O grupo Kering prepara o desembarque de sua quarta marca no Brasil, onde já tem lojas das grifes Gucci, Yves Saint Laurent e Bottega Veneta.
Fontes do mercado de luxo dizem que pode ser a Balenciaga. Laurent Claquin, presidente para as Américas do grupo Kering, confirma a chegada de uma quarta marca, mas não diz qual é.
A Balenciaga ensaia há oito anos a abertura no país. Com a recente chegada da Balmain, no shopping Cidade Jardim, e do anúncio de que a Chloé também abrirá as portas, o cenário é propício para a retomada da estratégia. Soma-se a isso o fato de os maiores grupos de shoppings de luxo, o JHSF e o Iguatemi, terem lançado plataformas próprias de comércio on-line. Este é um facilitador do trânsito de produtos em cidades nas quais as marcas não possuem lojas físicas.
Ao falar ao Valor, no domingo em São Paulo, onde veio visitar lojas do grupo e proferir uma palestra sobre o “luxo do amanhã”, Claquin tinha nos pés um tênis preto da Balenciaga, peça que lota de turistas as lojas da etiqueta pelo mundo. Estava animado pelo fato do desfile da marca na Semana da Moda de Paris, que termina nesta semana, ter sido um dos mais bem avaliados pela crítica. O designer da Balenciaga é o georgiano Demna Gvasalia.
“Temos sempre de lembrar que essa indústria é guiada por oferta, não por demanda. Isso já é estudado há muito tempo. Então, você tem de ter um time criativo que seja reflexo da sociedade”, diz Claquin.
O investimento do grupo em novos nomes ganhou força em 2015, com a entrada de Alessandro Michele, designer responsável pelo fenômeno de fazer a Gucci crescer seis vezes o seu tamanho. Os “millenials” [entre 18 e 34 anos] abraçaram a estética vintage-nerd criada por ele e executada pelo presidente da marca Marco Bizzarri. Em 2017, as vendas da Guggi cresceram 47%. Em 2018, 37%, para € 8 bilhões.
Claquin, porém, não acredita em fórmulas. “Pode parecer estranho, mas a estratégia para lidar com millenials é não ter estratégia. Os jovens sentem o cheiro do que não é verdade. Meu conselho é ser autêntico e oferecer histórias relevantes, dizerlhes ‘pegue meu logotipo, brinque com ele’. Devemos entender que inclusão é a nova exclusividade e os jovens são bem menos leais a uma marca, porque reagem às emoções.”
Emoções que, é possível dizer, impulsionaram resultados positivos na grife Alexander McQueen quando, em 2010, o estilista homônimo se suicidou. A comoção detonou uma febre de vendas, que parte do mercado credita a uma espécie de “efeito fantasma”, expressão rechaçada pelo executivo.
“Não concordo com essa ideia. Lee [primeiro nome de McQueen] estava em trajetória ascendente teria continuado a crescer. Temos de ter consciência de que nesse negócio não se obtém lucro de um dia para o outro. Veja quantos estilistas que estão aí há décadas, construíram negócios sólidos e se mantêm fiéis a si próprios, como Giorgio Armani. É claro que você pode contratar alguém para dar um frescor à marca, mas isso não pode ser uma constante”, diz.
E acrescenta, numa óbvia crítica ao modelo em voga na indústria: “O problema é quando um estilista fica muito pouco tempo, duas, três estações. Moda precisa de tempo para se concretizar”.
Claquin começou a trabalhar no grupo Kering em 2004, como conselheiro pessoal de François Henri Pinault. Passou, logo depois, a liderar a criação de um departamento de responsabilidade social, numa época em que a palavra sustentabilidade era quase um palavrão no dicionário do luxo.
Fonte: Valor Econômico