Piticas prevê inauguração de 20 unidades e Riachuelo inicia negócio voltado ao público ‘geek’
Por Ricardo Lessa
Homem-Aranha, Batman e Hulk se recuperaram rápido da pandemia de covid-19. Pelo menos suas imagens, como a de outros heróis, estampadas em roupas, sapatos e brinquedos alimentaram um mercado mundial que faturou cerca de US$ 300 bilhões no ano passado, quase 8% a mais que em 2019.
É o valor do licenciamento de imagens apurado pela Brandar Consulting, por encomenda da Licensing International, entidade que reúne as associações dos principais mercados consumidores de produtos com estampas de personagens.
O Brasil fica com uma fatia menor que 2% do mercado mundial de licenciamento. Faturou no ano passado R$ 21,5 bilhões e cresceu em relação ao ano anterior à pandemia, 2019, quando o setor movimentou R$ 20 bilhões. Em 2020, o faturamento foi de R$ 21 bilhões.
Os números são da Associação Brasileira de Licenciamento de Marcas e Personagens (Abral), filiada à Licensing International. A diretora-presidente da entidade no país, Marici Ferreira, acredita que em 2022, apesar das incertezas políticas e econômicas, os números serão ainda melhores.
Um dos grandes licenciadores brasileiros, a rede de lojas Piticas, com 450 pontos espalhados nos shoppings, não tem o que reclamar. O proprietário da rede, Vinícius Rosseti, prevê a abertura de mais 20 lojas este ano.
O negócio foi criado em 2011, quando Rosseti decidiu voltar ao Brasil depois 10 anos nos Estados Unidos com a família, onde estudou administração e finanças. Junto com o irmão mais novo, Felipe, abriu seu primeiro quiosque no Itu Plaza Shopping, no interior de São Paulo, ainda com o nome “Patetas”, mas com a ideia de explorar o mercado de jovens geeks, apaixonados por séries, jogos eletrônicos e pelo mundo de ficção científica.
“A gente comprava camisetas na galeria do Rock [famosa no universo ‘geek’ e underground de São Paulo] e revendia no quiosque”, conta Vinícius Rossetti.
O primeiro licenciamento foi em 2013, da série de animação “South Park”, propriedade da Nickelodeon. Naquele ano, o quiosque precisou mudar de nome, já que Pateta é personagem da Disney. Então os irmãos decidiram usar Piticas, inspirados em um apelido de criança de Vinícius.
Com o fechamento dos shoppings centers no início da pandemia, lojas e quiosques da rede sofreram o baque da queda do consumo, mas os super-heróis vieram logo resgatá-los. Atualmente os sócios têm mais de 60 contratos de licenciamento, fábrica própria de roupas, com cerca de mil funcionários, estamparia própria para os personagens e se situam entre os 50 maiores franqueadores brasileiros.
Além dos super-heróis como Homem Aranha e Hulk, dos personagens das sagas Star Wars e Harry Potter, a Piticas tem contratos com bandas de rock, personagens dos desenhos animados japoneses, além da Turma da Mônica e youtubers brasileiros.
O mercado tem se mostrado resiliente, comenta Rossetti: “Mesmo com a gasolina chegando nos R$ 10 e perda do poder de compra do brasileiros, o ‘streaming’ é um entretenimento relativamente barato”, diz.
Atualmente, o grande consumo nas lojas Piticas é de peças relacionadas à série Stranger Things, campeã audiência na Netflix, na quarta temporada, com 286 milhões de horas vistas entre 23 e 29 de maio. “Esgotou nosso estoque”, diz Rossetti.
A primeira temporada da série, que começou em 2016, estreou a quarta sequência na semana passada, com capítulos mais longos. Traz temas atuais para os quatro heróis adolescentes já mais crescidos, a guerra, as ameaças ao planeta.
De olho no mesmo universo “geek”, o grupo Guararapes, dono das Lojas Riachuelo, inaugurou este ano uma nova rede de lojas, a FanLab, com produtos relacionados a personagens, filmes, games e séries. As duas primeiras unidades foram abertas nos shoppings Morumbi e Anália Franco em São Paulo. O negócio também conta vendas on-line.
O consumidor fã das séries de ficção costuma gastar 40% a mais do que a média nacional, segundo a chefe de marketing da Riachuelo, Thaís Castro, citando análise da Rakuten Digital Commerce.
Desde 2015, segundo Thaís, a Riachuelo vem investindo intensamente em licenciamentos: “Duplicamos o negócio em 2020, quando nos tornamos líderes nacionais em licenciamento, e temos tido ótimos resultados”.
A rede já tem 360 personagens licenciados, de Harry Potter a Stranger Things. Nas lojas, o atendimento do público geek será feito por vendedores que também pertencem a esse universo, diz a chefe do marketing: “Os fãs, seja dos filmes, jogos ou quadrinhos, buscam novidades o tempo todo e expressam suas paixões através dos produtos”.
Junto com os consumidores adolescentes e jovens adultos, as crianças mais novas são grandes participantes do mercado dos brinquedos, roupas, e bonecos com as imagens de personagens.
Entre 3 e 18 anos, o herói predileto ainda é o Homem-Aranha, criado em 1962 para revista de quadrinhos da Marvel. A estreia dele no cinema foi em 2002. No ano passado, voltou para as telas com uma terceira história.
Os números são da Askids, divisão de dados e insights da Kids Corp, especializada nessa faixa de idade, feita entre abril e maio deste ano. O único rival que se aproxima, na faixa de idade entre 3 e 5 anos, é a Patrulha Canina.
Fonte: Valor Econômico