O empreendedorismo surgiu como uma oportunidade inesperada na vida de Ronald Heinrichs. No final de 2012, a empresa em que ele trabalhava, a catarinense Celulose Irani, colocou à venda a unidade de negócios que Heinrichs dirigia há três anos — a Meu Móvel de Madeira. Encarregado de encontrar um investidor para o negócio, Heinrichs chamou o desafio para si. E, ao lado da esposa Kathlen, comprou o e-commerce do patrão.
Seis anos depois, a Meu Móvel de Madeira entrega 2 mil móveis pelo país, abriu uma operação na Europa, onde distribui seus produtos para mais de 10 países, e conseguiu caixa suficiente para adquirir uma concorrente de prestígio. Por um valor não divulgado, a empresa catarinense comprou 100% da paulista Oppa. Morando na Alemanha, onde estrutura a operação europeia, Heinrichs já faz planos de levar para lá os produtos da Oppa. Antes, porém, ele precisará arrumar a casa por aqui.
Com foco maior em design, a Oppa foi criada em 2011 pelo alemão Max Reichel, com aporte dos fundos Monashees e Kaszek (que tem Peter Thiel, um dos criadores do PayPal, como sócio). Sua estratégia foi montar uma rede criativa de profissionais, com estúdio próprio, para produzir móveis com belo design a preços relativamente acessíveis. Nos últimos anos, a Oppa abriu lojas para expor seus produtos em vários estados brasileiros. A empresa cativou um público mais jovem, ávido por suas decorações coloridas e criativas. “A Oppa conseguiu destaque muito rápido no mercado, com a criação de marca muito legal e ótimo posicionamento”, disse Heinrichs.
Problemas de gestão, contudo, acarretaram em falhas na operação. É fácil encontrar nas redes sociais da marca indícios de entregas não realizadas, clientes insatisfeitos e centenas de reclamações. Showrooms também fecharam as portas. Foi então que os fundos controladores da Oppa acionaram Heinrichs. Convocaram o empresário — até aquele momento um concorrente direto — para reuniões no fim de 2017, a fim de estabelecerem possíveis sinergias de negócio. “A Oppa enfrentava, infelizmente, dificuldades na operação e eles me procuraram para buscar uma solução, uma possível parceria.” Foi quando Heinrichs repetiu a (sua) história. Em vez de buscar uma solução para a Oppa, comprou a empresa. “Em 2011, quando o mercado de e-commerce de móveis estava borbulhando no país, surgia uma marca que desafiaria a MMM [Meu Móvel de Madeira] a fazer ainda mais com menos. Depois de alguns anos disputando mercado, agora estamos juntos.”
MMM: de Rio Negrinho para Alemanha
Criada dentro de um grupo grande, no maior polo moveleiro do Brasil (Santa Catarina), a Meu Móvel de Madeira cresceu com a proposta de utilizar exclusivamente madeira de reflorestamento como matéria-prima. Ao comprar a empresa da Celulose Irani, em 2012, Heinrichs ampliou a rede de fornecedores, para um raio de até 40 quilômetros das cidades de Rio Negrinho e São Bento. Percebeu que vender móvel com design bonito pela internet não daria certo se fosse desprezado um fator fundamental: o preço final dos itens.
Para conseguir produtos a preço atrativos — sem abrir mão de uma madeira plantada, que custa mais caro —, Heinrichs e a esposa investiram em 2014 em uma rede de logística própria no Rio de Janeiro e em São Paulo. A partir dela, foi possível entregar mais rápido e oferecer experiências ao cliente para além do móvel, como entrega agendada no dia e turno desejados. “A inovação vai além de criar um produto em si. Precisa perpassar todas as áreas do negócio. E conseguimos ser mais bem-sucedidos quando passamos a ter nossa entrega própria”, diz.
A partir desta rede, explica o empresário, a Meu Móvel de Madeira conseguiu não só diminuir custos e entregar mais rápido, como inovar nas embalagens. Ao embalar um móvel em várias caixas, permitiu ao cliente montá-lo aos poucos — ocupando o mínimo espaço possível. “É contraproducente falar que você precisa de um espaço três vezes maior para montar um móvel que você só comprou por ter um espaço reduzido.” Heinrichs também optou por não inventar moda. Diz preferir criar o básico — se for funcional e oferecer preços atrativos. “Vemos aqueles vídeos que viralizam na internet com mesas que se transformam em várias outras. A ideia é linda. Mas o custo final do produto fica inviável para o público brasileiro.”
Em 2016, Heinrichs decidiu investir no exterior e montou uma base na Alemanha para exportar e distribuir produtos. Fez algumas adaptações, como abreviar o nome brasileiro — na Europa, a marca agora é Memomad — e mudar medidas de camas, para adaptá-las ao padrão do colchão europeu. Conseguiu uma logística, garante, que entrega um produto em até cinco dias na Alemanha. O portfólio europeu, que já é distribuído em doze países, oferece por enquanto 40 produtos da marca. A receita vinda do exterior já responde, segundo o empresário, a 10% do faturamento total. Este, aliás, é o único número que ele revela sobre a empresa. “Não posso abrir números agora.”
MMM e Oppa
Na semana que vem, Heinrichs desembarca no Brasil para ajudar a arrumar a casa da Oppa e estruturar a nova configuração do grupo. A logística da Meu Móvel de Madeira já está sendo utilizada para “resolver problemas de entrega da Oppa”. Além disso, os departamentos de operações, de controle de qualidade e compra estão sendo unificados. As marcas já compartilhavam grande parte dos fornecedores, em Santa Catarina. Do lado de fora das empresas — na vitrine virtual que o público terá acesso —, o empresário afirma que as marcas atuarão de forma independente. A Oppa, focada no público mais jovem, a Meu Móvel, no público mais conservador, que preza a sustentabilidade. Seis anos depois de deixar de ser funcionário para virar empresário, Heinrichs comanda agora um novo grupo que irá reunir 150 empregados e um portfólio de cerca de 5 mil itens de decoração e móveis.
Fonte: Época Negócios