Empresa tem os melhores resultados desde o início da pandemia, com vendas que ultrapassaram os níveis de 2019
Por Luiz Henrique Mendes
A busca por casacos para aplacar o frio mudou o jogo para a Renner. Atingida em cheio pela covid-19, a varejista acaba de divulgar seus melhores resultados desde o início da pandemia, com vendas que superaram as de 2019.
Mesmo num trimestre ainda parcialmente contaminado pela segunda onda da covid-19 – boa parte das lojas ficou fechada até abril -, a Renner conseguiu crescer. Entregou uma receita líquida de R$ 2,2 bilhões no segundo trimestre, o triplo em relação inverno pandêmico do segundo trimestre do ano passado.
A comparação se torna ainda mais significativa com o mesmo trimestre de 2019, quando a Renner teve uma receita líquida de R$ 2 bilhões. De lá para cá, as vendas cresceram 11,8%.
“Até o início do trimestre, não conseguia operar em todas as lojas. Com a redução das restrições, conseguimos ter uma retomada importante. Tivemos um cenário muito difícil, mas o resultado mostra um novo momento”, disse o CEO da Renner, Fabio Faccio, ao “Pipeline”, site de negócios do Valor. Na última linha do balanço, o desempenho também melhorou. Excluindo o efeito tributário não recorrente que inflou o resultado líquido do ano passado, o lucro de R$ 193,1 milhões reportado pela Renner no segundo trimestre representa um salto de 184,7%. Considerando esse efeito, o resultado é 76% menor.
Ajudada pelo clima e pela coleção de outono/inverno, a Renner conseguiu recompor as margens. Ainda sofrendo com os reflexos do dólar apreciado, a companhia registrou margem bruta de 55% na operação de varejo, um salto de 10 pontos na comparação anual.
A margem ainda está abaixo do segundo trimestre de 2019, quando chegou a 56,4%, em parte refletindo os investimentos que a Renner vem fazendo no e-commerce.
“Se o cenário ainda não foi totalmente favorável e mesmo assim, conseguimos esse resultado, imagina com a expectativa positiva”, frisou Faccio, animado com a evolução da vacinação contra a covid-19.
As iniciativas de transformação digital e o uso de dados para conhecer melhor o cliente começam a mostrar o potencial. “A ominicanalidade faz muito sentido para os clientes”, diz o CEO. Os gastos dos consumidores que usam mais de um canal já são três vezes maiores.
Com 85% das vendas identificadas por cliente, a Renner vem conseguindo customizar a oferta para cada tipo de clientes. Os dados também mostram que consumidores de mais de uma marca do grupo – Renner, Camicado, Ashua – gastam de seis a sete vezes mais que aqueles que só são clientes de uma das marcas.
Aos poucos, a Renner vem testando o modelo de marketplace (shopping center virtual). Desde maio, um piloto está em operação, e os números de vendedores (sellers) na plataforma vem crescendo. “Começamos com cinco sellers, fomos para 10, 12 e agora temos em torno de 50, subindo com calma e qualidade”, disse. A ideia é chegar a 100 até o fim do ano. No marketplace da Camicado, são 120 sellers e a objetivo é atingir 200 ainda em 2021.
Com o caixa recheado após a oferta subsequente de ações de R$ 4 bilhões feita em maio, a Renner evita detalhar a forma como vai investir o dinheiro. Aquisições, como a do brechó online Repassa, fazem parte, mas o dinheiro também será usado em investimentos orgânicos, sobretudo na área digital.
Como os recursos dessa oferta devem ser aplicados gradualmente (até o fim do ano que vem), a Renner terminou junho com alavancagem negativa. A companhia tinha em caixa R$ 5,6 bilhões para uma dívida bruta de R$ 3,4 bilhões, uma situação confortável para as temporadas pela frente. A Renner vale R$ 36,2 bilhões em bolsa.
Fonte: Valor Econômico