Altino Cristofoletti Junior, 56 anos, sócio-fundador da rede de franquias de aluguel de equipamentos Casa do Construtor, já é tido como o próximo presidente da ABF (Associação Brasileira de Franchising). Ele é líder da única chapa que concorre à diretoria da entidade para o biênio 2017/2018. No dia 23 de novembro, os associados deverão confirmar a eleição em uma assembleia coletiva. Atual vice-presidente da associação, Cristofoletti vislumbra um setor mais maduro, composto por empresas com foco em gestão e resultados, mas com um olho na inovação. Para isso, irá promover a aproximação das franquias com startups, jovens estudantes e empresas de alto impacto. Confira a entrevista exclusiva que o franqueador deu a Pequenas Empresas & Grandes Negócios.
Como você avalia o franchising brasileiro hoje?
No ano que vem, a ABF completa 30 anos. Ao longo do tempo, o sistema amadureceu – não só os franqueadores, mas também os franqueados e os fornecedores. Além disso, a última crise econômica fez com que as empresas tivessem mais foco em gestão. Isso proporcionou o crescimento no número de unidades e a consolidação das marcas que estavam mais estruturadas. No futuro, o amadurecimento deverá levar a um processo de reorganização. Hoje, existem mais de 3.000 redes no Brasil. Os Estados Unidos têm menos marcas, cerca de 2.000. Mas, enquanto no Brasil a média de unidades por rede é de 40, 45, lá são 400. Essa concentração deve ocorrer por aqui.
Na última década, houve fusões e aquisições no setor, além da entrada de fundos de investimento. Isso deve se manter?
É uma tendência. Muitas redes vão perceber as vantagens da sinergia com outros segmentos, como uma livraria que tem uma franquia de café. O Brasil entrará novamente no radar das empresas de fora. As redes serão abordadas por fundos. Por isso, a gestão das franquias precisa ser mais profissional e pautada por resultados e indicadores.
O amadurecimento dos franqueados trouxe a figura do multifranqueado, que tem mais de uma unidade. Isso mudou as relações no setor?
Com os multifranqueados, o sistema fica mais equilibrado e mais focado em resultados. Ele é um franqueado que tem papel importante como referência para quem está começando. Na Casa do Construtor, há empreendedores que querem abrir a segunda ou a terceira unidade, mas não estão preparados para isso. Então é um desafio para eles. Precisam pensar em gestão, em fazer a administração de uma rede. A relação entre franqueador e multifranqueado é mais madura, de interdependência. Eles sabem que, juntos, podem conquistar mais. Isso facilita muito as relações.
Quais são as suas propostas como candidato a presidente da ABF?
Nós propomos três pilares. O primeiro é o protagonismo. A associação precisa olhar para as questões que regulam a economia brasileira. Por exemplo, a tributação pelo Simples, do qual a maioria das empresas é optante. O sistema precisa permitir que elas cresçam sem se preocupar em ultrapassar o limite de faturamento. O segundo pilar é a sustentabilidade das marcas e do sistema. Queremos promover a interiorização e a internacionalização, além de trazer marcas de fora. E, no pilar de educação, vamos renovar o projeto de formação de pessoas que temos em parceria com o Sebrae. Queremos também trabalhar mais com educação a distância e aproximar a entidade das universidades, para que os alunos de administração tenham o franchising como área de trabalho.
O franchising prima bastante pela longevidade e pela continuidade dos negócios. Como as empresas do setor podem inovar?
Estamos interagindo com outras unidades, participando de eventos de marketing digital, por exemplo. Queremos que os jovens e as empresas inovadoras tenham mais convívio com o franchising – e também levar o pensamento das franquias para esses segmentos. Os jovens inovadores têm muitas ideias, mas nem sempre têm a estrutura própria das franquias. Então esse casamento pode ser muito rico. Também trazemos as experiências que vemos fora do Brasil. O evento anual da National Retail Federation, nos Estados Unidos, mostra práticas como o uso de RFID [identificação por radiofrequência] e outras tecnologias no ponto de venda. Em 2017, faremos a nossa primeira missão para a Euroshop [evento de tendências do varejo realizado na Alemanha]. Teremos também uma aproximação grande com a Endeavor, para trazer a experiência do empreendedor de alto impacto para os franqueadores e os franqueados. É promovendo a interação de experiências e olhares que se cria simbiose e chega à inovação.
Quais são as características pessoais que você levará para a presidência da ABF?
Eu gosto muito de ouvir, de trazer pessoas para dentro. Minha tônica é de escutar sem nenhum crivo, sem nenhuma peneira, para despertar possibilidades. Assim as pessoas se sentem corresponsáveis pela construção das soluções. Elas se engajam mais. Eu também gosto muito de aprender. Tenho um olhar para sistematizar e transformar os aprendizados em processos. Isso vai ter resultado dentro da entidade, tanto na profissionalização interna quanto na forma de produzir conteúdos para o setor. Agora, não é o Altino sozinho quem vai fazer isso. Serei um mero regente.
Quem mais está na sua chapa?
O vice-presidente é o Alexandre Guerra, do Giraffas. O diretor administrativo-financeiro é o Carlos Sadaki, da Trend Foods. O advogado Fernando Tardioli permanece como diretor jurídico. Na área de educação, entra Décio Pecin, do CNA. O diretor de marketing é o Ronaldo Pereira Junior, das Óticas Carol. O multifranqueado Alberto Oyama é diretor de franqueados. A cadeira de microfranquias irá mudar e se chamar diretoria de novos formatos. Será de Adriana Auriemo, da Nutty Bavarian. As relações institucionais ficarão a cargo de Juarez Leão, e a diretoria internacional permanecerá com André Friedheim. Temos um grupo de franqueadores maduros e profissionais comprometidos com a entidade há anos.