Por Cinthya Malta e Patrick Cruz | Maior empresa de proteína animal do Brasil e do mundo, a JBS está ampliando o número de pontos de venda nos quais ajuda o varejista a administrar as áreas de carnes de boi e de porco – como cortar, embalar e expor na gôndola. A área do açougue, que tradicionalmente não era considerada algo nobre dentro dos supermercados, fica mais limpa, mais atraente e, assim, aumentam as chances de o varejista e a JBS venderem mais. O programa, que desembarca neste ano no Chile, reúne no Brasil 4 mil pontos de venda de carnes bovina, suína e frios, e a meta é chegar a 5,2 mil até dezembro.
O plano ganha importância quando se olha o balanço do primeiro trimestre da dona de mais de 150 marcas no mundo, entre elas Friboi e Seara. A receita da JBS Brasil (unidade que não inclui a Seara) recuou 14,9%, para R$ 12,2 bilhões, em relação a igual período de 2022. Foi em grande parte prejudicada pelo fechamento do mercado da China à carne brasileira por cerca de um mês, entre fevereiro e março. Mas o consumidor brasileiro também comprou menos: as vendas de carne bovina da JBS encolheram 5% de janeiro a março, mesmo com o preço médio tendo caído 6% em relação ao primeiro trimestre de 2022.
Os investidores na B3 reagiram ao resultado – no mundo, o lucro da JBS no primeiro trimestre de 2022, de R$ 5 bilhões, virou prejuízo de R$ 1,5 bilhão neste ano. O papel chegou a cair mais de 10%, no meio da manhã de sexta-feira. Chegou ao final do pregão em queda de 6,7%, cotado a R$ 16,14.
Melhorar a apresentação das carnes nos pontos de venda, com foco na marca Friboi, é uma estratégia que começou há 20 anos na JBS no Brasil e neste ano será adotada na rede Cencosud, a maior rede de supermercados do Chile.
Para fazer o mesmo com a carne de porco, a Seara, desde 2018, vem treinando açougueiros a fazer novos cortes e a embalar a carne. Também mostra como deve ser colocada na prateleira refrigerada.
O presidente da JBS Brasil, Gilberto Xandó, em entrevista ao Valor resume a estratégia da parceria com o varejo: “Melhoramos a apresentação do produto para atrair mais clientes, aumentar o tíquete médio e ganhar mais dinheiro.”
O preço da arroba do boi, que em cinco anos subiu de R$ 150 para R$ 300, pode cair, mas não volta mais ao patamar de R$ 150, diz o executivo. O preço alto exige, então, que o produto não seja apresentado como uma commodity. Daí a estratégia de gerir a categoria na ponta final do consumo, junto do varejista.
Na quinta-feira à tarde, antes de o balanço da JBS ser divulgado, o Valor perguntou a Xandó como vê o cenário ao longo deste ano, em meio a uma fraqueza generalizada nas vendas do varejo, com inflação alta e menos dinheiro no bolso da população. O executivo respondeu que “o consumo está se estabilizando. Estamos até mais animados com o Brasil do que em outros países. Estamos acostumados a lidar com inflação alta, juro alto. O que é preciso fazer é uma gestão cautelosa do capital”.
Sabemos lidar com inflação e juro alto. É preciso fazer gestão cautelosa do capital”
Perguntado como avalia o início do governo Lula, que ainda encontra dificuldades no Congresso Nacional para aprovar seus projetos, e como esse cenário pode afetar planos de investimentos no país, Xandó diz que o plano mais importante da JBS no país está sendo mantido: investir R$ 8 bilhões, de 2019 a 2024, em 15 fábricas da Seara para, entre várias iniciativas, expandir a capacidade instalada em 20%.
“É o maior plano de investimentos da companhia, para destravar o crescimento da Seara”, diz o executivo. Foi justamente na Seara que a companhia passou por uma “ineficiência operacional” no primeiro trimestre. Os produtores de frango in natura não entregaram a quantidade contratada, e a JBS teve, então, que postergar o recebimento para este trimestre. A produção de alimentos prontos não foi afetada, mas houve falta de aves in natura. A companhia informou que esse problema já está solucionado.
Nas demais áreas da companhia, não há necessidade de se elevar a capacidade de produção, disse Xandó. A JBS tem 120 fábricas e emprega 140 mil pessoas no país.
Na ponta do varejo, dentro do programa de treinar a mão de obra nas lojas e melhorar a apresentação dos produtos, a Seara tem três frentes neste ano, diz Xandó.
Na área de frios, a meta é aumentar em 50% o número de pontos de vendas, que hoje é de 310.
No plano batizado de “rotisseria”, a ser lançado na feira anual da Associação Paulista de Supemercados (Apas), que vai de 15 a 18 de maio, a ideia é vender produtos já prontos para consumir em 300 lojas até dezembro – frangos e lombos serão assados no ponto de venda.
“Sabe aquela televisão de cachorro?”, diz Xandó, rindo, referindo-se aos fornos verticais, com vitrine de vidro, que podem ser vistos em padarias pelo país. “O que vamos fazer é vender conveniência”, diz.
No programa Açougue Nota 10 – Seara Reserva, iniciado em 2018 com foco em carne de porco, o objetivo é aumentar em 30% o número de lojas parceiras, que hoje são 1.200. Xandó diz que o consumidor, que tradicionalmente consumia pouca carne de porco, vem comprando mais.
Segundo dados da consultoria Kantar, o mercado de suínos cresceu 25% no ano passado. A carne de porco está presente em 88% dos lares brasileiros – em 2020, a fatia era de 75%.
Sobre as lojas da marca Swift, de carnes, pescados e outros alimentos congelados, Xandó diz que a rede está com 640 unidades, sendo 240 funcionando dentro de outros varejistas. Há cerca de 10 anos, esta rede monomarca da JBS foi criada para que o consumidor perdesse o preconceito em relação a carnes congeladas. Uma parte dos brasileiros comprou a ideia, mas o consumo de carne congelada no país ainda é pequeno.
Fonte: Valor Econômico