Compra do e-commerce de games pode abrir caminhos para a varejista aumentar a frequência e o engajamento de consumidores
Por André Ítalo Rocha
Comprada há quase dois meses pelo Magazine Luiza, a KaBuM!, uma plataforma de e-commerce de games, pode representar mais do que um simples reforço à frente de comércio eletrônico da varejista da família Trajano.
Para o Itaú BBA, que voltou a cobrir a ação da empresa, a aquisição pode abrir caminhos para que a companhia entre na indústria de desenvolvimento de jogos, como uma forma de capitalizar a frequência e o engajamento de consumidores que usam a plataforma.
A plataforma de games foi adquirida pelo valor de R$ 3,5 bilhões, em julho deste ano, uma semana antes de o Magazine Luiza captar R$ 3,9 bilhões no mercado em oferta liderada pelo Itaú BBA.
Com 21 aquisições acumuladas desde 2020, o Magazine Luiza parece ter feito uma escolha com um perfil “ligeiramente diferente” ao comprar a KaBuM!, afirma o Itaú BBA, em relatório distibuído a clientes nesta quinta-feira, 9 de setembro.
Até o momento, diz o banco, o Magazine Luiza havia atraído empresas menores e complementares ao seu ecossistema, com uma lógica de reforçar o arsenal tecnológico e conectá-las à base mensal de 32 milhões de clientes.
A KaBuM!, que tem uma base de 922 mil clientes e R$ 3,4 bilhões em transações nos últimos 12 meses, parece ser muito mais do que uma tentativa de incorporar receita, diz o Itaú BBA.
“A plataforma tem um sortimento composto principalmente de hardware de computador e jogos, que complementa o sortimento do Magazine Luiza e permite que alcance uma base de clientes que ainda não conquistou: os jogadores”, escreveram os analistas Thiago Macruz, Gabriel Simões, Helena Villares, Maria Clara Briza Infantozzi e Felipe Amancio.
Eles lembram também que o Magazine Luiza, junto com a Husky Technologies, patrocina dois times de esportes eletrônicos, sendo um deles o maior time de League of Legends do país (também fundado pela KaBuM!). A KaBuM! apóia ainda outras iniciativas, incluindo Counter Strike, FIFA e Free Fire.
“Acreditamos que o compromisso do KaBuM! em patrocinar esportes eletrônicos e o desenvolvimento dessa sua abordagem é valioso porque aumenta o conhecimento do Magazine Luiza no mercado de e-commerce e também no de games – um mercado em rápido crescimento que vem ganhando a atenção dos investidores e pode desempenhar um papel fundamental para impulsionar a frequência de uso no ecossistema do Magazine Luiza”, afirmaram.
Este é um dos pilares que fazem o Itaú BBA acreditar que a varejista tem potencial para se valorizar. Os analistas estimam um preço-alvo de R$ 24, alta potencial de 27% em relação ao fechamento de quarta-feira, quando o papel encerrou o pregão cotado a R$ 18,79. A ação, com isso, voltaria a se aproximar do pico atingido em 5 de novembro, a R$ 27,46. Por volta das 15h15, a ação era negociada a R$ 18,20.
”As sólidas capacidades de execução e omnichannel da empresa, associadas a mais investimentos em logística e serviços financeiros, em nossa opinião, fazem do Magazine Luiza um forte concorrente para enfrentar a forte competição que esperamos para o mercado de e-commerce nos próximos anos”, escreveram.
No relatório, o Itaú BBA comparou o apetite da companhia para aquisições com o de outros competidores do setor de e-commerce. Com 21 compras desde 2020, o Magazine Luiza lidera com folga. O Mercado Livre fechou seis aquisições no período. Na sequência vem a B2W, com cinco, e a Via, com quatro.
Entre as aquisições do Magazine Luiza estão a Estante Virtual, um marketplace de sebos; a de serviços financeiros Hub Fintech; a Plus Delivery, de entrega de comida; a ComSchool, plataforma de educação à distância; e a GFL Logística, focada em logística para o e-commerce.
Para o Itaú BBA, a “batalha logística” será decisiva para que os participantes do setor de e-commerce sejam bem avaliados pelos clientes. “A Magazine Luiza teve sucesso em melhorar seu nível de serviço na operação 1P (quando a empresa tem domínio de toda a cadeia do e-commerce, da compra à entrega), e a companhia agora planeja estender essas capacidades para a operação 3P (quando o marketplace não tem domínio dos processos de separação e emissão da nota e entrega na transportadora)”, escreveram.
Os analistas ressaltam ainda que a empresa anunciou uma projeção “agressiva” para a logística. A expectativa é ampliar a área de armazenamento de 1.004.000 metros quadrados, no segundo trimestre de 2021, para 2.000.000 metros quadrados, ao fim de 2023. “Isso inclui a abertura de 341 lojas, 257 hubs e oito novos centros de distribuição”, informa um trecho do relatório.
O Itaú BBA vê também oportunidades para o Magazine Luiza na área financeira. “Dada a alta frequência, engajamento e lucratividade do segmento financeiro, acreditamos que esta pode ser a principal via de crescimento para os players de e-commerce no futuro”, escreveram.
Não por acaso, afirmam, as empresas têm anunciado aquisições e novas iniciativas para fortalecer e expandir suas capacidades de serviços financeiros. Mas essa é uma área cheia de competidores, como o caso do Mercado Pago, do Mercado Livre, considerada a iniciativa mais avançada, com US$ 17,5 bilhões transacionados no segundo trimestre, na América Latina.
“Mas a recente aquisição da Hub Fintech e da Bit55 pelo Magazine Luiza, e da Bit Capital e da Nexoos, pela Americanas, indicam que outros competidores estão fechando a lacuna em suas ofertas de serviços financeiros”, comparam os analistas.
Além disso, com a LuizaCred, uma joint venture com o Itaú Unibanco, o Magazine Luiza tem uma carteira de crédito de R$ 13,5 bilhões. “Acreditamos que pode ser um fator de diferenciação à medida que a empresa continua a explorar as oportunidades da fintech”, dizem.
Fonte: Neofeed