As tecnologias emergentes e sua evolução exponencial têm forte impacto sobre os negócios em praticamente todos os setores econômicos. Acompanhá-las, identificar o potencial de impacto e estabelecer estratégias de atuação adequadas são, certamente, algumas das tarefas mais críticas para os executivos.
O desafio maior para as organizações, entretanto, não reside nos aspectos tecnológicos, mas sim na revisão do modelo de governança corporativa e das políticas da empresa e no estímulo ao pensamento divergente.
Pessoas são naturalmente resistentes a mudanças e constroem organizações que representam a soma dessas resistências. Paulo Silva, diretor-executivo do Walmart.com, reconhecido e respeitado como um profissional inovador com atitudes digitais, ressalta a importância do papel do CEO nesse contexto.
“O CEO deve provocar discussões sem amarras e estimular a equipe a enxergar o dia a dia por uma perspectiva diferente. Existem metodologias apropriadas para isso, mas o CEO precisa dar o exemplo.”
Paulo recomenda a criação de colegiados provocativos “trans-áreas”, propiciando momentos formais para que as práticas cotidianas sejam questionadas com liberdade. Segundo ele, a tecnologia é apenas um dos recursos para inovação. Para “surfar” novas ondas é necessário ter objetivos e são os consumidores que determinam esses objetivos. “Os consumidores são os verdadeiros agentes de transformação. Não é a tecnologia exponencial, mas o uso exponencial da tecnologia que realmente importa.”
De um modo ou de outro, é importante para a empresa reconhecer a necessidade de inovar e agir com a velocidade necessária que, ainda de acordo com Paulo, é pautada pelo consumidor. “Cada mercado tem a sua velocidade e compete à liderança da empresa estimular a inovação e remover os obstáculos.”
As estruturas de governança corporativa podem ser determinantes para a capacidade inovadora de uma organização. Paulo sugere que o Conselho Consultivo incorpore profissionais com perfil inovador que sejam capazes de “aceitar” resultados de longo prazo, já que inovações realmente transformadoras costumam levar de três a cinco anos para serem implementadas. Um conselho focado em resultados de curto prazo não dará suporte à verdadeira inovação.
Inovações quase sempre demandam mudanças nas políticas e práticas da empresa e a área de compliance precisa ser convidada a participar dos projetos desde o seu início para indicar os caminhos mais adequados para a implementação dessas mudanças.
“É fundamental que a equipe de compliance seja, também, agente de transformação para que não se transforme num obstáculo para a inovação.”
Fonte: Folha de S. Paulo