O grupo Madero trabalha para lançar uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) em 2020, a partir do segundo trimestre do ano, quando será possível basear a operação no balanço consolidado de 2019, diz o sócio e fundador Luiz Durski Junior. O comando da rede de restaurantes projeta atingir lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda) de R$ 300 milhões neste ano — alta de 50% sobre 2018.
Durski Junior é o maior acionista da companhia. No começo deste ano, a gestora americana Carlyle adquiriu 23% da empresa, numa operação de R$ 700 milhões. O IPO deve ser porta de saída parcial do negócio para a gestora. Há ainda outros acionistas minoritários, como o apresentador Luciano Huck e diretores do grupo.
O plano de entrada na bolsa depende do ambiente econômico, com abertura de janelas no mercado, para que avance.
Internamente também há questões a considerar para esse plano, como a confirmação de cálculos de múltiplos e metas de Ebitda.
Em 2017, o Ebtida da Madero foi de R$ 104 milhões, segundo dados do balanço de resultados obtido pelo Valor. Para 2018, a projeção da companhia era alcançar entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões.
Segundo Durski Junior, o Ebtida chegou a R$ 198 milhões no ano passado e, considerando essa evolução, chegar a R$ 300 milhões em 2019 seria factível, diz.
Ao levar em conta esse patamar de Ebitda e um múltiplo de 14 vezes — seguindo como referência os múltiplos recentes da rede de fast-food Burger King Brasil — se chega a uma avaliação da empresa de pouco mais de R$ 4 bilhões em 2019, afirma o fundador da Madero.
“Se considerar o ano de 2020, quando projetamos R$ 350 milhões de Ebitda, aí o valor vai para quase R$ 5 bilhões”, diz Durski Junior. Quando o Carlyle comprou a participação na Madero, no início do ano, avaliou a empresa em R$ 3 bilhões.
O Burger King Brasil concluiu seu IPO em dezembro de 2017 e negocia seus papéis na bolsa a 17 vezes o seu Ebitda, que fechou o ano passado em quase R$ 290 milhões. O valor da empresa (que considera valor de mercado mais dívida menos o caixa) estava em R$ 4,8 bilhões no fim da semana passada.
A hipótese de venda de uma participação maior no capital ao Carlyle numa oferta secundária, com recursos indo para o bolso dos sócios, acabou descartada pelas partes envolvidas na operação.
“Se podemos receber mais num IPO daqui a um ano, considerando um ‘valuation’ [valor da empresa] em outro patamar, não faz sentido eu me desfazer de uma fatia maior agora”, diz Durski Junior.
“A negociação com o Carlyle resolveu uma questão de endividamento, de uma dívida que ficou cara, e que foi contratada na época porque era o acordo que conseguimos fechar [no início de 2018]”, acrescenta. Na ocasião, a Madero parou de buscar sócios no mercado e fechou uma emissão de debêntures de aproximadamente R$ 380 milhões com a gestora Hemisfério Sul Investimentos (HSI).
Esse acordo para entrada de recursos foi assinado depois de a alavancagem na Madero, medida pela relação dívida líquida sobre Ebtida, atingir 19 vezes em 2015 e 11 vezes no fim de 2016. O indicador chegou a cair com a alta do Ebitda em 2017, mas a empresa na época gerava fluxo de caixa livre negativo por causa do alto nível de investimentos, segundo dados do balanço. Em 2018, a rede emitiu R$ 380 milhões em debêntures subscritas pela HSI. Operações de emissão de dívida negociadas com a HSI chegaram a uma taxa de juros de 30% ao ano.
“Agora, essa dívida que atinge R$ 589 milhões está sendo liquidada com os recursos que entraram da negociação com o Carlyle e devem sobrar R$ 111 milhões no caixa”, afirma o fundador da Madero. A operação foi concluída com o Carlyle Partners VII, um fundo de US$ 18,5 bilhões.
Em 2019, dentro desse planejamento de dar ritmo mais forte aos resultados pré-IPO, a empresa precisa ganhar escala sem que isso tenha efeito negativo sobre o lucro operacional.
Aberturas muito aceleradas no varejo tendem a comprimir o Ebitda por causa do aumento da despesa operacional. O grupo Madero tem 141 restaurantes e encerrou o ano passado com receita bruta de R$ 1,2 bilhão, afirma Durski Junior. A empresa não publica seus balanços. O relatório de resultados de 2017, obtido pelo Valor, informa que a receita bruta foi de R$ 512 milhões naquele ano.
O grupo projeta 25 novos restaurantes Madero em 2019 e 20 unidades da rede Jerônimo, sua marca de preços mais acessíveis. A soma total dos investimentos previstos é de R$ 200 milhões, sendo parte oriundo dos recursos do fundo do Carlyle e o restante da geração de caixa da empresa.
Boa parte dos investimentos será destinada à unidade de produção da empresa em Ponta Grossa (PR), onde são preparados diversos itens da rede, como pães e cookies. Equipamentos devem ser comprados neste ano para elevar a produtividade e aumentar a eficiência.
Fonte: Valor Econômico