Experiências difíceis como a pandemia do novo coronavírus trazem lições valiosas para os líderes de empresas. Na visão de José Galló, presidente do conselho de administração da Lojas Renner, momentos como esses ajudam a preparar os empresários para superar crises e recessões – situações intrínsecas ao dia a dia dos donos de negócio.
Na semana que vem, Galló participa da 10ª edição da Expert XP, evento online e gratuito promovido pela XP Investimentos. O presidente irá participar do painel “Liderança em tempos de crise”, no dia 15 de julho, das 21h às 22h.
A seguir, confira trechos da entrevista com o executivo, que conta as lições que aprendeu ao enfrentar crises durante os 20 anos em que foi CEO da Renner.
Quando um líder percebe que vai enfrentar uma crise histórica?
É importante dizer que há diferenças entre uma crise como essa e uma recessão econômica. No caso da recessão, há variáveis que mandam avisos. Como numa tempestade chegando, a cor do céu muda, os ventos ficam mais fortes, os animais se comportam de maneira diferente. Tem gente que não precisa olhar a previsão do tempo para perceber essas mudanças. Agora, o que aconteceu é uma crise única, na qual a saúde afetou a economia. A diferença é que ela foi aconteceu antes na China e em países da Europa. Alguns viram, outros não quiseram ver. Outro ponto que destaco é que líderes mais jovens, que não tinham a competência de gestão de crise, também sentiram mais dificuldade para lidar com isso. Empresas mais experientes agiram de maneira diferente.
Você já tinha passado por algo similar?
Olha, eu diria que as maiores crises que enfrentei foram econômicas. O Plano Collor, por exemplo, foi muito difícil, porque praticamente cortou a circulação da moeda e do crédito. Criou um vazio de consumo relevante. Uma inflação de 3.800% ao ano também não é nada fácil. Imagine fazer a gestão disso. A parte boa é que muitas companhias e líderes que passaram por isso conseguiram vencer a crise e crescer. A própria Renner é exemplo disso. Era uma rede de varejo regional e se tornou uma empresa com mais de 600 lojas, no Brasil, Uruguai e Argentina.
Enquanto líder, qual foi o seu papel na hora de cuidar dos seus funcionários durante a pandemia?
Na verdade, eu tenho de dar os méritos para o atual CEO, Fábio Faccio, meu sucessor. O que eu posso comentar é como um líder enfrenta crises duras. A primeira coisa a se pensar é nas pessoas. Uma crise gera medo, pânico. E há duas formas de lidar com isso: ou você se assusta e fica imobilizado ou esse estresse te provoca uma reação. Depois disso, é procurar entender a situação e analisar as consequências do que está acontecendo. Você só dá o passo seguinte se efetivamente faz um diagnóstico correto do que é a realidade. Quando há um problema, é preciso entender a causa para resolvê-lo – e não seus efeitos. Reconhecer a realidade é descobrir a causa. Muitas vezes, o líder pode acabar com o medo de sua equipe, fazendo com que ela o ajude a ver a realidade. Com isso, há um efeito positivo em todo o time. Isso cria um ambiente mais construtivo. Depois, você tenta descobrir a resposta para a crise. Não acredito muito em heroísmo nessas horas. No caso da Renner, fizemos esse movimento. Primeiro, olhamos para os funcionários, depois para os fornecedores e depois para a comunidade.
E como olhar para frente depois de um período como esse?
Com esperança. A grande lição é que descobrimos que podemos fazer muito mais do que imaginávamos, com mais velocidade e produtividade. As empresas estão muito mais preparadas. Para o bem ou para o mal, estamos todos mais capacitados a enfrentar crises. Por outro lado, ainda há desafios à frente, principalmente nas crises políticas. Elas não ajudam em nada o país.
Fonte: Época Negócios