhatsApp. A Ri Happy, que tinha 8% de suas vendas online antes da pandemia, é uma das que vem usando a ferramenta na quarentena para vender brinquedos pelo app de mensagens.
Dentro das lojas físicas, a solução também permite pagamento sem contato — e foi uma das mais procuradas no começo de março, às vésperas do começo da quarentena, com clientes tentando não tocar em nada.
Nos restaurantes, mais de 500 estabelecimentos também já solicitaram à Linx um aplicativo próprio. Com os marketplaces como iFood, Rappi e Uber Eats lotados de restaurantes tentando vender, tem se tornado mais difícil para os estabelecimentos disputar atenção e fidelizar os clientes nestas plataformas.
A Linx contou ainda com o fator sorte para alavancar a ferramenta: em fevereiro deste ano, havia anunciado a aquisição da startup Neemo por 17,6 milhões de reais. A startup já era uma das líderes em sistemas de digitalização e delivery de restaurantes.
Para as farmácias, além da venda via B2W, a Linx criou uma plataforma própria de vendas que pode ser implementada em três dias. Uma farmácia pode adaptar o site padrão com seu logo, produtos e endereço de preferência. A Linx afirma que mais de 100 estabelecimentos ingressaram na ferramenta já na primeira semana disponível. Também contribuiu uma mudança na legislação brasileira, que passou a permitir venda de antibióticos com receita online, o que antes barrava o avanço do setor na internet.
Na migração de negócios para o online, há uma série de desafios operacionais que atrasariam a operação, como o catálogo de produtos. “Imagine tirar foto de milhares de produtos para fazer o site”, diz Klaumann. Assim, com as soluções padronizadas, o processo pôde ser acelerado. “A farmácia de bairro ou outros pequenos negócios não conseguiriam fazer um sistema para vender online tão rapidamente. Queríamos entregar uma solução pronta”, diz.
Para melhorar as entregas do e-commerce, a Linx também está traçando parcerias com startups para lançar nos próximos meses “algumas centenas” de lockers no eixo Rio-São Paulo. São armários bloqueados que o cliente pode usar para retirar sua mercadoria em alguns pontos de coleta, em vez de recebê-la em casa. Comum em países do exterior, como nos Estados Unidos e na Ásia, essa opção logística barateia o custo e os prazos do frete.
Mesmo quando as lojas físicas reabrirem, a pandemia terá trazido, na visão dos executivos da Linx, algumas mudanças irreversíveis ao varejo. Os restaurantes devem focar ainda mais no formato de dark kitchen, com espaços físicos voltados para entregas, sem salão. As lojas terão estoque mais multicanal, vendendo da loja direto para o e-commerce. Na moda, as lojas físicas continuarão sendo importantes, mas sobretudo para que o cliente veja as peças antes de comprar, em um formato mais voltado ao showroom. Os estoques também devem ser cada vez mais digitalizados, por meio do uso de tecnologias da indústria 4.0, como RFID — as etiquetas “ingeligentes”, que usam radiofrequência.
Com serviços usados por 40% do varejo brasileiro, a Linx ficou conhecida por ajudar empresas em todo o Brasil a modernizar a gestão em suas lojas. Agora, a empresa quer ser também a porta para um novo mundo em que o comércio eletrônico e um varejo conectado e multicanal será essencial como nunca — para os grandes e os pequenos.
Fonte: Exame