A falta de coordenação e adoção de um programa de ajuda financeira logo no começo da pandemia por parte do governo federal, que demorou a acreditar que a crise sanitária impactaria o país, afetou o varejo, segundo Carlos Jereissati Filho, presidente da Iguatemi Empresas de Shopping Centers. “Essa movimentação inicial que demorou um pouco para ser entendida pelo governo atrapalhou e prejudicou muito os varejistas”, disse o empresário, que ontem participou da Live do Valor, série de transmissões on-line realizadas diariamente pelo Valor.
Segundo Jereissati, que comanda 14 shoppings no país, nos primeiros 90 dias da pandemia, considerado o período mais crítico para o comércio, os shoppings usaram seu capital de giro para ajudar os lojistas, que viram suas vendas despencarem com a quarentena.
Com a reabertura do comércio, Jereissati estima que as vendas nos shoppings do grupo atinjam em setembro cerca de 80% do patamar registrado no período anterior à pandemia. No começo de maio, o empresário já projetava esse número.
O fato de operar num segmento premium, mais resiliente à crise, pode favorecer a empresa, dizem especialistas. “Mantemos nossa projeção do nível de venda pré- covid. Em Brasília, onde o varejo abriu antes, estamos próximos desse patamar”, disse Jereissati. Ele observou que as medidas de isolamento social adotadas pelos governos estaduais e municipais, inspiradas no programa criado pelo Rio Grande do Sul, foram positivas porque serviram para os varejistas programarem a reabertura.
Jereissati dz que as taxas de inadimplência e vacância nos shoppings do grupo mantêm-se estáveis, principalmente devido à isenção do aluguel cobrado dos lojistas, concedida nos primeiros três meses da pandemia. Analistas entendem preveem uma piora nesses números ao longo do segundo semestre nas empresas do setor, quando os lojistas tiverem que retomar os pagamentos.
O nível de desconto que as operadoras de shoppings deram aos lojistas caiu com a reabertura das lojas, apurou o Valor. Os comerciantes querem pagar o aluguel como percentual das vendas, mas os shopping centers querem cobrar um valor mínimo de aluguel. Pelo contrato, vale o que for maior valor.
Lojistas dizem que o percentual sobre vendas “come” fatia grande da receita. Já os shoppings afirmam que já deram a ajuda possível às lojas e é preciso respeitar os contratos. Alguns lojistas da Iguatemi buscaram se unir semanas atrás para tentar uma negociação coletiva com a empresa, em bloco, dizem fontes. Jereissati disse ontem que as negociações são individuais, conforme o desempenho de cada lojista e respectivo setor.
“Fomos os primeiros shoppings do mundo isentar totalmente os lojistas no primeiros 90 dias da pandemia. Isso foi algo que mostrou nossa abertura, nossa capacidade de entendimento”, diz o empresário. Observou que as negociações com as grifes internacionais têm sido promissoras devido a essa política.
Questionado sobre o desempenho das lojas de rua – que estão em ambientes abertos e, segundo algumas cadeias, estariam com melhores vendas nesses locais – o empresário disse que se trata de “oportunismo de curto prazo” e que os shoppings oferecem comodidades num só endereço.
Jereissati argumentou que o debate a ser feito hoje é o da integração da venda on-line e física. O grupo criou no ano passado uma plataforma de venda digital com 270 grifes, a Iguatemi 365.
Perguntado sobre o que o país precisa neste momento, Jereissati defendeu mais serenidade e maior acesso da população à educação. “O Brasil precisa de mais serenidade, é o novo sonho. Investir em educação que dá liberdade para as pessoas pensarem”, disse o executivo.
Jeressaiti também destacou que é preciso colocar o interesse coletivo acima do individual. “Cada geração precisa ser generosa com a próxima. Nossa geração, nunca viveu uma pandemia. Então, é preciso usar seus valores sobre o que é correto. Acho que as pessoas hoje não dissociam muito as lideranças corporativas dos seus negócios”, disse, acrescentando que uma das deficiências da sociedade brasileira é a falta de olhar para o coletivo.