Quando entrou na sede da Lojas Renner, em Porto Alegre, em 1991, José Galló, então com 40 anos, não fazia ideia da história que faria ali. Com experiência em redes de varejo, o executivo estava ali para socorrer uma empresa familiar regional de oito lojas, 800 funcionários e um valor de mercado que não ultrapassava US$ 1 milhão.
Ao subir os degraus das escadas que o levavam ao terceiro andar, onde ficavam as salas da diretoria, o executivo dava os primeiros passos que levariam a Renner ao patamar que tem hoje: uma companhia nacional, com três marcas, mais de 512 lojas, mais de 19 mil funcionários e um valor de mercado que ultrapassou, em 2017, R$ 25,3 bilhões.
Como poucos, Galló passou por várias fases do negócio e em todas elas era o homem na cadeira principal. Quando entrou na companhia, teve carta branca de Cristiano Renner, o então presidente, para mexer no negócio. A partir dali, o executivo iniciou o reposicionamento da companhia, focado no consumidor.
Após esse primeiro ciclo, a Lojas Renner entrou em uma segunda fase, quando, em 1998, a JCPenney, varejista norte-americana, assumiu seu controle. Mudanças no direcionamento de negócios da empresa nos Estados Unidos fizeram a JCPenney vender o controle da Renner e transformou a empresa, que tem capital aberto em Bolsa desde 1967, na primeira corporação do País – ou seja, a primeira empresa com 100% do capital pulverizado em Bolsa de Valores.
Galló passou a ser, então, o CEO de uma empresa “sem dono”, sem um grande controlador. “Eu brinco que nós temos 4.800 patrões”, diz Galló à NOVAREJO, referindo-se aos acionistas. Essa condição colocou o executivo em uma posição considerada confortável para muitos, mas ao mesmo tempo perigosa.
Essa autonomia garantiu o crescimento exponencial da empresa, mas ao mesmo tempo criou um impasse: o mercado especula como será a Renner sem Galló. Com quase 30 anos na liderança da empresa e 66 anos de idade, o executivo deve iniciar a contagem regressiva de sua saída da cadeira de presidente – seu contrato expira neste ano. Há quem diga que não há sucessor sendo preparado – afirmação que Galló nega. “Nós temos um plano de sucessão. As coisas vão caminhando, pode ter certeza disso”, afirma.
Por enquanto, a Lojas Renner só tem o que comemorar. Em 2017, a empresa registrou um crescimento de 17,2% no lucro líquido, na comparação com 2016, e um crescimento de 10,2% no Ebitda ajustado total. No ano passado, a empresa iniciou sua internacionalização e já abriu três lojas no Uruguai. Com a retomada do consumo e a estabilização da economia, a companhia deve seguir seu ritmo de crescimento.
Tudo isso sob a batuta de Galló que, mesmo com tantos feitos, ainda caminha pela empresa usando crachá, almoça no refeitório onde todos os funcionários da sede comem, e não deixa de ouvir quem importa em uma operação de varejo. “Eu sempre falo com o vendedor, porque é ele quem está próximo dos detalhes da operação e do consumidor”, afirma. Como não pode ir a todas as lojas da companhia, Galló acompanha tudo por quatro grandes telas de vídeo que ficam em sua sala. Quando vê algo errado, logo liga para a loja.
Com jeito simples, o executivo faz questão de liderar pelo exemplo. Ele divide uma grande sala com outros diretores. Ali, perto dele, fica a mesa da diretoria de RH – um dos elos considerados mais importantes pelo gestor, que dispensa pequenos luxos que muitos CEOs exibem por aí, como ter alguém para lhe servir água e café. “Se quiserem, tem água e café aqui no corredor”, disse ao receber a equipe de NOVAREJO na sede da Lojas Renner, em Porto Alegre.
Fonte: Novarejo