Com uma dívida de R$ 1,1 bilhão, a Leader está negociando os termos de seu plano de recuperação judicial com credores. A varejista fluminense, que pediu proteção à Justiça em março, pouco antes do início da pandemia no Brasil, tem quase todos os débitos, ou mais de R$ 1 bilhão, concentrados em instituições financeiras e fornecedores.
A proposta da empresa é quitar a dívida em 15 anos, segundo fonte que acompanha o processo. Os primeiros 10% desses créditos, porém, só começariam a ser quitados a partir do quarto ano após o acordo ser homologado na Justiça e ainda assim seriam divididos ao longo de 12 anos.
Os 90% restantes seriam pagos também em 15 anos, com início do desembolso a partir de 2022. Neste caso, porém, a Leader sugere usar o excedente de geração de caixa, mas somente se o faturamente superar o patamar de R$ 1,3 bilhão, para amortizar a dívida. E somente 4% deste excedente seriam destinados aos credores. No ano passado, a Leader registrou vendas de R$ 1 bilhão.
Este ano, com o tombo em vendas em razão dos dois meses de lojas fechadas devido à Covid-19, a estimativa é chegar a R$ 650 milhões, mas com a perspectiva de retomar a lucratividade em 2021, segundo fonte próxima à Leader.
Foco na moda acessível
A avaliação de pessoas a par do processo é que enquanto a questão da dívida não for equacionada, a empresa não terá capacidade de crescimento. A aposta é que o acordo abrirá caminho para a recuperação definitiva da empresa.
Para o passivo trabalhista, de R$ 5,9 milhões, a proposta é que aqueles que têm crédito em quantia equivalente ao valor de até cinco salários mínimos recebam o total em parcela única num prazo de 30 dias após o acordo homologado. Créditos superiores a esse valor serão recebidos em 12 parcelas mensais. A empresa tem pouco mais de dois mil funcionários.
Para voltar ao azul, a companhia está fazendo uma reestruturação de operações. De um lado, a Leader avança em redução de custos, ancorada em mudanças na rede de lojas, que vão resultar em corte de R$ 80 milhões em despesas anuais. Gastos com pessoal caem em R$ 40 milhões ao ano.
A varejista começou 2020 com 93 lojas. Desde março, fechou oito unidades, incluindo endereços de destaque, como os de Copacabana e Catete, na Zona Sul, além de outro em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O foco está em descontinuar operações que não sejam lucrativas. A meta é fazer de 2021 o ano da consolidação do negócio, ganhando eficiência operacional.
Em paralelo, a varejista montou um plano de expansão, com a meta de alcançar uma rede de cem lojas até o fim de janeiro de 2021. O carro-chefe é o posicionamento da Leader, que passa a trabalhar para se consolidar como referência em moda acessível, voltada para o brasileiro médio, das classes B e C. Houve readequação de preços, agora “mais baixos e inteiros”, diz a fonte, como R$ 35 ou R$ 2, sem centavos quebrados.
O grupo desenvolveu novo modelo de loja, mais compacto, com espaço médio de 500 metros quadrados, pouco mais de um terço do tamanho das unidades atuais, que têm cerca de 1.200 metros quadrados. De julho a outubro, a Leader fez cinco inaugurações, incluindo nova filial em Nova Iguaçu e uma em Macaé. Entre este mês e janeiro virão outras dez, em cidades como Niterói, Volta Redonda e Belo Horizonte (MG).
A empresa entregou o espaço no Centro do Rio onde funcionava a administração. E distribuiu seus núcleos de gestão em espaços localizados dentro de lojas espalhadas pela Região Metropolitana.
Para ampliar vendas, a rede botou de pé o e-commerce, que até aqui cobre apenas a capital e o Grande Rio. E desenvolve a estrutura logística para ganhar agilidade de entrega. Transferiu o centro de distribuição para um galpão com área 60% maior, mas com custo de locação 50% mais baixo que o do antigo endereço, em Campo Grande.
Como tem hoje menos fabricantes que entregam pedidos maiores, a Leader quer desenvolver polos fornecedores no estado. Essa rede já responde por cerca de 65% dos produtos de vestuário da varejista.
Fonte: O Globo